O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) entrou com recurso contra a decisão da Justiça que desclassificou de homicídio para lesão corporal seguida de morte o processo envolvendo a morte de Chris Wallace da Silva, aos 24 anos, após ser abordado e agredido por dois policiais militares em 10 de novembro de 2021. A sentença, do juiz Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, da 1ª Vara Criminal dos Crimes Dolosos contra a Vida e Tribunal de Júri, fará com que o processo vá da Justiça comum para a Militar.O MP-GO havia denunciado os soldados Bruno Rafael da Silva e Wilson Luiz Pereira de Brito Júnior pelo crime de homicídio triplamente qualificado, com base nas investigações feitas pela Polícia Civil. Chris Wallace sofria havia 14 anos de câncer nos ossos e, segundo o inquérito, morreu em decorrência das agressões sofridas durante a ação policial. Ainda segundo a acusação, a vítima avisou os dois PMs que tinha a doença e mesmo assim as agressões continuaram.Em sua decisão, o magistrado entendeu que o caso foi de lesão corporal porque a acusação não conseguiu mostrar no processo que os policiais tinham intenção de matar a vítima. Eduardo não entrou no mérito se os acusados agrediram ou não Chris Wallace. O que ele fez foi analisar se a acusação se trata de um crime de homicídio ou de lesão corporal.Até o momento, já foi realizada a audiência de instrução e julgamento e a apresentação das alegações finais, além do acréscimo de um laudo com a simulação dos fatos. Ao dar sua sentença que definiria se o caso iria para o júri, o juiz entendeu que pelo que consta no processo os policiais agiram com a intenção de agredir a vítima, mas devido à doença de Chris Wallace o resultado “foi mais grave que o almejado”.Para os promotores Geibson Rezende e Sebastião Marcos Martins, que assinam a petição, os policiais tinham, sim, a intenção de matar Chris Wallace ou pelo menos assumiram o risco deste resultado, conforme argumentam estar claro nas provas arroladas durante a investigação da Polícia Civil e na instrução do processo judicial.Leia também:- PMs acusados de matar jovem com câncer vão responder por lesão corporal- Família atribui morte de jovem que lutava contra câncer a abordagem de PMs em Goiânia- Ministério Público de Goiás pede mais rigor em investigações de mortes em ação policial- Peritos fazem simulação de abordagem policial que resultou em morte de jovem com câncer nos ossos- PMs denunciados por morte de jovem com câncer nos ossos em Goiânia têm antecedentes por homicídioO MP-GO também afirma que a desclassificação foi “precipitada”, pois na fase em que o processo se encontra caberia ao Judiciário “apenas admitir ou rejeitar a acusação, sem penetrar no exame do mérito” e que esta decisão é exclusiva do Júri.“Com efeito, o exame de controvérsia que diz respeito ao animus do agente, ou seja, emissão de juízo de valor sobre o elemento subjetivo do tipo penal, é matéria reservada ao Tribunal do Júri, juiz natural da causa”, escreveram os promotores.Os promotores alegam que há elementos probatórios nos autos, com destaque para as provas orais, apontando que os policiais tinham conhecimento das consequências de seus atos e que mesmo assim “se aquiesceram, agindo com indiferença e desapreço à vida humana, o que sinaliza em direção à configuração do dolo eventual”.Diferentemente do crime culposo, quando o acusado não teria intenção de cometê-lo, o dolo eventual é quando o agente causador assume o risco pelas consequências de seus atos. Para o MP-GO, os policiais sabiam que as agressões poderiam levar o rapaz à morte, mesmo que não tivessem a intenção de matá-lo naquele momento.Chris Wallace tinha saído de casa com um amigo no começo da noite de 10 de novembro quando foi abordado pelos policiais e agredido. Ao voltar para casa, passou mal, foi internado e morreu seis dias depois.Os policiais alegam na defesa que realmente abordaram Chris no dia em que ele foi internado, mas negam a agressão.