Condenado a sete anos de prisão no regime semiaberto pelo assassinato do marceneiro Wallacy Maciel de Farias, de 24 anos, o sargento da PM Lucimar Correia da Silva conseguiu recuperar o cargo em recurso julgado pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). O crime se deu na madrugada do dia 9 de setembro de 2017 e a condenação veio no dia 29 de julho deste ano, após Lucimar passar por um tribunal do júri. Na época, os jurados concordaram com a perda do cargo para o réu.A defesa do policial havia entrado com um recurso pedindo a nulidade do julgamento sob alegação de que os jurados foram manifestamente contrários às provas dos autos. O argumento foi contestado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), que justificou a decisão do júri com uma interpretação das provas apresentadas sem que houvesse nenhuma ilegalidade.O advogado Ricardo Naves, que defende o sargento, também argumentou que a perda do cargo como punição foi exagerada e “mediante a mais absoluta ausência de motivação e fundamentação”. “A sentença apelada limitou-se a apontar, de forma genérica e lacônica, a presença dos vetores do mencionado dispositivo legal, sem, contudo, apresentar motivação, ainda que precária, a justificar a necessidade da perda do cargo público.”Já o MP-GO afirmou que a perda do cargo está bem embasada quando o magistrado cita o artigo 92 do Código Penal levando em consideração que um crime doloso contra a vida e “executado no contexto do exercício da respectiva função inerente ao cargo”. Segundo o ministério, não seria coerente que, ao mesmo tempo em que o sargento é condenado por homicídio, o Estado “lhe outorgue poderes para agir em seu nome e em defesa da sociedade e da vida”.Em sessão no dia 29 de novembro, disponível no canal do Youtube da Justiça estadual, a 1ª Câmara Criminal do TJ-GO decidiu pela manutenção da pena, não acatando a tese defendida pela defesa de que os jurados foram “contrários” às provas, porém o órgão decidiu revogar a perda do cargo. Houve uma divergência entre os desembargadores que votaram na sessão apenas se a decisão do juiz que presidiu a sessão de júri foi fundamentada ou não, mas todos concordaram em devolver o cargo de sargento a Lucimar.O sargento aguarda a conclusão da fase de recursos em liberdade e só deve cumprir a pena se ela for mantida até todo o trânsito em julgado.Leia também:- Coronel aposentado da PM vai a júri popular por homicídio em Aparecida- MP pede anulação do júri que condenou empresário pela morte de transexual a 5 anos de prisãoEntenda o casoWallacy foi morto por Lucimar após ser abordado em seu carro no Residencial Canadá, em Goiânia. O marceneiro estava próximo da casa da namorada e um vizinho considerou sua atitude suspeita. Momentos antes, ele já havia sido abordado por outra dupla de policiais sem que tivesse sido encontrado nada de suspeito ou ilegal com ele.O júri concordou com a tese de que o sargento atirou sem que houvesse motivo para o ato. Além disso, segundo a acusação, o policial plantou arma e drogas no carro após o disparo. Imagens de câmera de segurança mostraram a dupla indo até o corpo e o veículo com luvas brancas antes da chegada do socorro médico e da perícia.A defesa do sargento defendeu que ele fosse inocentado, pois o disparo teria sido feito quando o marceneiro parou o carro de frente para a viatura e desceu “de forma desafiadora” com as mãos na cintura, como se fosse sacar uma arma. O MP-GO, entretanto, rebateu a informação mostrando com imagens de câmera e testemunhos que o tiro foi dado sem que a vítima esboçasse qualquer reação.