A infectologista e epidemiologista goiana Cristiana Toscano foi indicada para compor o grupo de trabalho de Vacinas para Covid-19 do Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacinas (Sage, na sigla em inglês) da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela é a única brasileira a compor esta equipe restrita de pesquisadores, que terá o papel de revisar as evidências disponíveis sobre o progresso das vacinas que poderão vir a ser usadas para enfrentar a contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).Cristiana é professora e chefe do departamento de saúde coletiva do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e participa dos estudos de modelagem de cenários do avanço da Covid-19 no Estado, os mesmos que apontam que o baixo índice de isolamento verificado nos municípios goianos pode levar a mais de 5 mil mortes até o final de julho e a um colapso no sistema público de saúde. Até o momento, estas notas técnicas têm acertado na previsão de óbitos, conforme mostrado pelo POPULAR nesta semana.Além de revisar os trabalhos sobre vacinas, o Sage irá prover orientações para estratégias e sobre o uso acelerado de vacinas (em fases de pré-licenciamento e pós-licenciamento) contra Covid-19.

Pesquisadora goiana é chamada para grupo da OMS que investiga possíveis vacinas para Covid-19

Cidades

Cidades - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Cidades

Conteúdo investigado:&nbsp;Postagem&nbsp;com link de texto publicado no site do grupo Médicos Pela Vida afirma que miocardite e pericardite são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19. O conteúdo aponta que a informação é resultado de cinco estudos científicos, todos em inglês. O MPV acrescenta que o “Brasil precisa interromper imediatamente a obrigatoriedade das vacinas covid-19 em crianças de 6 meses a 5 anos”, pois essa medida seria contrária às “melhores evidências científicas disponíveis”.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação do Médicos pela Vida engana ao afirmar que cinco estudos –&nbsp;um deles já verificado em outubro e classificado pelo Comprova como enganoso&nbsp;– concluíram que miocardite e pericardite, condições caracterizadas pela inflamação do músculo cardíaco e inflamação do revestimento externo do coração, respectivamente, são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/comprova/ceo-da-pfizer-n-o-enfrenta-pris-o-perpetua-nem-encara-tribunal-holandes-ao-contrario-do-que-diz-post-1.3198507" target="_blank">CEO da Pfizer não enfrenta prisão perpétua nem encara tribunal holandês, ao contrário do que diz post</a> 
<a href="https://opopular.com.br/comprova/projeto-de-lula-n-o-fara-com-que-o-exercito-saia-da-amazonia-ao-contrario-do-que-diz-post-1.3197115" target="_blank">Projeto de Lula não fará com que o Exército saia da Amazônia, ao contrário do que diz post</a> 
<a href="https://opopular.com.br/comprova/e-falso-que-o-peru-declarou-guerra-ao-brasil-1.3196163" target="_blank">É falso que o Peru declarou guerra ao Brasil</a></div>

Especialistas ouvidos pelo Comprova apontam que os ensaios citados pelo grupo para corroborar a afirmação são, na verdade, de revisão (permitem somente a atualização de informações e um resumo sobre as principais pesquisas em torno de um determinado tema) ou observacionais (descritivos e analíticos) e não possibilitam identificar as relações de causalidade entre dois fatores.

Para estabelecer o chamado nexo causal (causa de um evento decorrente de dois fatores) são necessários ensaios experimentais ou de intervenção (entenda melhor abaixo, na análise sobre os ensaios). Não é o caso dos estudos citados pelo MPV, grupo criado na pandemia e que defende “tratamento precoce” e medicamentos como a hidroxicloroquina contra a covid-19. O&nbsp;MPV já foi condenado pela Justiça do Rio Grande do Sul a pagar R$ 55 milhões&nbsp;por estimular tal tratamento.

Lilian Martins, infectologista pediátrica e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma não ser inesperada a ocorrência de efeitos adversos em razão da vacinação, incluindo o desenvolvimento de miocardite ou pericardite, mas ressalta que um melhor entendimento da relação causal entre os dois eventos ainda é necessário.

Segundo a especialista, devido à administração global de mais de 13 bilhões de doses, reações adversas são esperadas, mas há uma baixa frequência de desenvolvimento de miocardite ou pericardite em vacinados.

“E, mesmo que futuramente se comprove a relação da vacina com miocardites graves e óbitos, deve-se ressaltar que o número de casos relatados através dos artigos de revisão são muito poucos diante da quantidade de doses aplicadas em todo o mundo”, afirma. “Em resumo, as vacinas atuais contra a covid- 19 demonstraram claramente sua eficácia e, sem dúvida, provaram que os benefícios superam os riscos por uma grande margem”, destaca.

“O MPV também fala sobre os efeitos adversos em crianças de seis meses a cinco anos para pedir a interrupção do processo de imunização nesse público, mas, nesta faixa etária, efeitos como miocardite e pericardite não são observados”, complementa a professora.

André Prudente, infectologista e diretor do Hospital Giselda Trigueira, unidade referência em doenças infectocontagiosas em Natal (RN), diz que a literatura aponta que vacinados e não vacinados podem desenvolver as duas condições, mas reforça que a eficácia da imunização supera, em muito, possíveis efeitos adversos.

“Afirmar que só o imunizante provoca miocardite e pericardite significa dizer que essas doenças não existiam antes da vacina de covid-19. Estamos falando, porém, de duas situações que podem ocorrer após qualquer doença viral, como influenza, dengue, chikungunya, zika e a própria covid, óbvio. A miocardite também pode ser gerada, em menor grau, a partir de efeitos colaterais de qualquer vacina, mas não exclusivamente em decorrência delas”, sublinha.

“Agora, sem sombra de dúvida, é muito melhor estar vacinado e evitar todas as outras complicações da infecção pelo coronavírus. A vacina é segura, eventualmente pode provocar efeitos, mas em escala bem menos frequente do que a doença”, diz o médico.

