Uma parceria firmada entre a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Escola Senai da Vila Canaã e a Orbis Engenharia Clínica já recuperou mais de 120 aparelhos respiradores desde o início da pandemia, em março de 2020. Os equipamentos foram compartilhados em hospitais que atendem Covid-19 espalhados pelo Estado em cidades como Goiânia, Itumbiara, Santa Helena, Aparecida de Goiânia, Inhumas e Senador Canedo. A Escola da Vila Canaã é um dos 45 pontos do país que foram destinados para recuperação de respiradores pulmonares dentro do projeto Iniciativa + Manutenção de respiradores do Serviço Nacional e Aprendizagem Industrial (Senai) Nacional.Em Goiás, a parceria contou com apoio da universidade e também do setor privado. Um dos professores envolvidos, Rodrigo Pinto Lemos, da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) da UFG, explica que foram meses de trabalho dedicado para conseguir reparar centenas de respiradores. Todos eles foram testados e certificados por empresas especializadas e vinculadas à Associação Brasileira de Engenharia Clínica (ABClin), além de passarem por mais uma etapa de verificação e aceitação pela Engenharia Clínica da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).O professor afirma, que nos meses mais críticos da pandemia em 2020, dezenas de voluntários chegaram a participar dos trabalhos. Depois, com as medidas de distanciamento e abertura de atividades não essenciais, muitos precisaram assumir as atividades profissionais ou acadêmicas de forma que a equipe sofreu redução significativa.Apesar disso, afirma que, como todos já haviam passado pelas formações técnicas específicas de manutenção, estavam familiarizados com as normas de biossegurança e haviam estruturado os processos de trabalho, puderam redobrar os esforços e dar continuidade ao atendimento das metas.“Como foi um trabalho voluntário, a boa vontade e dedicação das pessoas foi o grande diferencial para cumprirmos com nossa parcela de contribuição. Cada conjunto de respiradores que entregávamos renovava nossas energias e esperanças de ajudar as equipes de saúde a salvarem vidas. Neste pior momento da pandemia em nosso país, recebemos a notícia de que os ventiladores pulmonares que consertamos estão sendo um importante complemento ao parque de equipamentos dos Hospitais de Campanha dedicados ao enfrentamento da Covid-19. Isso nos comove e gratifica profundamente nossas consciências por saber que, quando a nossa população mais precisou, as universidades públicas e as instituições de ensino profissional lideraram os esforços da sociedade civil em prol da nossa infraestrutura de saúde. Foi essa corrente de pessoas e instituições a grande responsável por nossa modesta contribuição que hoje se faz mais necessária”, afirma Rodrigo Pinto Lemos, da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) da UFG.Claiton Vieira, diretor do Senai Canã e engenheiro voluntário diz que o sentimento de contribuir deu forças e energia para seguir com o trabalho todos os dias. “O sentimento é de gratidão, principalmente quando vemos o equipamento funcionando em um hospital”, completa.Inicialmente, o grupo fez uma triagem dos equipamentos e peças operacionais. Em seguida, fizeram os reparos, trocas de baterias, mangueiras internas, sensores, válvulas e acessórios. Depois disso foi necessário contar com doação de peças importadas. Em alguns casos, o processo de importação demorava até 90 dias e nem sempre com sucesso. “Esta demora atrasou o cronograma de manutenção e nos causou angústia diante das vidas ceifadas pela pandemia que talvez pudessem ter sido atendidas pelos respiradores ”, lamenta Rodrigo.“Fica uma mágoa por não conseguirmos fazer mais”As entregas de respiradores ao Estado não acabaram, mas diminuíram em volume. Na semana passada, pelo menos novos sete foram repassados a unidades de saúde. Para o professor Rodrigo Pinto Lemos, da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) da Universidade Federal de Goiás, a sensação agora é de impotência frente aos crescentes números de hospitalização e mortes em Goiás por complicações de Covid-19.“Infelizmente, diante do assustador aumento de casos e de óbitos, fica na alma uma certa mágoa por não termos conseguido fazer mais. Hoje nos sentimos impotentes e horrorizados frente às estatísticas e da consciência de que cada número representa um irmão, filho, amigo, pai, mãe que se foi. Estupefatos, nós nos perguntamos o que mais podemos fazer. Talvez a resposta seja óbvia e conhecida, mas muitas vezes não aceita”, afirma o professor. Para ele, mais que nunca é a hora da sociedade confiar na ciência, nos especialistas, e abraçar as medidas de contenção a fim de conter o avanço da doença. “As minhas últimas palavras são de súplica aos irmão goianos que cuidem uns dos outros para vencermos esta guerra tão dolorida e angustiante. Que Deus nos ilumine a todos!”, diz.