-Imagem (1.2502363)A Polícia Civil concluiu que agiram em legítima defesa os dois policiais militares que mataram o ex-lutador de MMA e vigilante José Carlos Alves Coimbra, de 48 anos, após um aparente surto psicótico deste em via pública no Jardim América, em Goiânia, na manhã do dia 2 de agosto, uma terça-feira. O ex-lutador foi atingido por um disparo no abdômen no momento em que avançava contra a dupla de soldados da PM e morreu no local.Diversos relatos apontam que José Carlos apareceu no bairro por volta de 10 horas andando aleatoriamente, às vezes de forma acelerada, agredindo gratuitamente pessoas que estivessem próximas, chutando carro, e falando frases desconexas. O inquérito, ao qual O POPULAR teve acesso, não aponta em que momento começou o suposto surto nem como José Carlos chegou àquele local.Em seu relatório final, o delegado Rhaniel de Almeida Pires, adjunto da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), afirmou que os soldados Fabíola Cavalcante de Sousa, de 31 anos, e Robson Massaki Watanabe, de 35, agiram “de forma legítima, tendo buscado evitar tal desfecho enquanto foi possível”. Ele destaca no documento que os policiais não possuíam na viatura nenhum tipo de armamento não letal para a abordagem.O delegado afirmou que ao analisar os depoimentos e as imagens gravadas tanto por câmeras de segurança como por populares que estavam no local, mesmo o vigilante não estando armado no momento dos disparos, ele avançava de forma ameaçadora contra os policiais, “o que gerava risco concreto de que pudesse tentar lhes tomar as armas de fogo”.“Nesse momento, entenderam os militares que suas vidas e as vidas de terceiros estavam em risco, efetuando um disparo de arma de fogo cada, tratando-se do único meio que dispunham para repelir a injusta agressão sofrida”, escreveu Rhaniel, na conclusão do inquérito remetido ao Judiciário no final de agosto.Ainda segundo o delegado, José Carlos estava naquele momento em situação de flagrância pelos crimes de lesão corporal, dano, dano qualificado, desobediência e resistência, “justificando, assim, sua abordagem por parte dos policiais”. Além disso, durante toda a ação até o momento dos disparos, “percebe-se que os policiais não agiram com violência contra o abordado, buscando verbalizar e se afastar a fim de se evitar o embate”.Leia também:- Homem em aparente surto psicótico é morto em ação policial no Jardim América, em Goiânia; veja vídeo- Especialistas dizem que morte de homem que aparentava surto poderia ser evitada- OAB-GO vai acompanhar investigação do caso de homem em surto morto em ação da PM, em Goiânia“O abordado investe na direção dos policiais militares, mesmo após intensa verbalização por parte deles. De acordo com os militares, enquanto avançava, o abordado ameaça tomar as suas armas de fogo e os matar, tratando-se de alegação crível, que guarda consonância com os demais termos de depoimento colhidos”, escreveu o delegado.Vídeos gravados no local mostram o momento em que a viatura chegou, na esquina da C-131 com a C-142. Em um primeiro momento, José Carlos parece se entregar, se ajoelha, mas em seguida se levanta e avança em direção aos policiais. Em um momento, ele pula em cima da viatura, tenta arrancar o giroflex e cai dando uma cambalhota. Depois vai em direção aos policiais novamente, quebrando o retrovisor do veículo.Por fim, o ex-lutador segue em direção aos soldados. Uma testemunha disse ter ouvido ele dizer para a policial: “Você é muito nova, você é mulher e já tem farda”. A dupla ficou acuada contra um muro. A primeira a atirar é a policial, seguida pelo seu colega. O tiro dela atingiu a porta de um escritório em frente e o projétil que saiu da arma do soldado não foi localizado. Segundo o delegado, não é possível saber qual dos dois disparos atingiu a vítima.Depoimentos destacam situação de surtoOs depoimentos de testemunhas que tiveram contato com o ex-lutador revelam um homem desorientado e agressivo andando acelerado e sem rumo aparente. Um policial militar aposentado de 72 que teve o veículo chutado por José Carlos disse que chegou a questionar o homem sobre o motivo da agressividade, e ouviu como resposta apenas um “não”, seguido de um empurrão e um soco. O ex-lutador saiu correndo em seguida.Uma outra testemunha, um empresário de 49 anos, disse que minutos antes da viatura chegar o ex-lutador fez menção de querer ir embora do local, mas que ele e os populares o distraíram. Além disso, três homens tentaram conter José Carlos, sem sucesso. Uma testemunha disse que ele foi derrubado apenas quando um grupo de 10 populares o cercou, mas logo conseguiu se esquivar e seguir pelas ruas do bairro. O ex-lutador foi amarrado pelas pernas, mas também rapidamente se soltou e fugiu.Uma irmã de José Carlos disse na delegacia que ele nunca se envolveu antes em confusões nem tinha passagem pela polícia. Pai de cinco filhos e divorciado, ele teria começado a apresentar sinais de problemas de saúde mental em meados de 2020, quando ainda morava em Santa Catarina, quebrando alguns objetos em casa, mas sem machucar ninguém. Ainda segundo a irmã, ele buscou tratamento, tomava medicamentos e foi para a cidade de sua mãe, no Pará. No final de 2021, resolveu se mudar para Goiânia.Ainda no depoimento, a irmã comentou que em conversa com a mãe deles consideraram a possibilidade de ele ter abandonado os medicamentos porque ficava com sono e o trabalho de vigia era à noite, mas destaca que ele não falava sobre o assunto com elas.Um colega do ex-lutador, que chegou a morar junto com ele quando ambos se mudaram para Goiânia em dezembro, contou que José Carlos sempre foi uma pessoa tranquila, que via ele tomando os remédios, sem saber do que se tratava, e que nunca falaram sobre saúde mental.Ainda faltam laudosO Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) chegou a pedir a devolução do inquérito ao delegado para que fosse concluído apenas após a entrega dos laudos referentes ao local de morte e do disparo de arma de fogo, além do relatório da reprodução simulada dos fatos.Entretanto, o delegado o reencaminhou para a Justiça argumentando que a reprodução está agendada apenas para novembro e que o resultado dela poderia ajudar a identificar o autor do disparo que atingiu José Carlos, mas não mudaria a conclusão do inquérito.Os laudos aguardados, segundo ele, “não possuem o condão de alterar a percepção da Polícia Civil no sentido de que os policiais agiram amparados pela causa excludente de ilicitude da legítima defesa”.-Imagem (1.2504298)