Carlos Carvalho, professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da USP, aponta que a incidência de efeitos como a miocardite em pessoas vacinadas contra a covid-19 é de uma em cada 10 mil. “O nexo causal de que a vacina corresponde a uma proporção grande de miocardite é completamente falso. Um&nbsp;estudo&nbsp;robusto deste ano acompanhou pessoas com miocardite provocada por outras causas que não a covid-19, bem como pacientes que tiveram a infecção provocada pelo Sars-CoV-2 que evoluíram para miocardite e indivíduos vacinados que também evoluíram para a inflamação do músculo cardíaco”, descreve.

“O resultado observado é que não existe nenhuma relação entre tomar vacina e desenvolver miocardite. É um&nbsp;ensaio&nbsp;publicado no Journal of the American Medical Association (Jama) e que põe uma pá de cal nessa história de que a vacina de RNA mensageiro tem um fator causal maior [que provoca miocardite ou pericardite]”, comenta Carvalho.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

<h2>Análise</h2>

A pedido do Comprova, os especialistas ouvidos nesta reportagem analisam, a seguir, quatro dos cinco estudos citados pelo MPV para afirmar, de forma enganosa, que apenas as vacinas provocam miocardite e pericardite. O estudo que não aparece aqui, conforme mencionado no início deste texto, já foi destrinchado pelo Comprova no mês passado. Confira:

<h3>Estudo 1</h3>

O primeiro estudo utilizado pelo grupo para afirmar que pericardite e miocardite não são causadas pela infecção provocada pelo coronavírus é intitulado&nbsp;“Incidência de miocardite e pericardite em doentes não vacinados após a covid-19 – um grande estudo de base populacional”. Ele é de 2022 e tem origem em Israel. Foi realizado com 196.992 adultos infectados pela doença entre março de 2020 e janeiro de 2021.

Como o título indica, a população analisada não havia passado pelo processo de imunização. O Médicos Pela Vida destacou que não foi observado “aumento na incidência de pericardite ou miocardite em pacientes adultos se recuperando da infecção por covid-19”, mas não mencionou o fato de os indivíduos não terem sido imunizados.

O professor Carlos Carvalho, da Faculdade de Medicina da USP, aponta que o material mostra apenas uma associação, mas não possui nexo causal. “É um estudo retrospectivo, que não foi delineado nem feito com o objetivo de avaliar a frequência das alterações cardíacas. Neste tipo, são analisados dados já produzidos no passado para gerar uma hipótese a partir da associação entre dois fatores. Mas essa hipótese tem que ser confirmada com um estudo prospectivo, onde o pesquisador acompanha um determinado grupo durante meses ou anos para ver o que que acontece”, explica o professor.

Para esclarecer melhor, o especialista toma como exemplo o próprio estudo citado pelo Médicos Pela Vida. Segundo ele, para estabelecer um nexo causal entre o uso da vacina e o desenvolvimento de pericardite e miocardite seria necessário acompanhar, prospectivamente, populações com covid e que não tomaram a vacina; populações com covid e vacinadas; e populações com miocardite, mas sem covid-19.

“Então, se tivesse muito mais miocardite em quem tomou a vacina do que nas outras situações, seria possível afirmar um nexo causal com o desenvolvimento da inflamação do músculo cardíaco. Mas, no estudo avaliado, a miocardite aparece em outras situações, podendo ter sido provocada por diferentes causas”, conclui Carvalho.

<h3>Estudo 2</h3>

O segundo estudo utilizado pelo grupo, intitulado&nbsp;“Patologia cardíaca associada à avaliação post-mortem: uma revisão sistemática colaborativa”&nbsp;também é de 2022, mas com origem na Arábia Saudita. Foram estudadas as autópsias de 548 corações de pessoas que morreram com ou de covid-19. A idade média dos falecidos era de 69 anos. O Médicos Pela Vida destacou que o estudo constata “a prevalência média relatada de miocardite extensa, focal ativa e multifocal de 0,0%”.

O infectologista André Prudente cita que o estudo pega dados “bastante limitados” de outros ensaios, única e exclusivamente de pessoas que já morreram, apenas para revisão. Assim como o estudo 1, Prudente afirma tratar-se de um “ensaio que não demonstra causalidade”, uma vez que só é possível falar em causa e efeito em estudos de intervenção.

“Estudos de intervenção são o que a gente chama de duplos-cegos randomizados, aplicados em um grupo de pessoas exposto a um mesmo risco. Por exemplo: divide-se um grupo de mil pessoas pela metade. Em uma parte aplica-se a vacina, na outra, apenas o placebo [composição neutra, sem o princípio ativo que produz efeitos em uma determinada terapia]. Nem a pessoa que está recebendo nem quem está aplicando sabe o que é injetado. Isso é conhecido apenas na randomização, feita em um programa de computador. Depois de avaliar os efeitos da intervenção ao longo do tempo é que o estudo é aberto aos dois grupos para que seja feita uma comparação. Somente a partir daí, é possível falar em causa e efeito”, detalha.

Segundo o infectologista, o ensaio mencionado pelo Médicos pela Vida é apenas observacional, com dados retroativos. “Para estudos sem intervenção, como é o caso aqui, fala-se apenas em possível relação. Portanto, as afirmações da postagem não se sustentam”, afirma André Prudente.

<h3>Estudo 3</h3>

O grupo citou também o estudo&nbsp;“Achados da autópsia em casos de miocardite fatal induzida pela vacina contra a covid-19”&nbsp;para embasar as declarações. O artigo é de janeiro deste ano, com origem nos Estados Unidos, e se baseia em autópsias de 28 pessoas que morreram após a vacinação. A idade média dos indivíduos foi de 44 anos. O número médio e mediano de dias desde a última vacinação contra a covid-19 até a morte foi de 6,2 e 3 dias, respectivamente. O Médicos pela Vida frisa que os autores estabeleceram “que todas as 28 mortes (100%) foram provavelmente causalmente ligadas à vacinação contra a covid por revisão independente das informações clínicas apresentadas em cada artigo”.

A infectologista pediátrica e professora Lilian Martins ressalta que se trata de um estudo de revisão e que a mera observação da miocardite e do óbito após a imunização não estabelece de forma conclusiva que a vacina seja a causa do evento. “Observa-se uma associação temporal entre o recebimento da vacina e o desenvolvimento da miocardite/óbito. No entanto, deve-se considerar a possibilidade de demais elementos (medicamentos, drogas, fatores de risco e outras doenças) que possam ter contribuído para o desenvolvimento da miocardite ou para a morte do paciente, não permitindo a conclusão aqui quanto à causa definidora, como os autores sugerem”, diz.

