O aumento na passagem de ônibus intermunicipal para as linhas Goiânia/Anápolis e Goiânia/Inhumas neste último sábado pegou usuários de surpresa, causando irritação e fazendo com que a Agência Goiana de Regulação (AGR) emitisse uma nota afirmando que o reajuste é irregular e que a empresa já foi autuada. As duas linhas são feitas pela Araguarina. A tarifa para o trecho entre a capital e Inhumas subiu de R$ 8,80 para R$ 11,25, um reajuste de 27,8%. Para entre a capital e Anápolis a passagem foi de R$ 10,40 para R$ 13,20, ou seja, 26,8% de aumento.O comerciante Lucas Souza, de 21 anos, é um dos que foram surpreendidos com o aumento. O susto só não foi maior porque ele havia ouvido comentário de motoristas nos dias anteriores, mas nada de forma oficial. Morador de Goiânia, ele usa o transporte coletivo diariamente até sua loja em Inhumas e disse que teve de ajudar dois passageiros que estavam apenas com a quantia para pagar a passagem de ônibus no valor antigo. No perfil do Instagram, a empresa bloqueou os comentários após Lucas deixar o seu protesto.“Dependo deste ônibus todos os dias. No mesmo dia que fiquei sabendo do reajuste, o ônibus estragou na estrada. Será que é justo aumentar a passagem e continuar com um serviço precário? Com ônibus estragando na estrada, ônibus que saia de 30 e 30 minutos hoje sai de uma em uma hora, esse preço é muito injusto com a população. Muitas pessoas que saem de Inhumas para Goiânia vão perder seus empregos, porque patrão não vai querer bancar R$ 4,50 a mais por dia. E também podia avisar a população, não chegar aumentando assim”, reclamou Lucas, em entrevista ao POPULAR.A AGR informou que os reajustes de tarifa para transporte rodoviário intermunicipal em Goiás só podem ocorrer em julho de cada ano e que qualquer aumento fora deste mês “não encontra respaldo legal”. “Muito embora a lei preveja liberdade tarifária para os autorizatários, todas as empresas firmaram contratos prevendo que as tarifas serão reguladas e reajustadas anualmente, porquanto não podem, unilateralmente, adotar reajustes acima do autorizado pela AGR”, afirmou a agência por meio de nota.Para o presidente do órgão, Marcelo Nunes de Oliveira, a atitude da empresa foi de “enfrentamento”. Ele diz que em fevereiro o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário Intermunicipal e Interestadual de Passageiros do Estado de Goiás (Setrinpe-GO) pediu para a agência antecipar de forma extraordinária a liberação para o reajuste por causa do aumento no valor do diesel, que nos últimos meses tem sofrido com as alterações de preços da Petrobras e a crise econômica. O pedido foi negado.A negativa se deu, segundo o presidente da AGR, porque os preços dos combustíveis têm variado bastante e poderiam cair até julho, além do que a legislação não prevê reajustes fora de julho. “Os preços dos combustíveis têm oscilado muito e achamos por bem esperar até julho”, explicou Marcelo.Conforme O POPULAR apurou, no dia 17 de maio, o sindicato enviou um comunicado à AGR informando que as empresas iriam aplicar um reajuste nas tarifas a partir deste mês e em um porcentual diferente do autorizado pela agência, mas 10 dias depois a AGR respondeu dizendo que o aumento não seria possível no coeficiente proposto pelas empresas, muito menos neste momento e de forma unilateral.A AGR também informou que ainda no sábado esteve no Terminal Rodoviário de Passageiros de Goiânia, onde constatou o reajuste ilegal pela Viação Araguarina e autuou a empresa duas vezes, uma infração para cada linha. Acrescentou na nota que será encaminhada uma representação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por suspeita de infração à ordem econômica.Marcelo argumenta que o sindicato não pode intermediar o aumento das tarifas, organizando com as empresas qual o valor do reajuste. “O sindicato não pode fazer isso, isso se chama cartel. Isso é proibido, colocar um reajuste padrão para todas as empresas. É completamente irregular”, afirmou.Ainda segundo o presidente da AGR, caso a empresa mantenha o reajuste considerado ilegal poderá sofrer novas sanções, com multas mais pesadas e até mesmo a perda da concessão das linhas. “Se a empresa insistir, a gente pode chegar no limite de cassar a licença dela. Esperamos que haja um recuo da empresa.”Nesta semana, fiscais da AGR irão verificar se outras operadoras também aumentarem o valor da tarifa de suas respectivas linhas, autuando os casos em que isso tiver ocorrido.A reportagem não conseguiu contato nem com a Araguarina nem com o Setrinpe.