O trecho da BR-153 entre Goiânia e Morrinhos é marcado pela má qualidade da pista. Trepidações causadas pelos remedos na malha asfáltica fazem parte de todo o trajeto. Mesmo assim, a partir deste domingo (3), quem passar pelo local irá esbarrar em um aumento de mais 100% no valor da praça do pedágio.O POPULAR fez o percurso e cruzou com a pista em condições variadas. Os remendos estão presentes em todo o trecho, em ambos sentidos. Depois de Professor Jamil, as condições são piores e é possível encontrar buracos. O acostamento e a sinalização estavam em boas condições.A pista do viaduto de Hidrolândia, por exemplo, possui um grande número de remendos. Após a praça de pedágio de Professor Jamil, apesar de vários trechos terem sido restaurados recentemente depois de autuação feita pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), ainda é possível encontrar buracos na pista.Logo depois do viaduto na entrada na cidade, existe uma série de buracos. O quilômetro 566, sentido Itumbiara, possui um grande buraco na pista de baixa velocidade. Para desviar, os motoristas acabam tendo que invadir a pista de ultrapassagem.ReclamaçõesO caminhoneiro autônomo Daniel da Silva, de 42 anos, não estava sabendo do aumento do valor das praças de pedágio. Ele, que mora em Uberaba, em Minas Gerais, passa pelas praças de Itumbiara, Professor Jamil e Goianápolis cerca de seis vezes por mês, com um caminhão de seis eixos.Levando em conta o aumento, ele irá gastar para ir e voltar somente nesse trecho, cerca de R$ 1,5 mil por mês. “Isso acaba saindo do nosso bolso. O embarcador deveria pagar por isso, mas a realidade não é essa. Se cobrarmos, alguns até desistem do frete”, explica.O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Goiás (Sinditac), Vantuir Rodrigues, aponta o mesmo problema. “Apesar de existir a lei do pedágio, que prevê que quem deve pagar é o empregador, na prática isso não é cumprido.”O motorista Antônio Prestes, de 59 anos, passa pelo trecho da BR-153 uma vez por mês. Ele, que também não estava ciente do aumento, transporta maquinário agrícola do Sul do país para o Norte. “Parei aqui no posto para dormir e vi que teve algum amassado embaixo do caminhão por causa dos impactos que o desnivelamento do asfalto causa. Vou ter que levar no mecânico. Além do custo dos pneus, nós sempre temos que fazer a revisão antes do tempo previsto por conta do desgaste que rodar em uma pista ruim assim causa”, diz.O fazendeiro Leandro Silvera, de 41 anos, mora na zona rural de Professor Jamil e trabalha em uma fazenda em Hidrolândia. Ele passa pelo pedágio cerca de seis vezes por dia com uma caminhonete. “Vão ser R$ 40 gastos por dia em uma rodovia que não tem qualidade e não me traz segurança.”O caminhoneiro Salvador da Silva, de 62 anos, considera o aumento abusivo e acredita que ele vai afetar, principalmente, os autônomos. “Daqui uns dias não vai ter mais ninguém rodando. Não compensa. Eu gasto 30% do que eu ganho com pedágio. O pior é que quando precisamos de assistência da concessionária, ela é demorada e, muitas vezes, nem mesmo acontece.”Procon questiona aumento Diante do anúncio de aumento dos valores de pedágio, o Procon Goiás informou ao POPULAR que irá notificar a Triunfo Concebra na segunda-feira (4) para ter acesso às justificativas da atualização, que é considerada infundada pelo órgão.O Procon fiscaliza as condições da rodovia e em fevereiro autuou a concessionária pela má prestação de serviço na conservação do trecho da BR- 153, entre os municípios de Professor Jamil e Morrinhos.O superintendente do Procon, Levy Rafael Alves Cornélio, diz que o aumento está sendo acompanhado pelo órgão com cautela e indignação. “Por si só esse aumento neste porcentual não se justifica e não se sustenta, mesmo porque a Concebra já foi notificada pela má prestação do serviço. Então nós não concordamos e vamos a fundo nessa questão”, diz.Para Cornélio, não há porque falar em falta de dinheiro por parte da empresa. “O consumidor não pode ser lesado. Há um defeito na prestação do serviço. O contribuinte que paga espera rodovia bem sinalizada, sem buraco, segurança e acima de tudo uma boa prestação de serviço, o que não está acontecendo”, destaca o superintendente.Como resposta aos problemas apontados pelo Procon sobre o trecho de Professor Jamil, a Concebra diz que os serviços já foram executados no trecho e que nos próximos dias será para o trecho de Itumbiara.