Martins destaca que o próprio estudo não mostra a exclusão de outras possíveis causas da doença, as quais devem ser consideradas. “Estabelecer uma ligação causal direta entre um evento adverso específico e uma vacina com base apenas em relatos de casos individuais é geralmente arriscado e repleto de desafios. Além disso, indivíduos que pareciam saudáveis no momento da vacinação podem ter problemas de saúde não detectados”, pondera.

Ela afirma que estabelecer ou rejeitar a causa definitiva de um evento específico não é tarefa fácil, daí porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a realização de avaliações de causalidade em escala populacional, ao contrário do estudo aqui apresentado. “O artigo em questão sugere a relação da vacina com os casos fatais de miocardite em indivíduos de diferentes idades, sendo a maioria deles acima de 30 anos, após diferentes doses da vacina e com intervalos diversos após a aplicação, alguns deles depois de 14 dias. A literatura hoje mostra que o maior risco de miocardite ocorre em jovens menores de 30 anos, após a segunda dose e nos primeiros 14 dias posteriores à imunização”, conclui.

<h2>Estudo complementar</h2>

O grupo citou, por fim, um estudo complementar intitulado&nbsp;“Manifestações cardíacas e resultados da miocardite associada à vacina contra a covid-19 em jovens nos EUA: resultados longitudinais do estudo multicêntrico Myocarditis After covid Vaccination (MACiV)”. Com origem nos Estados Unidos, o ensaio foi realizado em 38 hospitais do país, onde 333 pacientes com miocardite associada à vacina de covid-19 foram comparados com 100 pacientes com síndrome inflamatória multissistêmica em crianças. Foram incluídos pacientes com menos de 30 anos de idade com diagnóstico clínico de miocardite aguda após vacinação contra covid-19.

O site do grupo destaca a constatação do estudo: “A lesão cardíaca pela vacina é persistente. Depois de 178 dias de acompanhamento, em média, a cicatrização cardíaca ainda estava presente em 60% dos pacientes no acompanhamento”.

Segundo André Prudente, o estudo, assim como os demais, é observacional e retrospectivo, sem que seja estabelecida uma relação de causa. “Foram questionadas somente pessoas que tiveram miocardite e observou-se que havia bem mais gente com a condição e que foi vacinada do que o contrário. Mas isso também não comprova absolutamente nada, porque no período do estudo [entre abril de 2021 e novembro de 2022], a maioria das pessoas já estava imunizada. Também não se sabe em que época as pessoas avaliadas tiveram miocardite – se a condição ocorreu nove meses depois da vacina, não há relação alguma entre uma coisa e outra”, detalha.

<h3>Casos são raros</h3>

Em julho de 2021, a&nbsp;Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)&nbsp;emitiu um alerta à sociedade sobre o risco de miocardite e pericardite associadas à vacinação contra a covid-19 com imunizantes baseados em RNA mensageiro (RNAm). O alerta ocorreu após a agência tomar conhecimento de casos dessas condições registrados pela agência reguladora dos Estados Unidos (FDA).

A própria Anvisa esclareceu, contudo, que o risco de ocorrência desses eventos adversos é baixo, embora tenha recomendado aos profissionais de saúde que fiquem atentos e perguntem às pessoas que apresentarem sintomas se elas foram vacinadas, especialmente com a vacina da Pfizer.

Conforme verificação do Comprova de outubro passado, casos de miocardite e pericardite como efeito adverso pós-vacinação com imunizantes de mRNA são conhecidos e raros. A informação consta na bula da vacina Pfizer-BioNTech (BNT162b2), também chamada Comirnaty. Segundo a bula, casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação. A proporção em pessoas acima de 5 anos de idade é de menos de 1 caso a cada 10 mil doses aplicadas.

O Comprova procurou o Médicos pela Vida, mas a conta do grupo no X está configurada para não receber mensagens. Eles também não responderam aos contatos feitos por e-mail.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 11 de novembro, a publicação do Médicos pela Vida no X acumulava 238 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Os infectologistas André Prudente e Lilian Martins, o pneumologista Carlos Carvalho e estudos mencionados pelo MPV.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo&nbsp;WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 são utilizadas frequentemente como peças de desinformação para falar de efeitos adversos em crianças. O Comprova já mostrou que&nbsp;não é verdade que ela fez explodir doenças cardíacas em crianças&nbsp;e que&nbsp;é falsa a alegação de que a OMS teria admitido que bebês de mães imunizadas estariam nascendo com problemas no coração. Também mostrou que&nbsp;a proteção oferecida pelos imunizantes supera o risco de miocardite em crianças.

&nbsp;

Site engana ao dizer que miocardite e pericardite são causadas apenas por vacinas e não por covid-19

Matéria - genérica

Comprova

Corte de gastos

O governo, através do ministro Fernando Haddad, havia anunciado um corte de gastos de cerca de R$ 30 a 50 bilhões, após as eleições municipais, o que seria pouco diante do rombo fiscal. O pleito acabou e “nem Deus sabe quando teremos um corte de gastos neste país”. A fala do ministro dizendo que só o presidente vai definir a data, fez disparar o dólar. Sua promessa está sendo rompida, inclusive o combate aos supersalários do setor público.

O resultado do PT nas eleições municipais pode até acelerar os gastos pois Lula, sempre que pode, tenta minimizar a necessidade de ajustes fiscais, classificando toda despesa como “investimento”. Nosso receio, portanto, é que o petismo pise fundo no acelerador dos gastos, lembrando Dilma Rousseff, que dizia que “gasto é vida”. E quando a responsabilidade fiscal não existe, um dos primeiros indicadores a sair do controle, é a inflação. A esperança é que Haddad ainda tenha capacidade de conter esta dívida e que tente cumprir o que foi prometido no arcabouço fiscal.

