Uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriu que a revacinação de um grupo de profissionais da saúde de Goiânia com a Bacillus Calmette-Guérin (BCG), que previne a tuberculose, teve ligação com a diminuição de positividade da Covid-19. De acordo com o estudo, a eficácia foi de 32%.A professora Ana Paula Junqueira Kipnis, uma das responsáveis pela pesquisa, explica que em 2020, cientistas europeus começaram a pesquisar a possibilidade de a vacina BCG diminuir a quantidade de infecções respiratórias em idosos. “Foi bem quando a pandemia da Covid-19 começou. Os resultados deles foram positivos e chamaram a atenção.”Então, quando o governo brasileiro abriu editais emergenciais para pesquisas relacionadas a Covid-19, o grupo de pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), da UFG, formularam o estudo. “Por conta do contexto da pandemia, no qual os idosos são o grupo de maior risco, não tinha a possibilidade de usarmos esse público na pesquisa. Por isso, decidimos fazer com os profissionais da saúde, que são os mais expostos ao vírus.”A vacina da BCG foi criada há 101 anos, na França. Ela é feita com a bactéria Mycobacterium bovis atenuada, que causa a tuberculose entre bovinos. No ser humano, ela produz uma resposta imune cruzada, que é quando algumas células de defesa envolvidas na resposta imune, conseguem reconhecer sequências de um vírus, bactéria ou agente infeccioso e ser capaz de identificá-las no futuro em outro agente infeccioso. Por isso, é segura e eficaz. Atualmente, ela faz parte do cartão de vacinação infantil de todo brasileiro.Leia também:- Números da Covid em Goiás crescem em junho- Cientistas falam em uma nova onda da Covid-19 a cada 6 meses- Estudantes da UFG protestam contra empresa que fornece alimentação para o RUA BCG tem a capacidade de ativação da Natural Killer (NK), célula que dentre outras coisas consegue matar outras células contaminadas por vírus como, por exemplo, o Sars-CoV-2. “Ao longo do tempo, as vacinas BCG usadas em diferentes partes do mundo foram sofrendo algumas mudanças por conta do ambiente. Queríamos verificar se a que usamos hoje no Brasil, que é da Índia, induziria essa ativação. A hipótese da pesquisa é de que os indivíduos que possuíssem células NK previamente ativadas pela vacina BCG poderiam responder melhor à Covid-19.”ResultadosDurante a análise de dados, foi constatado que a BCG não foi capaz de ativar as células NK. Porém, foi confirmado que o grupo revacinado teve uma incidência menor de casos da Covid-19. A eficácia foi de 32%. “O grupo vacinado com a BCG teve menos casos e sintomas mais brandos. Não temos dados sobre hospitalizações, porque durante os seis meses de pesquisa apenas uma pessoa precisou ir para o hospital. Porém, conseguimos constatar que a BGC interferiu positivamente na proteção de quem foi revacinado”, finaliza Ana Paula.Pesquisa sobre eficácia irá continuar Os estudos da Universidade Federal de Goiás (UFG) que relacionam a vacina Bacillus Calmette-Guérin (BCG) com a Covid-19 irão continuar, especialmente aqueles ligados a eficácia dela para o tratamento da doença, já que não foi constada uma capacidade de ativação das células Natural Killers (NK) por parte do imunizante.“O próximo passo do estudo é avaliar se a vacina BCG estimulou outras células da resposta imune inata e específica”, afirmou Ana Paula Junqueira Kipnis, professora e uma das responsáveis pela pesquisa. Além disso, o início da aplicação de uma vacina própria para o tratamento da Covid-19, os pesquisadores querem verificar se a vacina da BCG ajudou a potencializar a proteção da vacina específica. “Temos as amostras de sangue dessas pessoas antes de se vacinarem contra a Covid-19. Agora, vamos coletar outras para poder fazer a comparação entre quem foi revacinado com BCG e quem não foi.” Ana Paula destaca que a pesquisa começou a ser desenvolvida quando ainda não existia nenhuma vacina específica para a Covid-19 pronta. O intuito inicial era que a BCG pudesse ser uma alternativa segura para proteção contra a doença. Agora, o intuito é ver se ela pode ajudar a reforçar a proteção ou melhorar a resposta imune que as vacinas específicas já desenvolvem. “O que nos vemos nas crianças é que além da tuberculose, a BCG ajuda na proteção de outras doenças como, por exemplo, a pneumonia viral. Agora, queremos saber se isso é possível com a Covid-19.” Os resultados do ensaio clínico serão combinados com a Radboud University que inclui: Países Baixos, França, Estados Unidos, Moçambique e Alemanha. “É um trabalho maior, com quase 15 mil profissionais da saúde. Ele ainda não foi publicado, mas quando analisamos as informações de metanálise fica claro que existe uma diferença entre os grupos que foram revacinados com a BCG e aqueles que não foram”, explica a pesquisadora.O estudo da UFG, que teve uma duração de menos de dois anos, foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). -Imagem (1.2486258)