A extorsão ao organizador da segunda maior festa religiosa do País em mais de R$ 2 milhões acabou na condenação de cinco pessoas, na última quarta-feira (13) pelo juiz Ricardo Prata, da 8ª Vara Criminal de Goiânia.Com imagens e mensagens eletrônicas, que segundo a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) são montagens, o grupo capitaneado por Welton Ferreira Nunes Júnior, chantageou Robson de Oliveira Pereira, o padre Robson, reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, expondo o que seria a existência de patrimônio oculto e um suposto relacionamento amoroso com uma funcionária da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), da qual é fundador.Com o codinome de Detetive Miami, Welton e Túlio Cézar Guimarães mandaram mensagens ao padre, informando que haviam sido contratados para invadir e-mails, conversas por aplicativos e ligações e, se ele pagasse mais do que a pessoa que havia contratado a dupla, R$ 1,5 milhão, entregariam o material coletado e indicariam o nome da pessoa que os teria contratado. Começava aí a sequência de extorsões citadas pelo Ministério Público no processo, totalizando cinco ocasiões.Na primeira extorsão, ocorrida entre 23 e 29 de março de 2017, “Detetive Miami” indicou que uma pessoa de sua confiança que encontraria o religioso na residência provincial da Congregação do Santíssimo Redentor, no Setor Leste Universitário, em Goiânia, para receber R$ 700 mil como sinal de boa fé. Padre Robson, no entanto, já havia acionado a Polícia Civil, que monitorou o encontro com o emissário, que seria o tio de Welton, o policial militar reformado Deusmar Gonçalves Bessa, que foi abordado pelos policiais civis. Foi nesta situação que a polícia descobriu que o hacker em questão era Welton.Após a abordagem, os policiais acompanharam Deusmar até a casa em que estava hospedado, de propriedade de Welton, onde se encontrava Leidina, mãe de Welton. Os dois, mais a mulher de Deusmar, foram então levados para prestar depoimento.Ao saber que seus familiares estavam na delegacia, que foram ouvidos e liberados, Welton teria intensificado as ameaças contra o padre, solicitando um depósito de R$ 2 milhões. Sob orientação da Polícia Civil, o padre realizou duas transferências da conta da Afipe, cada uma de R$ 1 milhão, mas os recursos foram bloqueados por suspeita de fraude pelas instituições financeiras. Servidores da associação também informaram da extorsão aos bancos. No entanto, foram realizados dois saques nos valores de R$ 210 mil e R$ 95 mil.Com o bloqueio das transferências, as chantagens continuaram, sendo que Welton e Túlio Cézar solicitaram o pagamento de R$ 500 mil, até a liberação do restante do valor combinado. O dinheiro deveria ser colocado em um Gol Vermelho, que estava em frente ao residencial Jardins Valença, na capital. “Padre, é melhor você acertar comigo, padre, se não você nunca mais terá paz”, aponta mensagem enviada ao padre.As denúncias no entanto, não cessaram. Nos dias 9 e 10 de maio foram realizados outros depósitos, dessa vez na conta do tio de Welton, Deusmar, que totalizaram R$ 80 mil. Ainda por causa do bloqueio do valor total, Welton e Túlio Cézar teriam combinado o pagamento mensal de R$ 50 mil por semana, durante um período de 7 semanas, sempre às segundas-feiras, no estacionamento do Shopping Cerrado, que teria sido colhido por Elivaldo Monteiro de Araújo, policial civil e sócio de Welton. Segundo o MP, “embora Tulio Cézar tenha negado qualquer participação nesta extorsão, as provas produzidas nos autos deixam claro que, assim como ocorreu nas demais extorsões, agia o tempo todo em conjunto com Welton.”Juiz determina indenização de R$ 1,14 milhão e penas que vão de 8 a 16 anos de reclusão Em sua decisão, o juiz Ricardo Prata condenou Welton Ferreira Nunes Júnior a 16 anos, 4 meses e 20 dias de reclusão e 51 dias-multa. Já a condenação de Túlio Cezar Pereira Guimarães foi de 15 anos e 6 meses de reclusão e 46 dias-multa, enquanto a de Lidina Alves de Bessa foi de 13 anos, 3 meses e 10 dias de reclusão e 36 dias-multa. Já Elivaldo Monteiro de Araújo foi condenado a 8 anos e 8 meses de reclusão e 20 dias-multa, e Deusmar Gonçalves de Bessa a 9 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão e 23 dias-multa. Além disso o juiz determinou o pagamento do mínimo indenizatório, no valor de R$ 1,140 milhão, ponderando que Welton, Túlio e Leidina devem responder solidariamente por esse valor, “enquanto que os demais acusados na proporção de suas atuações nos ilícitos penais, ou seja, Elivaldo até o importe de R$ 350 mil e Deusmar no valor de R$ 80 mil.Welton já fugiu da Deic pela porta da frenteWelton Ferreira Nunes Júnior ficou conhecido em julho de 2016, quando foi deflagrada pela Polícia Civil a Operação Rei do Gado, que apurou as ações do grupo do rapaz, que era envolvido com roubo de gado em Goiás. Ele, que já detinha na época um patrimônio milionário, conforme a polícia, fugiu pela porta da frente da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) dias depois de ter sido preso. O fato gerou a suspeita imediata de que ele teria se beneficiado da ajuda de algum policial mediante pagamento de propina. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) investigou a fuga, na época. Ele só foi recapturado um ano depois, no dia 30 de junho do ano passado, no Rio de Janeiro, depois de já iniciada a apuração da extorsão sofrida por padre Robson e descoberto, então, que ele estaria por trás de mais esse caso. (G.R)Afip diz que valores voltaram à instituiçãoPor nota, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) informou que o padre Robson de Oliveira acionou a Polícia Civil assim que “as mensagens falsas foram criadas”, que a entrega do dinheiro no episódio foi orientada e supervisionada pela polícia para identificar e localizar todos os criminosos, e que a associação não teve prejuízo financeiro já que todo o valor voltou para a instituição. A nota reforça que perícia da Polícia Civil concluiu que todas as mensagens foram criadas por aplicativos e sites “próprios para simular conversas e criar fake news” e pontua que os criminosos fazem parte de uma quadrilha profissional e a condenação ocorreu também pela prática de crimes contra outras pessoas e entidades. A associação ainda esclareceu que não havia se manifestado anteriormente pois atendia a uma determinação judicial, a qual decretou sigilo absoluto. Como o processo estava em segredo de Justiça, os nomes dos advogados dos condenados não estavam disponíveis. A reportagem conversou com dois deles, que pontuaram que ainda não tinham tido acesso à integra da sentença, mas consideraram a pena elevada, e que provavelmente recorreriam após a avaliação integral da decisão do juiz.