Maria de Lourdes Barbalho

Setor Oeste - Goiânia

&nbsp;

&nbsp;Vacinas incineradas

A respeito da carta do leitor do Sr. Cláudio Guimarães Brandão da Silva (presidente da Associação Estadual de Apoio à Saúde) concordo plenamente com boa parte do que expôs, inclusive estou inconformado tanto quanto ele. Sei bem que os governos federal, estaduais e municipais precisam urgentemente incrementar campanhas de vacinação em massa e perenes pois o momento assim sugere. Há uma necessidade imensa de que se reverta esta involução incorrida nitidamente no governo Bolsonaro que incutiu nas cabeças de seus milhões de seguidores, à época da Covid-19, que as vacinas para este mal não seriam eficazes e que possivelmente até nós trariam outros problemas de saúde, sequelas, etc.

Essa fração da população, além de acreditar piamente nesta inverdade, acabou por estender sua incredulidade da importância de tantos outros processos vacinais porque todos nós devemos passar. É um absurdo alguém não manter em dia sua agenda de vacinação bem como a agenda de toda família. Isto é um dos mais perversos atos que se pode fazer a si próprio e a seus tutelados. Por isso há sim de se alertar a Sociedade Civil Organizada e todos os Poderes legalmente constituídos no Brasil para que, juntos, mudemos drasticamente este quadro caótico negacionista de “não vacinação”.

Vacina salva!

Roberto Célio P. Silva 

Setor Pedro Ludovico - Goiânia

Cartas dos leitores

Opinião

Opinião - título

Carta dos Leitores

Matéria - Opinião - Carta dos Leitores

Cartas

Este texto não foi escrito por uma IA, ok! Hoje em dia, é sempre bom avisar, uma vez que a Inteligência Artificial já se mostra onipresente nos mais variados campos de atuação, dando continuidade a um processo que não é recente, mas que demonstra ser cada vez mais predominante: o domínio da técnica na sociedade contemporânea. Nesse “admirável mundo novo”, para parafrasear Aldous Huxley – aposto que alguém vai ao ChatGPT perguntar quem é esse sujeito –, muitos dilemas, inumeráveis incertezas e até mesmo alguns medos quanto a um possível tempo distópico vêm surgindo e nada melhor do que parar, pensar e debater a respeito de todos esses desafios. Essa é a proposta da 28ª Semana de Filosofia e 23ª Semana de Integração Graduação/Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia da UFG.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

O evento, que começa na terça-feira (29) e vai até 1º de novembro nos prédios das Humanidades 1 e 2, no Câmpus Samambaia, da UFG, contará com a participação de pesquisadores de instituições de diversas partes do País. “Nos empenhamos em conceber uma programação que contemplasse as frentes de pesquisa que existem na faculdade, na graduação e na pós. Essas frentes são: Metafísica e Teoria do Conhecimento, Ética e Política, Ensino de Filosofia, Lógica e Filosofia da Linguagem, Estética e Filosofia da Arte”, explica Cristiano Novaes de Rezende, professor da UFG e coordenador desta edição da Semana de Filosofia. “Tentamos trazer docentes altamente qualificados, cujas pesquisas tocassem essas áreas ou regiões de intersecção entre elas.”

Uma das temáticas que mais chamam a atenção é exatamente quanto às mudanças potenciais que a IA traz com seu desenvolvimento. “IA, como toda nova tecnologia, é ou supervalorizada ou demonizada”, afirma o professor Bernardo Alonso, da Universidade Federal de Mato Grosso, que vai proferir, na quinta-feira (31), a conferência Informação, Desinformação e Alucinação Artificial. “Todo desenvolvimento tecnológico pode acarretar efeitos destrutivos. Entretanto, a questão de ter medo ou não de tais efeitos pouco colabora para uma relação equilibrada com a técnica”, reforça a professora Veronica Ferreira Bahr Calazans, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que fará a conferência de abertura do evento sobre o ensino de Filosofia na educação técnica e tecnológica.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/maria-eugenia-e-historias-creuza-arrais-apresentam-projeto-prosas-musicais-ii-1.3191121" target="_blank">Maria Eugênia e histórias Creuza Arrais apresentam Projeto Prosas Musicais II</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/famosos-lamentam-a-morte-de-antonio-cicero-1.3190533" target="_blank">Famosos lamentam a morte de Antonio Cicero</a></div>

Os dois convidados trazem olhares que escapam da dicotomia bom e mau, benéfico e maléfico para o atual momento de avanços tecnológicos acelerados que vivemos. Ambos estimulam abordagens menos superficiais das discussões que movimentam a sociedade atualmente, como o da desinformação. “Apresento a noção de Informação Semântica, estabelecida pelo filósofo italiano Luciano Floridi, minimamente adequada para comportar uma outra noção, cara à Filosofia da Informação (e em certa medida também à Filosofia da Linguagem), a saber, uma noção de Desinformação que seja suficientemente robusta, que possa dissipar a confusão de traduções automatizadas”, explica Bernardo, enfatizando “as sutilezas conceituais entre os termos disinformation, misinformation e malinformation”.

“Isso feito, tento identificar algumas das causas da fé quase inabalável sobre a ideia, por vezes ambígua, de Inteligência Artificial utilizada ordinariamente”, acrescenta, para embasar o que chama de “alucinação artificial” ou “ilusão artificial”. “Tangencialmente se relacionam com a noção técnica de AI Hallucination, esta última que faz uma analogia vaga com a psicologia humana, onde a alucinação normalmente envolve falsas percepções. No entanto, há uma diferença fundamental: a alucinação da IA está associada a respostas erradas e não a experiências perceptivas”, esclarece. O professor Bernardo reforça que essas “respostas erradas” fornecidas pela IA “podem causar distorções contextuais, comportamentais e na agência coletiva”, trazendo um debate ético para o tema.

“A Ética da Inteligência Artificial e Robótica é um campo prolífico. Se consideramos as questões éticas que surgem com sistemas de IA quando considerados como objetos, ou seja, ferramentas utilizadas por agentes naturais (humanos), então assuntos espinhosos como manipulação, privacidade e preconceito tornam-se salientes. Em contrapartida, se consideramos agentes artificiais (IA) como sujeitos, assuntos como ética e exploração das máquinas e agência moral artificial devem ser considerados”, compara. “Desde o célebre HAL 9000 de 2001: Uma Odisseia no Espaço’, de (Stanley) Kubrick, o assunto mexe com a nossa imaginação.” As repercussões de todas essas transformações são numerosas e complexas, obrigando que outras dimensões sejam contempladas.

