Atualizada às 21h20Em 2022, a média geral da nota de corte dos cursos da Universidade Federal de Goiás (UFG) que ofereceram vagas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) caiu. Neste ano ela foi de 661,61, enquanto em 2021 ficou em 667,09. Dos 94 cursos, 50 apresentaram queda na nota de corte – considerando apenas os candidatos não incluídos em nenhum tipo de cota. A redução foi maior nos cursos de licenciatura. A média dos cursos de bacharelado sofreu uma queda de 4,92 pontos. Já a dos de licenciatura caiu 8,78 e a nos cursos com Área Básica de Ingresso (ABI) a redução foi de 5,64 (veja quadro). Especialista aponta que queda reflete o impacto da pandemia da Covid-19 no sistema de ensino. A coordenadora do Comitê Goiás da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Fabiane de Oliveira, diz que o número é resultado de um cenário onde uma grande parcela dos estudantes não tiveram acesso às aulas e consequentemente à aprendizagem. “As quedas podem ser observadas em muitos estados. A desigualdade educacional atingiu grandes proporções e desta forma será preciso um maior investimento para que sejam recuperados déficits educacionais.” De acordo com ela, os números apontam para um cenário de queda de investimentos do governo federal atual com relação à educação, sobretudo a pública. “Nesses dois anos de pandemia ele (governo) não destinou recursos apropriados para o acesso dos estudantes, acesso às tecnologias, que foram tão necessárias)”, explica. O número de cursos cujas maiores notas tiveram queda é menor: 45 dos 94. Dos dez com maiores notas de corte, sete também aumentaram a melhor nota. Os cursos de período integral e noturno foram os que tiveram maior queda na nota de corte. Na média, os primeiros perderam nove pontos enquanto os que ocorrem à noite quase 11 pontos. Já os matutinos e vespertinos ficaram praticamente estáveis. A nota de corte, por turno, aparece na seguinte ordem: integrais (677,06, em média); matutinos (660,75); vespertinos (657,04); e noturnos (638,47). A mesma verificada em 2021. Levantamento feito pelo POPULAR não encontrou no site do Sisu as notas obtidas nos cursos de Educação Física ofertados pela UFG. Também não entraram no levantamento os cursos das universidades federais de Catalão (UFC) e de Jataí (UFJ), pois desde 2018 possuem câmpus independentes. O destaque nesta lista é a melhor nota do curso de Letras/Português (licenciatura matutino). Uma candidata conseguiu 808,43, o que permitiria que ela entrasse em qualquer curso da UFG. A segunda melhor nota deste curso foi 719,5. No ano passado, o melhor candidato em Letras/Português obteve 747,85. Neste ano, entre os dez cursos com maior nota de corte estão aqueles tradicionais como Medicina, Direito, Psicologia e Odontologia. Fabiane aponta que a manutenção destes cursos entre os mais disputados é um reflexo das demandas da sociedade. “Eles demonstram quais as demandas da sociedade no que diz respeito a serviços que ficaram evidentes na pandemia.” Na lista dos dez cursos com maiores notas de corte, entrou o de Ciências da Computação e saiu o de Direito do câmpus da cidade de Goiás. Destes dez, seis são de período integral. Considerando os dez com menores notas de corte, saíram Ciências Ambientais, um de Química (licenciatura noturno) e Biblioteconomia, e entraram dois de Geografia (licenciatura matutino e noturno) e um de Pedagogia (licenciatura noturno). Entre os dez cursos com entrada mais disputada, apenas dois tiveram redução na nota de corte. Psicologia teve uma diferença de 0,98 pontos e Inteligência Artificial de 5,27. O diretor do Colégio Simbios, Adriano Medeiros, afirma que já era esperada uma queda na nota de corte dos cursos em geral, exceto naqueles mais concorridos como é o caso de Medicina, que teve o aumento de 1,3 ponto, e Direito, que aumentou 4,45 pontos. Ele explica que os estudantes que desejam entrar nesses cursos normalmente estão mais bem preparados e possuem um desempenho melhor no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que mantém a nota de corta alta. “Aqui recebemos alunos de escolas públicas e vemos como a pandemia afetou a aprendizagem deles. Nesse sentido, quem tem acesso a um ensino de qualidade maior, mesmo sendo no formato híbrido consegue ter um desempenho melhor”, esclarece. Um dos alunos de Medeiros, o estudante João Pedro Ferreira, de 19 anos, tirou 832,36 no Enem. Ele foi o segundo colocado no curso de Medicina da UFG. Ele disse que não esperava que a nota de corte do curso fosse subir muito de 2021 para 2022. “Como ela já estava bem alta, achei que ia se manter”, diz. Licenciatura Além da média da nota de corte dos cursos de licenciatura ter sido a que sofreu a maior queda, apenas dois cursos de licenciatura estão entre os dez com maiores aumento do ponto de corte. Entretanto, quatro estão entre os dez cursos que tiveram as maiores quedas da nota. Fabiane diz que, como um todo, este cenário reflete a falta de valorização da profissão de professor. "Mesmo com a aprovação de políticas públicas para destinar o pagamento de profissionais de educação, é sabido que sem a suplementação do governo federal, estados e municípios terão muita dificuldade em cumprir a legislação em vigor. E o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que seria utilizado para esse fim, foi fracionado. Isso com certeza reflete na escolha profissional”, finaliza.-Imagem (1.2407589)