O pintor e catador de material reciclável Baltazar Campos David, de 41 anos, foi indiciado pelo crime de incêndio com dolo eventual, ou seja, para a Polícia Civil ele tinha consciência dos riscos que corria ao acender um pedaço de papelão com fogo para, segundo versão do próprio, procurar uma pedra de crack que caiu em um vão entre as placas usadas esteticamente no viaduto da Avenida T-63. O acidente foi na madrugada de sexta-feira (15) e Baltazar chegou a ficar preso até segunda-feira (18).Baltazar contou que tinha ido até a Praça Simão Carneiro, embaixo do viaduto, por volta de 5h30, para fumar uma pedra e que acidentalmente deixou cair. Após isto, ele colocou fogo em um pedaço de papelão para tentar recuperar a droga que havia perdido. Como as placas são de alumínio composto, o incêndio rapidamente se espalhou, tomando também a lateral da trincheira da Avenida S-1. O pintor deixou o local e voltou para casa, a 230 metros dali.Reportagem do POPULAR na segunda-feira (19) mostrou que, desde janeiro de 2021, Baltazar já foi abordado 14 vezes pela Polícia Militar em alguma rua de Goiânia fumando crack ou, em um dos casos, maconha. Mas sempre estava com apenas uma pedra ou um cigarro. Por outro lado, o nome dele não consta no registro de abordagens feitas pelos serviços da Prefeitura de Goiânia ofertados a pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade.Em seu relatório final, o delegado Murillo Leal Freire citou estas passagens como argumento para sugerir que o pintor não se importa com suas atitudes quando elas infringem a lei. “(Ele) vem prosseguindo em suas atividades criminosas, o que bem demonstra a recalcitrância do investigado, notando-se claramente que não se importa com as consequências de seus atos”, escreveu.O uso de drogas é um crime previsto na legislação, mas em 2006 foi despenalizado. Geralmente as pessoas flagradas consumindo entorpecentes assinam um termo circunstanciado de ocorrência (TCO), documento usado para fatos de menor potencial ofensivo, e são liberadas.O relatório encaminhado pelo delegado à Justiça nesta quarta-feira (20) tem três páginas e o vício de Baltazar não é citado. É dito apenas que ele confessou “com detalhes todo o crime”, dizendo se tratar de um acidente. Para o policial, o resultado das atitudes do pintor era “plenamente previsível”. “Ademais, após atear fogo no viaduto não buscou nenhum tipo de ajuda para amenizar o agravamento do resultado.”O defensor público Daniel Bombarda Andraus, titular da 3ª Defensoria Pública Especializada Criminal da Capital, assumiu a defesa de Baltazar e disse com base no relato do indiciado que tudo indica se tratar de um incêndio culposo, quando não há intenção nem dolo eventual.Leia também:- Homem que ateou fogo acidentalmente em viaduto foi abordado 14 vezes pela PM, mas não pela saúde- Concreto do viaduto da T-63 não foi comprometido, dizem especialistas- Suspeito diz que incêndio em viaduto da T-63 não foi proposital“Ainda não houve a denúncia pelo Ministério Público, mas com base nas informações preliminares há indicações que ele será denunciado à Justiça por incêndio doloso. Caso isso aconteça dessa forma, vamos avaliar se há indícios que sustentem a denúncia. Porém, o relato dele indica que não houve a intenção de provocar o incêndio e, à priori, é nisso que iremos nos basear, a fim de pleitear a desclassificação para incêndio culposo”, afirmou ao POPULAR.ViadutoO viaduto da T-63 segue interditado, apesar de laudos terem garantido que a estrutura não foi comprometida. Entretanto, a Prefeitura vai precisar reforçar a proteção dos pilares antes de permitir o retorno dos carros pelas pistas superiores. A trincheira e o anel interno foram liberados completamente para o trânsito na noite de terça-feira (19).As placas usadas no viaduto são alvo de polêmicas pelos riscos de acidente. Desde 2019, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) tem pedido formalmente ao executivo municipal que fossem todas retiradas.