“Concordo com a concepção que assume a não neutralidade ética dos objetos técnicos. Assumo que os frutos da tecnologia carregam valores sociais e políticos. No entanto, cabe destacar que tais valores são valores humanos; e os humanos que produzem tais objetos se tornam imputáveis por seus efeitos, destrutivos ou não”, pondera a professora Veronica. “Porém, é comum que essa questão seja formulada de outra forma. Por vezes, pergunta-se se a técnica desumaniza. Essa formulação é perigosa, pois promove o apagamento do único elemento que, legitimamente, pode ser imputado: o humano. Se atribuímos à técnica a responsabilidade pelos seus efeitos destrutivos, colaboramos para tornar invisíveis os usos intencionais da técnica para exercer o poder de uns sobre os outros.”

A professora argumenta também que é preciso inserir os debates sobre as tecnologias nas relações de poder da sociedade. “Em tese, os processos de transformação que vivemos hoje, no que diz respeito à tecnologia, podem nos desumanizar ou colaborar para melhorar nossa relação com o conhecimento. De fato, o que ocorre é mais complexo. Essas transformações ocorrem em meio a relações de poder sociais e econômicos que não necessariamente são pautadas pelos critérios de desenvolvimento técnico, mas pelos interesses que permeiam tais relações”, enfatiza. “Novamente, a tomada de consciência a respeito da realidade técnica e seu funcionamento é necessária se temos alguma esperança de combater ou resistir aos efeitos destrutivos da tecnologia.”

“Ao nos perguntarmos pelos trabalhos que podem desaparecer pelo desenvolvimento das novas tecnologias, devemos nos perguntar: tais trabalhos só não eram feitos por máquinas porque ainda não havia máquinas para fazê-los?”, questiona Cristiano Novaes, da UFG. “E se a resposta for afirmativa, então isso significa que já se tratava de um trabalho mecânico sendo realizado por um humano apenas por uma contingência? Qual a fronteira entre uma existência humana, uma existência não humana e uma existência desumana? Quais as implicações éticas, políticas e estéticas do estabelecimento de parâmetros não-humanos para uma sociedade humana? Qual a diferença entre a potência construtiva ou destrutiva de uma máquina e o uso destrutivo ou construtivo dessa máquina?”, pondera.

“É interessante como novas situações concretas colocam em evidência a profundidade de filósofos de todos os tempos”, sublinha o professor Cristiano. “Afinal, se alguém formula a pergunta, por exemplo, sobre a possibilidade de que uma máquina pense, é evidente que, antes que se saia a tentar responder que sim ou que não, é necessário ter uma clareza mínima sobre o que está sendo perguntado, no caso, sobre ‘o que é pensar’ e sobre ‘o que exatamente é uma máquina’. E a elaboração de conceitos dessa envergadura é justamente o trabalho da Filosofia.” Um trabalho que mantém sua grande relevância. “Costumo dizer que a filosofia não é útil nem inútil; ela é simplesmente inevitável. Eu digo que estamos fadados a filosofar, custe o que custar, doa a quem doer, quando e onde for”, completa. 
 
Desafios da contemporaneidade

Outro desafio muito sensível da contemporaneidade é a produção e difusão sem controle de informações falsas que levam a consequências que podem ir de agressões individuais nas redes sociais a ameaças de sistemas políticos inteiros. Esse tema também estará nas discussões que a Semana de Filosofia da UFG fará, tendo em perspectiva como esses processos ficaram mais dinâmicos com a chegada de novos instrumentos tecnológicos. “São inúmeras as abordagens filosóficas que poderiam ser evocadas aqui para considerar esse tema tão importante das&nbsp;fake news, do discurso de ódio e da desinformação. Algumas delas nos ajudariam a identificar e definir os parâmetros para classificar uma informação como falsa, distorcida ou verdadeira”, observa a professora Veronica Calazans.

“Sem dúvidas, a humanidade de hoje presencia um ritmo acelerado de desenvolvimento tecnológico nunca visto anteriormente. Mais do que nunca, é preciso destacar que a ética é uma disciplina que se dedica a refletir sobre as condutas humanas, não no sentido de estabelecer dogmaticamente regras singulares que interditam isso ou aquilo”, prossegue a docente da UTFPR, convidada do evento. “A enorme complexidade dos fenômenos relacionados à tecnologia evoca a necessidade de que sejam consideradas múltiplas abordagens filosóficas, sociológicas, psicológicas e, até mesmo, computacionais, na tentativa de compreender, o quanto seja possível, os meandros dessa complexidade. Com a ética não é diferente”, destaca, sempre primando pelo fator humano nessa relação.

“Talvez as Ciências Humanas nunca foram tão importantes para dar sentido a um mundo que cada vez mais se perde em campanhas de desinformação”, defende o professor Bernardo Alonso, da UFMT, outro conferencista da Semana de Filosofia da UFG. “Não acredito em uma sociedade que calcula (ou deixa importantes decisões nas mãos de sistemas automatizados) não é capaz de interpretar minimamente textos, não tem ligação com arte ou curiosidade filosófica. Não acredito em pessoas que colocam dentes luminosos, se endividam para trocar de telefones e carros, que malham em academias como se não houvesse amanhã, mas não têm coragem de terminar uma obra literária ou ajudar o próximo”, afirma.

“A situação atual nos convida a aprimorar nossa capacidade reflexiva, pois não encontraremos respostas completas e definitivas nas obras filosóficas – clássicas ou não – para os dilemas que surgem e ressurgem em novas e mais complexas relações com as tecnologias da atualidade”, ressalta Veronica. “Assim, o propósito de estudar filosofia, mais especificamente a ética, não pode ser reduzido à busca por análises diretamente aplicáveis às novas realidades, mas por um aprofundamento do pensamento reflexivo, capaz de enfrentar os novos dilemas. Os dilemas contemporâneos constituem um vasto material para o ‘espanto’ filosófico, ou seja, para uma atitude inquieta diante da realidade, que não encontra sua realização plena na mera busca por regras preestabelecidas”, conclui.

