O padre Robson de Oliveira Pereira, de 47 anos, voltou a usar as redes sociais após mais de um ano sem atualizações. Na noite de domingo (19), ele usou sua conta no Instagram para divulgar um canal criado no Youtube no qual desde o dia 17 vem divulgando orações pela manhã e no período noturno. Nesta segunda, o post no Instagram já tinha mais de 1,3 mil comentários, a grande maioria o saudando. Apesar de não fazer referências diretas às investigações das quais é alvo no Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e da Polícia Federal, o padre fala nos vídeos sobre perdão e julgamentos alheios. Na benção publicada na noite de domingo, Robson cita a história de Maria e José para tratar sobre acontecimentos que podem nos surpreender e nos levar a avaliações equivocadas.“Muitas vezes, meu irmão, minha irmã, nós também não compreendemos os desígnios de Deus para nossa vida, as ações do Senhor em nossa vida. Muitas vezes não entendemos e ficamos até perdidos diante de alguns acontecimentos e fatos que nós não compreendemos, não conseguimos nem mesmo racionalizar e, portanto, ficamos perdidos. Coisas acontecem em nossas vidas e acabam criando marcas, acabam deixando surpresas, acabam nos pegando de surpresa. Por isso que, diante daqueles fatos em nossa vida que não sabemos explicar e também na vida dos outros que não conseguimos compreender, é preciso aqui o ensinamento de José: submissão na oração, no silêncio e na escuta. Devemos nos colocar e colocar também as pessoas na mão de Deus e deixar que ele guie nossos corações”, fala o religioso no vídeo dominical.A fala é parecida com o que ele escreveu no Instagram junto com a publicação em que divulga o canal no Youtube: “Por vezes, acabamos não compreendendo os desígnios de Deus em nossa vida! Muitas vezes, ficamos até perdidos diante dos acontecimentos e dos fatos que não compreendemos, que não entendemos. É preciso aprender com São José a submissão a Deus na oração e no silêncio da escuta.”Ao todo já foram publicados no Youtube cinco vídeos, nenhum cita o processo, mas em dois deles há a hashtag #voltapadrerobson. O canal foi criado no dia 25 de agosto deste ano, mas o primeiro vídeo foi publicado apenas em 17 de dezembro. A primeira oração divulgada aparece com a seguinte mensagem: “Esta é uma bênção especial para todos aqueles que amam a Deus e buscam servi-lo com coração sincero. Espero que goste! Deixe seu like e increva-se no canal. Bênçãos sobre você e sua família!”A reportagem ouviu os cinco vídeos, e em todos o padre só aparece em fotos. Não é possível saber se os áudios foram gravados recentemente. Não há identificação do autor do canal.Em um dos textos que acompanham o vídeo, o autor do canal fala sobre avaliações injustas que as pessoas podem fazer sobre terceiros. “Regra de ouro da vida! Jesus está nos dizendo o que não podemos nos esquecer: com a medida que nós medirmos os outros é com essa medida que Deus vai nos medir. É essa a justiça de Deus. A verdade é que nós quase nunca sabemos nos colocar no lugar do outro, pois sempre nos colocamos ou olhamos a partir de nós, das coisas e situações à nossa maneira e acabamos julgando muitas vezes de modo injusto. Peçamos, hoje, pela força da Palavra de Deus, que Ele nos conceda a justa medida para sabermos medir uns aos outros como Deus nos mede. Deus abençoe você!”, aparece escrito em uma das publicações no Youtube.A última publicação, em sua conta no Instagram, havia sido feita no dia 23 de agosto de 2020, logo no começo da Operação Vendilhões, quando foi revelada uma investigação iniciada ainda em 2018 pelo MP-GO contra o religioso, suspeito de liderar um grupo que desviava recursos oriundos de doações de fieis para a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade criada e presidida, até então, pelo padre. Padre Robson é alvo de duas investigações atualmente. Uma delas, a do MP-GO, se encontra em uma disputa no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre questões formais de prosseguimento entre a defesa do religioso e os promotores responsáveis pelo caso. A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) trancou em outubro de 2020 o processo contra o padre dando razão ao argumento da defesa de que o MP-GO não teria competência legal para este tipo de investigação. Em decisão mais recente, o STJ manteve o bloqueio. Para a defesa, o processo que resultou na Operação Vendilhões já está arquivado.Já no primeiro semestre de 2021, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) apuram por determinação do STJ a suspeita de propina paga pelo religioso a magistrados goianos para favorece-lo em um processo que tramitava no Judiciário goiano envolvendo a compra de uma fazenda pela Afipe quando ainda era presidida pelo padre. A PF chegou a pedir a prisão do padre em novembro deste ano e, segundo a defesa, o pedido foi negado.*Atualizado às 19h48