Aumentou consideravelmente em todo o território goiano a procura por assistência médica em razão de sintomas de síndrome gripal. A semelhança das manifestações, que podem estar relacionadas à Covid-19, à influenza ou mesmo à dengue, dificulta o diagnóstico. A demora na definição tem causado acúmulo de pacientes nas unidades de saúde. O Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) marcou para o dia 12 uma reunião extraordinária para discutir estratégias de assistência nos municípios.Secretário de Saúde de Uruaçu, município do Norte de Goiás, e diretor executivo do Cosems, Josimar Nogueira disse ao POPULAR que os relatos de titulares das pastas de Saúde são muito semelhantes nos primeiros dias de 2022. “Nesta época do ano é comum o aumento de casos de gripes sazonais, só que agora acentuou de forma expressiva. Cidades como Niquelândia, Uruaçu, municípios do Entorno do Distrito Federal, Itumbiara, para citar alguns, atendiam nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), cem pessoas em 24 horas, agora são 300. Alguns municípios, como Jaraguá, estão criando centros referenciais para atender a alta demanda de síndrome gripal.”Josimar Nogueira ressalta que, apesar da alta demanda nas unidades de saúde, não há registro de crescimento alto no número de internações e óbitos. “Sobretudo em relação aos casos de Covid-19, e atribuímos isso à imunização. A vacina contra o coronavírus está fazendo a sua função que é atenuar os sintomas graves da doença e impedir mortes, assim como a vacina da gripe e ela está disponível em todos os postos de saúde. É importante se vacinar para não lotar as unidades. O que estamos percebendo é que a maioria dos casos é de síndrome gripal, mas diante das dúvidas, aumentou a demanda.”Titular da pasta da Saúde em Catalão, município do Sudeste goiano, Velomar Rios confirma a situação. “Como os sintomas de Covid, da dengue e da gripe são muito semelhantes, o sistema de saúde está confuso. Em Catalão o que predomina é a gripe comum. A demanda está tão alta, que na UPA o tempo de espera para atendimento está chegando a três horas. E aumentamos o número de salas. Na rede privada as pessoas estão aguardando o dobro do tempo. Para Velomar Rios, há um descaso com a pandemia. “As pessoas não higienizam as mãos, andam com a máscara abaixo do nariz e estão se aglomerando. O cenário é muito ruim. Com as festividades de fim de ano, vamos ver o pico em 15 de janeiro”, acredita.Velomar Rios teme um desfalque de pessoal no atendimento. “O que mais me preocupa é o material humano. Estou recebendo muitas queixas de profissionais que estão cansados, que não aguentam mais a carga de trabalho. Estou pedindo a Deus que esta situação não se prolongue porque os profissionais de saúde não querem mais entrar para a rede pública. A população se cansou da pandemia, mas a Covid-19 não”.Na cidade de Goiás, o secretário de Saúde, Marcos Elias, cita um cenário parecido. “Todo o sistema de saúde está muito demandado. Somente em uma delas, a Sentinela, que na semana passada recebia de 10 a 12 pessoas por dia, atendeu nesta terça-feira (4) 200 com sintomas gripais.” Segundo ele, os casos de contaminação diária de Covid-19 aumentaram muito nos últimos dias. Nesta terça-feira (4) foram confirmados 20 registros e nesta quarta-feira (5) até às 10 horas já eram 18. “A procura nas unidades de saúde aumentou em torno de 60%”, estima.Demanda cresce em Senador CanedoSenador Canedo também tem observado aumento nos atendimentos, especialmente nas unidades de urgência da cidade. Diretora de vigilância em saúde do município, Flávia Régia acredita que o impacto tem relação direta com as festividades do fim do ano, especialmente pelo aumento dos casos de síndromes gripais, mas ela relata atendimentos diversos, entre eles Covid-19 e dengue. Flávia Régia informa que uma das unidades de urgência relatou na última segunda-feira (3) ter realizado 800 atendimentos. “É um número muito alto, mais que dobrou o que é considerado normal.” A diretora de vigilância afirma que a cidade ampliou a quantidade de profissionais para conseguir atender a todos que procuram as unidades. “Mas precisamos que as pessoas entendam que casos simples devem e precisam ser tratados nas 23 unidades básicas. Nesses locais existem médicos, parcerias com laboratórios para que os exames de hemograma sejam feitos com agilidade e, principalmente, para não lotar as quatro unidades de urgência.”A diretora relembra que a cidade realizou testagem em massa de moradores antes das festas de fim de ano para, segundo ela, oferecer mais segurança para quem fosse encontrar os familiares. A cidade prepara para os dias 10, 11 e 12, retestagem para acompanhar os casos de Covid-19 no município. “É um período em que as pessoas estão em dúvida e devem buscar o médico. A retestagem vai monitorar novos casos de Covid-19, e se for necessário, a pessoa pode procurar o posto com o exame em mãos.”Além disso, Flávia relata procura de pacientes de outras cidades, inclusive da capital. Ela acredita que a proximidade, como no caso do Pronto Socorro São João, por exemplo, faz com que haja procura de moradores de Goiânia. “Mas entendemos que este problema não é só daqui. O Brasil todo passa por essa crise no atendimento por conta do aumento de casos de síndromes gripais.”Caldas Novas tem 6 mil atendimentos em 5 diasPrincipal destino turístico de Goiás, Caldas Novas, com 95 mil habitantes, mas que chega a receber 130 mil visitantes aos fins de semana ou feriados, também registra aumento de demanda por atendimento nas unidades de saúde. Nesta quarta-feira (5) os números foram repassados durante reunião das equipes da Secretaria Municipal de Saúde. Desde o primeiro dia de 2022 a UPA 24 horas e o Hospital de Retaguarda registraram 6 mil atendimentos, enquanto a média oscilava entre 35 a 50 diários. Segundo a assessoria de comunicação de Caldas Novas, no Hospital de Retaguarda, unidade de referência para síndrome gripal, o aumento da demanda foi de 852% do dia 23 de dezembro até terça-feira (4), coincidindo com as festividades do fim do ano. Houve crescimento substancial nos números da Covid-19 no município entre 23 de novembro até agora, com 3.800% de aumento. Entretanto, os sintomas são leves, não impactando nas internações, o que é atribuído à vacinação contra a doença. O número de casos de dengue em Caldas Novas cresceu 178% em dezembro de 2021 em comparação ao mês anterior. O dado confirma para o que a Consems vem alertando. “As pessoas precisam fazer a parte delas, cuidar do quintal, não deixar água parada. É muito fácil prevenir a dengue”, afirma Josimar Nogueira. Ele reafirma que o aumento de notificações da doença provocado pela picada do mosquito Aedes aegypti é uma realidade em todas as regionais de saúde de Goiás. ValeEm Ceres, no Vale do São Patrício, a secretária Marjuery Seabra disse que a procura por atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e na UPA por pessoas com sintomas respiratórios realmente aumentou, mas lembra que os três casos de Covid-19 confirmados nesta terça-feira (4) refletem o que já era esperado. “São pessoas idosas, que estiveram em casa durante dois anos, e agora se reuniram em festas de família. As pessoas relaxaram, acham que a pandemia acabou e, nesta época veio com o agravante da dengue e da influenza. Como em outros municípios, Ceres, que faz parte da regional São Patrício 1, não registrou alta no número de internações e óbitos por Covid-19. “Nosso esquema vacinal está acima da média e isso está fazendo a diferença. A adesão tem sido muito grande.” Marjuery Seabra lembra que todas as doenças que têm provocado alta lotação das unidades de saúde dependem da auto-proteção, seja ela Covid, dengue ou gripe.