<h3>Sem medo, sem deslumbre</h3>

A conferência de abertura da Semana de Filosofia da UFG, a cargo da professora Veronica Calazans, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, tem como tema O Ensino de Filosofia na Formação Técnica e Tecnológica: Uma Proposta Simondoniana. “Simondon foi um filósofo francês que viveu de 1924 a 1989 e se dedicou a uma filosofia da técnica centrada no conceito de objeto técnico e sua relação com o homem e o meio no qual ele está inserido”, responde a filósofa. “A proposta de Simondon diz respeito à tomada de consciência a respeito dos modos de existência do objeto técnico, pensado em suas múltiplas relações. Essa tomada de consciência é necessária, segundo o autor, em razão da alienação – desconhecimento – da cultura, em geral, com relação à técnica.” 
 
Nessa perspectiva, respostas a problemas causados por uso indevido ou inadequação às tecnologias estão no conhecimento. “A cultura ignora não apenas o funcionamento dos objetos técnicos, mas, igualmente, algo de humano que está aprisionado nesses objetos. Assim, ela considera o objeto técnico como externo – não pertencente à cultura – e se torna empobrecida, incompleta e, principalmente, desequilibrada em sua relação com a técnica. Tal desequilíbrio conduz a duas visões aparentemente contraditórias: a tecnocracia (uso da técnica para exercer o poder) e a tecnofobia (reação de medo irrefletido da técnica)”, analisa a professora. No conhecimento, que inclui educação e reflexão, está a chave para uma relação menos conflituosa e menos manipuladora com as novas tecnologias. 
 
“Ao aderir a uma proposta simondoniana para o ensino de Filosofia, no contexto da formação de técnicos, tecnólogos e engenheiros, para além dos objetivos gerais de uma formação filosófica – tais como desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo –, esperamos alcançar outras duas metas relevantes. Do ponto de vista didático, seguimos o percurso, realizado por Simondon, e iniciamos pelo tratamento ontológico (questões do ser, da existência) e epistemológico (questões a respeito do conhecimento) do objeto técnico para, então encaminhar as questões axiológicas (éticas, por exemplo)”, descreve Veronica. “Ainda que tenhamos convicção dos efeitos nefastos de conteúdos distorcidos, uma cultura alienada, quanto à técnica, não é capaz de enfrentar adequadamente o problema.” 
 
“Platão, há mais de dois mil anos, já refletia sobre as implicações da passagem de uma cultura baseada na oralidade para uma cultura baseada na escrita. Para nós (filhos da escrita) isso não parece uma grande mudança, mas foi algo gigantesco deixar de ter que guardar o saber dentro de si, deixar de armazenar os saberes importantes no ‘coração’ (saber de cor), e passar a&nbsp; depositar esse saber numa mídia externa (mesmo que fossem&nbsp; mídias que nos parecem muito singelas, como tábuas, papiros ou pergaminhos e não um HD ou um celular)”, recorda o professor Cristiano Novaes, da UFG. “Descartes, no século 16, se perguntava como posso saber que um outro ser com quem converso é realmente um ser pensante ou um autômato complexo para simular um comportamento como humano.” 
 
“Essas são questões clássicas da Filosofia. Por outro lado, também devemos nos perguntar pela especificidade com que essas questões são postas para nós hoje”, assinala Cristiano. “No que diz respeito à desumanização, a tarefa é dupla: é preciso pensar o objeto técnico, mas também o que entendemos propriamente por ‘humano’”, salienta Veronica. “Se a chamada ‘Inteligência Artificial’ avança de modo acelerado, nossa capacidade reflexiva precisa enfrentar o imenso trabalho de abordar a complexidade desse avanço, de modo a, nos termos de Simondon, regular as relações entre homem e máquina. A cultura alienada, na concepção de Simondon, é desequilibrada justamente por oscilar entre uma esperança ingênua no progresso técnico e o medo irrefletido desse mesmo progresso”, diz a docente. 
 
Programação – Semana de Filosofia da UFG 
Local: Prédios de Humanidades I e II (Campus Samambaia da UFG) 
 
Dia 29 – 19h 
Conferência de abertura: Profa. Dra. Verônica Ferreira Bahr Calazans (UTFPR) 
O Ensino de Filosofia na Formação Técnica e Tecnológica – Uma Proposta Simondoniana 
 
Dias 30 e 31 – 08h 
Minicurso: Antropofagia, Filosofia Ameríndia e Ensino de Filosofia 
Prof. Dr. Filipe Ceppas (UFRj) 
 
Dias 30 e 31 – 16h15 
Minicurso: Leibniz – O Mais Moderno dos Modernos? 
Profa. Dra. Tessa Lacerda (USP) 
 
Dia 30 – 19h 
Conferência: Prof. Dr. Napoleão Azevedo (UNILA) 
Virtudes e Potências da Alma em Tomás de Aquino 
 
Dia 31 – 10h15 
Conferência: Prof. Dr. Bernardo Alonso (UFMT) 
Informação, Desinformação e Alucinação Artificial 
 
Dia 31 – 12h15 
Conferência: Profa. Dra. Taísa Palhares (UNICAMP) 
Alberto da Veiga Guignard: Modernismo, Nacionalismo e Tradição na Arte Brasileira 
 
Dia 1º – 14h 
Palestra: Vida e morte no DF – O Encontro Inusitado de Adirley Queirós e Berkeley nas quebradas da Ceilândia 
Profa. Dra. Rachel Imanishi (UnB) 
 
Dia 1º – 15h30 
Mesa-Redonda: A revisão do cânone filosófico 
Profas. Dras. Tessa Lacerda (USP), Taisa Palhares (USP), Rachel Imanishi (UnB) e Veronica Ferreira Bahr Calazans (UFTPR) 
&nbsp;

