Quando constatou que o artigo científico resultante de um dos capítulos de sua dissertação de mestrado tinha sido publicado na revista britânica Biological Journal of the Linnean Society, uma das mais importantes do mundo na área da evolução, o doutorando Marco Aurélio Mendes Elias, 25 anos, comemorou muito. Seu ímpeto foi sair pelos corredores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) anunciando a conquista. Afinal, foi no mesmo periódico que Charles Darwin e Alfred Wallace publicaram em 1858 suas ideias sobre a teoria da evolução. Marco e dois colegas pesquisadores, usando um tipo de camarão como modelo, estudaram como as listras podem surgir em animais. “Até hoje tentamos entender os mecanismos por trás da evolução dos animais”, diz o doutorando, que desde os tempos de graduação se dedica à Biologia da Coloração, estudo de como as cores e seus padrões evoluem na natureza. Tudo começou quando Marco se deparou com fotografias de várias espécies de camarões-estalo (Alpheus) feitas ao longo de dez anos pelo russo Arthur Anker, pesquisador doutor visitante da UFG. Embora as imagens tivessem o propósito de registrar a espécie, o biólogo goiano viu nelas um potencial de estudo ao perceber os diferentes padrões de cores desses crustáceos. Com o apoio do professor pesquisador da Universidade de Brasília (UnNB), Dr. Felipe Gawryszewski, Marco analisou as imagens com softwares e recuperou dados da literatura sobre habitats onde espécies são encontradas, normalmente regiões costeiras do continente americano, entre elas brasileiras.Habitat diversificadoOs camarões-estalo, que ganharam este nome por um mecanismo de defesa contra predadores que os fazem produzir bolhas cujo som pode chegar a 220 decibéis, vivem em diversos habitats como areia, corais, rochas e grama marinha. A partir da análise das relações de parentescos das espécies e dos dados adquiridos com as fotos e com a literatura, os pesquisadores descobriram que o surgimento de listras é favorecido em espécies que são generalistas de habitat, ou seja, que vivem em muitos habitats , mas distintos. Além disso, os resultados indicaram que a proteção gerada pelas listras somente tem efeito em camarões de tamanhos, menor que quatro centímetros.O estudo indica que quanto mais diversificado for o habitat, maior é a possibilidade de surgimento de listras nos camarões. Por outro lado, à medida que o animal cresce, as listras perdem o efeito das estratégias de defesa e passam a chamar a atenção de predadores. O pesquisador lembra que a correlação entre ter listras e ser pequeno já foi documentada em estudos com serpentes (Austrália), lagartos (Índia) e mamíferos (Brasil). CamuflagemMarco ressalta que, diferente da camuflagem, através da qual os animais geralmente ficam imóveis para não serem detectados, as listras permitem que a presa escape do predador ao criar uma confusão sobre a real velocidade ou direção que percorre, o que o pesquisador chama de “movimento de confusão”. Mas quando o animal está parado, as listras contribuem para uma outra estratégia de defesa, a coloração disruptiva. Nesse caso, as listras ou manchas que modificam o formato original do corpo da presa, dificultando o reconhecimento dela pelos predadores.