A Associação Estadual de Apoio à Saúde (AAS) realizou, nesta quarta-feira (20), um ato simbólico contra a barreira de pedras que foi colocada no viaduto sobre a Marginal Botafogo, próximo ao Cepal, no cruzamento com a Rua 115, no Setor Sul, em Goiânia.Pela manhã, uma faixa com a frase “O Viaduto da Vergonha” foi colocada no local, mas ela foi removida antes do início da tarde. Não há informações de quem teria feito a retirada.Presidente da AAS, o advogado e médico Cláudio Brandão explica que o cenário é de uma “arquitetura hostil”, ou seja, que é pensada para restringir o espaço do município a determinados grupos sociais.A estrutura rochosa foi colocada há pouco mais de um ano, em fevereiro de 2021 pela Prefeitura da capital, com a alegação de que era necessário restaurar a estrutura da viária onde os moradores ficavam em busca de abrigo.Brandão afirma que uma ação civil pública é movida pela associação para que a Justiça desenvolva soluções para a região. Segundo ele, o processo está aguardando manifestação da Prefeitura, do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) para avançar com a tramitação.O presidente da associação diz que expulsar os moradores de rua da frente dos olhos da sociedade com esses mecanismos e, com isso, alterar drasticamente a arquitetura da capital, provoca uma ferida ao meio ambiente e ainda humilha ainda mais a população de rua.ObjetivoProcurada pelo POPULAR, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) afirmou, em nota, que esta é uma ação de manutenção de obras e foi desenvolvida para conter e minimizar a erosão na lateral do viaduto. “Assim, evitamos o assoreamento e preservamos a estrutura.”, escreve. O órgão acrescenta que todo este serviço foi acompanhado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social.A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS) e com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.Uma das pessoas em situação de rua, que não quis ser identificada, afirma que já vivia no local antes da colocação das pedras e que elas não deveriam estar ali, por obstruir um possível abrigo. No entanto, acredita que o poder público e as ações sociais deveriam auxiliar nas necessidades básicas e que a falta de oportunidade a faz buscar formas ilícitas de sobreviver.“Vêm aqui (policiais) e é violência toda noite, por que não dão cesta básica, casa, serviço? Ninguém nunca perguntou se queremos emprego” disse o rapaz. Segundo o rapaz, a instalação das rochas teria sido reivindicada por um empresário, com respaldo de um vereador da capital, para afetar o grupo. Questionada, a assessoria da Seinfra disse não ter conhecimento do assunto.Outro homem, que também não quis ser identificado, coleta papel na cidade para vender em postos reciclagem e afirmou que ninguém ligado aos órgãos governamentais vão até lá e que existem outras coisas que a Prefeitura poderia se preocupar. “A rua toda suja, o meio ambiente péssimo, os homens (polícia) vêm aqui nos oprimir, matar, jogar nosso carro de papel fora”, disse.ConvivênciaA poucos metros dali, o vendedor Raimundo Nonato Paulino de Souza, de 52 anos, afirmou que o grupo de pessoas “não incomoda e são gente boa”, além de respeitarem o trabalho dele feito nos semáforos. Parceiro de Souza, Anderson Ribeiro de Jesus, de 25 anos, relata que já esteve em situação de rua e que “ninguém está ali porque quer”. Ele ainda critica o serviço público municipal e aponta que Goiânia não oferece oportunidades para quem quer sair das ruas. (Manoella Bittencourt é estagiária do GJC em convênio com a PUC-Goiás)