Semana de Filosofia da UFG debate impacto das novas tecnologias na sociedade

Magazine

Magazine - título

Matéria - Magazine

Pensar

VÍDEO MATÉRIA GOIANIA NIVER

<img attr-cid="policy:1.3190048" attr-version="policy:1.3190048:1729631476" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3190048/WhatsApp Image 2024-10-21 at 18.49.00 (1).jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Pesquisadores apontam que temperatura na sombra de uma árvore chega a 6,5ºC mais fresco que áreas sem arborização (Diomicio Gomes / O Popular)

Planejada para 50 mil pessoas, Goiânia possui atualmente mais de 1,4 milhão de habitantes, conforme o Censo 2022 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pujante tanto na área imobiliária quanto comercial, esse forte crescimento da cidade, que é a terceira mais nova do país com 91 anos, acabou substituindo áreas naturais por construções, o que afeta diretamente o clima local. Um estudo apontou que os parques de Goiânia têm temperatura até 5ºC mais amena e maior umidade relativa do ar do que em locais sem vegetação.&nbsp; &nbsp;

<a href="http://opopular.com.br/canal" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp&nbsp;</a>

A pesquisa, divulgada&nbsp;em 2016&nbsp;pela Revista Baru e elaborada por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), comparou os parques Areião, Lago das Rosas, Bosque dos Buritis e Flamboyant com áreas com pouca arborização, como o cruzamento da Avenida Anhanguera com a Avenida Goiás e a Anhanguera com a Tocantins, ambas no setor Central; e o setor Negrão de Lima, todas áreas apontadas com a presença do fenômeno ‘ilhas de calor’.&nbsp;

<div attr-cid="policy:1.3191021" attr-version="policy:1.3191021:1729800960" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3191021" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3191021', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3191021">VÍDEO MATÉRIA GOIANIA NIVER (1.3191021)</a></div>

Os dados coletados entre os meses de março a maio indicaram que o Bosque dos Buritis, no setor Oeste, se destacou com a menor temperatura quando registrou 29ºC na média obtida em diversas áreas do parque enquanto que no cruzamento da Avenida Anhanguera com a Tocantins a temperatura chegou a 34ºC em média no mesmo dia. Quando comparado a temperatura na sombra de uma árvore, essa diferença sobe para 6,5ºC.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189640" attr-version="policy:1.3189640:1729547737" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189640/WhatsApp Image 2024-10-21 at 18.13.23.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Cruzamento da Avenida Anhanguera com a Avenida Tocantins, no setor Central (Rodrigo Melo / O Popular)

Ao POPULAR, um dos pesquisadores desse estudo, o professor do mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial e doutor em Engenharia Ambiental, Antonio Pasqualetto, afirmou que materiais como o concreto retêm o calor e a falta de vegetação colabora ainda mais para as temperaturas mais altas.&nbsp;&nbsp;

“Goiânia foi pensada como uma região mais plana do que a antiga capital, Cidade de Goiás, e com facilidade de crescimento. Entretanto, o concreto, o cimento e o asfalto impermeabilizam muito a área e esses tipos de materiais acabam retendo o calor. De outro modo, a arborização ameniza esse problema urbano, porque numa copa de uma árvore você tem uma redução de até 5ºC. Na região periférica, chega a dar uma diferença de 10ºC”, apontou.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189606" attr-version="policy:1.3189606:1729543889" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189606/IMG_6000-1024x683.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Bosque dos Buritis, no Setor Oeste (Jackson Rodrigues / Secom)

<h2>Setores mais quentes&nbsp;&nbsp;</h2>

Conforme a pesquisa, o bairro Negrão de Lima é principalmente residencial e se transformou em um local com predominância de edifícios verticais próximos uns dos outros. Essa proximidade impede que a radiação térmica escape, fazendo com que o calor fique preso entre as construções e aumente a sensação de calor no local, ao invés de se dissipar na atmosfera como em áreas mais abertas. &nbsp;

Os setores Central, Campinas, além da região da 44, no setor Norte Ferroviário, também são os locais com as maiores temperaturas, segundo o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim.&nbsp; &nbsp;

“A cidade cresceu, mas a arborização não acompanhou o mesmo ritmo. Na Praça do Bandeirante [Setor Central], por exemplo, temos as temperaturas mais elevadas. Se observar aquele ambiente temos poucas árvores. Em Campinas, nós já medimos com termômetro portátil temperaturas que chegam a 5ºC a mais. Em épocas de estiagem, isso causa uma sensação de um forno mesmo”, explicou. &nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189621" attr-version="policy:1.3189621:1729546220" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189621/WhatsApp Image 2024-10-21 at 18.22.51 (1).jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Avenida Anhanguera, setor Campinas (Diomicio Gomes / O Popular)

Além da escassez de árvores, essas regiões possuem uma atividade comercial intensa e grande fluxo de veículos. Segundo o professor Antonio Pasqualleto, a solução é aumentar as áreas de vegetação nesses locais, contudo, devido ao perfil desses setores, há uma maior dificuldade para executar um plano de arborização.&nbsp;&nbsp;

“Como Campinas é o bairro mais antigo da cidade, não foi pensada com ruas e calçadas muito largas. Os próprios comerciantes têm dificuldade de aceitar a introdução da arborização porque obstrui as fachadas”, explicou.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189620" attr-version="policy:1.3189620:1729546219" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189620/WhatsApp Image 2024-10-21 at 18.22.51.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Setor Campinas tem grande fluxo de carros, pedestres e intensa atividade comercial (Diomicio Gomes / O Popular)

O engenheiro ambiental afirmou que a falta de vegetação tem afastado os consumidores desses locais, que decidem procurar os shoppings que são climatizados.&nbsp;&nbsp;

“A vegetação melhora o ambiente térmico e atrai a população para o local. A região de Campinas e do Centro de Goiânia perderam acesso da população, que acabou optando por ir aos shoppings onde tem ar-condicionado e está protegido da radiação solar.”&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189611" attr-version="policy:1.3189611:1729544650" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189611/WhatsApp Image 2024-10-21 at 18.10.38.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Praça Joaquim Lúcio, a área mais arborizada do setor Campinas (Rodrigo Melo / O Popular)

