O fim do inquérito policial que investigou a morte da universitária Susy Nogueira Cavalcante, de 21 anos, ocorrida em maio deste ano, deixou uma pergunta no ar: a traqueostomia realizada na jovem que teria provocado a embolia pulmonar que tirou sua vida foi um procedimento necessário? Esta também é uma dúvida que persegue o delegado Washington da Conceição, titular do 9º Distrito Policial de Goiânia, que presidiu o inquérito encaminhado ao Poder Judiciário na quinta-feira (14). Dois profissionais médicos gestores da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Goiânia Leste, onde Susy morreu, foram indiciados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.“Houve negligência. Não houve investigação médica da doença, da causa, do problema dela. Tudo contribuiu diretamente ou indiretamente para a morte da Susy”, afirmou ao POPULAR o delegado Washington Conceição. Em julho, o Serviço de Verificação de Óbito apontou como causa da morte da universitária uma embolia pulmonar. Parecer médico elaborado pelo Instituto Médico Legal, respondendo a cerca de 60 perguntas elaboradas pela força-tarefa composta de três delegados e 12 agentes da Polícia Civil que investigou o caso, revelou que o bloqueio nas artérias dos pulmões pode ocorrer após a traqueostomia. Durante a investigação, o 9º DP encaminhou ao Conselho Regional de Medicina (Cremego) um pedido de instauração de procedimento administrativo para saber se os atos médicos dentro da UTI obedeceram um padrão de normalidade. “Nós cobramos este resultado para incluir no inquérito antes de remeter ao Poder Judiciário. Como não foi concluído, há um anexo aguardando a manifestação do Cremego”, explicou o titular do 9º DP.SindicânciaPor meio de nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou ao POPULAR que a sindicância instaurada para apurar se houve infração ética por parte dos médicos no atendimento à estudante Susy Nogueira está em tramitação. Também afirmou que a sindicância foi aberta em junho de 2019, logo que tomou conhecimento da morte da paciente no Hospital Goiânia Leste.Advogado dos pais de Susy, Darlan Alves Nogueira fez uma cópia do parecer do IML para ser entregue a um médico legista amigo da família. Para o advogado não há uma clareza sobre a necessidade da traqueostomia, abertura na parede da traqueia para facilitar a entrada de oxigênio quando há obstrução do ar. Susy foi internada em razão de uma crise convulsiva e teria, durante os dez dias de internação, adquirido uma pneumonia, mas os pais negam que o problema tenha sido comunicado a eles. AGRESSÃO SEXUAL Susy Cavalcante, que tinha um histórico de crises convulsivas desde os 15 anos, controladas há dois, passou mal no dia 16 de maio durante as aulas do curso de Arquitetura na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Ela foi levada para o Hospital Goiânia Leste, no Setor Universitário e deu entrada na UTI, cuja gestão é terceirizada à Organização Goiana de Terapia Intensiva (OGTI). No dia seguinte, a enfermeira chefe da OGTI procurou a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) para registrar um possível abuso praticado naquela madrugada por um colaborador. Imagens das câmeras de monitoramento indicavam a agressão. Foi a própria Susy que, intercalando momentos de sedação e lucidez, falou para uma enfermeira sobre o que tinha vivido. Ela foi entubada logo em seguida e não conseguiu explicar aos pais o seu drama, embora tivesse tentado em vários momentos, segundo seu pai, o policial civil aposentado Vanderly Cavalcante. Dez dias após ter entrado na UTI, a jovem morreu. “Ela era uma pessoa jovem e saudável, só tinha esses crises, mas há dois anos estavam controladas”, disse em outubro ao POPULAR o pai da universitária. Dois dias antes da morte da filha, Vanderly pensou em transferir Susy para outro hospital, mas, segundo ele, foi impedido pelos médicos. “Me cobro muito. Por que não tive uma luz de tirar a minha filha dalí?” Ontem Vanderly informou que ainda vai decidir “sobre o rumos que irá tomar” após o fim do inquérito aberto após pressão da família para investigar o motivo que levou Susy à morte.