Há cerca de dois anos 106 árvores do trecho central da Avenida Goiás, via símbolo da história de Goiânia, estão marcadas para morrer. Pedido neste sentido foi feito à Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) pelo consórcio à frente das obras do BRT. Embora o tema tenha gerado polêmica na época, até o momento não há uma definição da totalidade de espécimes que serão retiradas em um universo das 660 existentes na via, entre a Avenida Independência e a Praça Cívica. O órgão ambiental aguarda parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre as intervenções no trecho para se manifestar a respeito do número de árvores que poderão ser removidas.Em 2019 a Amma chegou a autorizar a remoção de 71 unidades de vegetação na Avenida Goiás, entre palmeiras e árvores, das 106 solicitadas pelo consórcio do BRT. Entretanto, de acordo com a engenheira agrônoma Jarina Padial Machado, analista da pasta, o então responsável pelo consórcio do BRT se negou a assinar o termo de compromisso, invalidando a decisão. “De lá para cá o projeto deste trecho passou por duas outras modificações. Estamos aguardando o Iphan se manifestar na proposta que foi encaminhada ao órgão em janeiro para emitir o parecer da Amma sobre a retirada das árvores.”Gerente de Arborização Urbana da Amma, o biólogo Leandro Georges explica que o pedido de retirada dos exemplares arbóreos foi baseado na necessidade de construção das três estações de embarque e desembarque e seis plataformas do BRT. “A autorização é feita mediante a substituição por outras árvores, possivelmente ao término da construção. As espécies que serão utilizadas na reposição terão de ter densidade da copa equivalente às que forem retiradas, embora com troncos mais finos porque o canteiro será reduzido entre a pista de rolamento e as estações e plataformas.”O gestor da Amma afirma que desde o lançamento do projeto do BRT a Avenida Goiás preocupa a pasta. “Nosso objetivo é que o paisagismo da via seja modificado o mínimo possível exatamente por sua história, mas o BRT é uma obra de utilidade pública.” Leandro Georges explica que as espécies plantadas no trecho são quase todas nativas do Cerrado, como palmeiras de guariroba, ipês e nós de porco. “As que forem removidas serão substituídas também por espécies do Cerrado.” A Amma exige que, a cada árvore retirada, 15 precisam ser plantadas como compensação ambiental. Se isso não for possível na própria via, as mudas serão levadas para uma área verde próxima. Até o momento, em todos os trechos das obras do BRT foram removidos 1.949 exemplares, de acordo com o órgão ambiental. Isso significa que a compensação ambiental total será o plantio de 34.148 mudas, das quais 6.139 já foram repostas em trechos prontos, de acordo com levantamento da Amma.“Na Avenida Goiás Norte, próximo à Perimetral, os ipês plantados dentro da compensação ambiental estão lindos”, declara Leandro Georges. O gerente de Arborização Urbana explica que às vezes a retirada da espécie é necessária até para resguardar a população. “Na Avenida Goiás, no Setor Urias Magalhães onde havia muitos flamboyants, enfrentamos muitas críticas, mas durante as obras as raízes foram cortadas. Não podíamos deixar essas espécies porque havia o risco de, mais tarde, caírem em cima de carros.”Reportagem do POPULAR publicada na sexta-feira (12) mostra que há lentidão no avanço das obras do BRT iniciadas em 2015. No primeiro semestre do ano passado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pediu a suspensão dos trabalhos na Avenida Goiás para analisar possíveis impactos nos bens históricos tombados no local depois que trepidações causaram um desplacamento de um elemento artístico da Torre do Relógio. O órgão liberou a pavimentação no trecho onde fica o patrimônio tombado, entre a Rua 1 e a Praça Cívica, o que deve ocorrer somente após o período chuvoso.Sobre a remoção do verde, o Iphan informou que irá apresentar à Amma as condições que garantam a preservação dos bens tombados. O engenheiro Walquenio Vicente Cavarzan, fiscal gestor da obra do BRT, informou ao POPULAR que a retirada das árvores irá ocorrer somente quando forem construídas as estações e plataformas. Para isso aguarda a aprovação de projeto encaminhado ao Iphan.O Iphan ainda não analisou o impacto das obras do BRT na Praça Cívica que é tombada na sua integralidade porque não recebeu o detalhamento das propostas de intervenção na região. A preocupação do Iphan é que as estações a serem construídas ali não desconfigurem o traçado original de Goiânia criado pelo urbanista Attílio Corrêa Lima e nem maculem a paisagem composta por prédios construídos nos primórdios da capital. No entorno da Praça Cívica, conforme a Amma, há aproximadamente 65 árvores, mas o órgão ainda não recebeu nenhum pedido para remoção de vegetação na área. Paisagem e microclima têm impacto negativoEm 2003, um projeto paisagístico foi implantado na Avenida Goiás com a assinatura do arquiteto e urbanista Jesus Cheregati que venceu concurso realizado pela Prefeitura de Goiânia para revitalizar a via. Foi nesta época que foram plantadas ali as espécies nativas do Cerrado que garantiram beleza e sombra, permitindo que a população se apropriasse do amplo espaço. Em 2018, nove urbanistas ouvidos pelo POPULAR elegeram a via como a melhor via da capital. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) de Goiás vem acompanhando as obras do BRT e já manifestou preocupação com a possibilidade de descaracterização do projeto de revitalização implementado na Avenida Goiás no início da década. “A retirada das árvores gera impacto negativo sob vários aspectos, na paisagem, no microclima, na drenagem urbana e no patrimônio, que inclui os jardins da Avenida Goiás que deveriam ser intocáveis”, afirma Maria Ester de Souza, ex-conselheira do CAU e atual presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca).Para Maria Ester à medida em que árvores são trocadas por elementos de concreto, a cidade fica menos bucólica, menos aprazível. “Há uma identificação da população com o lugar.” A ex-conselheira do CAU lembra que o assunto já foi debatido com a Prefeitura. “O projeto do BRT já foi alterado várias vezes. Nunca sabemos o que está sendo proposto. A impressão que fica é que a árvore atrapalha. O Terminal Isidória, por exemplo, não contempla uma única árvore.”