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/arborizac-o-de-goiania-enfrenta-mudanca-de-ciclo-1.3189306" target="_blank">Arborização de Goiânia enfrenta mudança de ciclo</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/moradias-ocupam-70-dos-imoveis-edificados-em-goiania-1.3115085" target="_blank">Moradias ocupam 70% dos imóveis edificados em Goiânia</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/expans-o-urbana-e-especulac-o-imobiliaria-s-o-desafios-em-goiania-diz-observatorio-das-metropoles-1.3114776" target="_blank">Expansão urbana e especulação imobiliária são desafios em Goiânia, diz Observatório das Metrópoles</a></div>

<h2>Tendência de aumento da temperatura</h2>

A pesquisa que comparou a temperatura dos parques e regiões sem vegetação também fez projeções para 2026 em relação a temperatura e umidade relativa do ar, em Goiânia.&nbsp; &nbsp;

O estudo mostrou que as temperaturas podem continuar subindo e a umidade caindo (veja o gráfico abaixo) ao analisar que, de 1940 a 1980, houve o aumento de 2ºC, mas de 1986 a 2013 o acréscimo foi de 6,5ºC. Esse período, segundo os pesquisadores, é justificado pelo fato de que a cidade passou por um forte crescimento demográfico, de expansão horizontal e vertical, e de retirada de árvores para construções. &nbsp;

“Este ano nós tivemos a comprovação, atingindo um recorde de 41,4 graus em Goiânia. Da mesma forma, a linha vermelha indica a umidade relativa do ar, demonstrado com uma baixa umidade que chegou a 7%, mas também indicando que ainda não atingimos recordes. É bom se observar isso, porque a cidade se torna uma ilha de calor. Ao aquecer demais, ela acaba criando um microclima urbano desfavorável para a saúde pública”, explicou Pasqualetto.&nbsp;&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189596" attr-version="policy:1.3189596:1729542903" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189596/Captura de tela 2024-10-21 173450.png?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Gráfico do artigo 'A Influência dos Parques Urbanos no Microclima de Goiânia' que mostra a evolução da temperatura (°C) e umidade relativa do ar (%) obtidas por meio da estimativa da média dos anos anteriores (Reprodução / Baru)

<h2>Retirada de árvores</h2>

Ao POPULAR, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), responsável pela limpeza e execução da retirada das árvores, informou que de janeiro de 2021 a setembro de 2024 foram retiradas 22.840 árvores e 4.983 unidades caídas. &nbsp;

No mesmo período, foram plantadas 26.151 árvores nativas e adequadas para o perímetro urbano. &nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3084380" attr-version="policy:1.3084380:1700267280" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3084380/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Gameleira foi ser retirada pela Comurg em 2022, no Setor Leste Vila Nova, após pedido do proprietário do imóvel (Wildes Barbosa)

Conforme as informações da Prefeitura de Goiânia, apenas de janeiro a setembro deste ano, houve 2.603 pedidos de abertura de processos de moradores solicitando a análise para poda e extirpação de árvores em calçadas de Goiânia. Em todo o ano passado foram recebidas 4.421 solicitações.&nbsp;&nbsp;

<h2>Replantio nas “ilhas de calor”&nbsp;&nbsp;</h2>

Em junho de 2023, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) informou que foi realizado o plantio de 150 mudas de árvores nativas do Cerrado e frutíferas em uma das vias menos arborizadas da capital, no setor mais quente de Goiânia, segundo uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG): a Rua Quintino Bocaiúva, em Campinas.&nbsp; &nbsp;

As espécies plantadas foram indicadas por biólogos da Amma como as mais apropriadas para o local, como as mudas de murta, resedá, fruta do leite, jabuticaba, pitanga, ipê de jardim, hibisco, calandra, ipê tabaco, ipê branco e jasmim do caribe. &nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3189631" attr-version="policy:1.3189631:1729546759" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3189631/WhatsApp-Image-2024-01-17-at-17.53.37.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Nova legislação exige o plantio de árvores nas calçadas, permitindo que a prefeitura cobre essa ação durante vistorias, independentemente da idade da construção (Reprodução / Prefeitura de Goiânia)

Seis meses depois, houve o plantio de árvores de 170 mudas nativas do Cerrado no Centro da cidade, ao longo das avenidas Tocantins e Araguaia.&nbsp;&nbsp;

Já na Região da 44, segundo maior polo de moda do Brasil, foi realizado o plantio de 120 mudas de árvores em 2022, segundo a Amma.&nbsp;

<h2>Plano de arborização de Goiânia&nbsp;&nbsp;</h2>

Em janeiro deste ano, entrou em vigor o Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU) de Goiânia. A Lei Complementar Nº 374, aprovada 17 anos após os primeiros estudos da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), integra 12 leis que complementam o Plano Diretor de Goiânia.&nbsp;

Ela exige, por exemplo, o plantio de árvores nas calçadas, permitindo que a Amma cobre essa ação durante vistorias, independentemente da idade da construção. O não cumprimento pode resultar em autuações.&nbsp; &nbsp;

Além disso, a lei permite denúncias de árvores em risco, mesmo em propriedades privadas, e autoriza podas preventivas e a remoção de árvores mortas em áreas públicas sem autorização específica, desde que haja um parecer técnico. &nbsp;

Há também a recomendação de que sejam plantadas árvores nativas do Cerrado, em projetos de arborização de ruas, avenidas e canteiros centrais. Além disso, a lei sugere a diversificação das espécies como forma de “assegurar a estabilidade e minimizar os impactos na fauna local”&nbsp;&nbsp;

<h2>Disque-Árvore&nbsp;</h2>

Moradores já podem solicitar o plantio de árvores em suas calçadas pelo WhatsApp do Disque-Árvore: (62) 99639-7495. Basta o solicitante preencher o formulário e enviar as fotos da calçada. Técnicos da Amma avaliarão os aspectos da calçada e indicarão a melhor espécie para plantio, que será realizado pelo órgão ambiental.&nbsp;&nbsp;

Parques de Goiânia têm temperatura até 5ºC mais amena do que em locais sem vegetação, mostra estudo

diferenciação térmica

O Popular