A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Goiânia já negou o pedido de tombamento de cerca de 200 dos 392 imóveis que constam em uma lista elaborada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e universidades federais no começo da década passada. Após entrar na Justiça em 2011, o MP-GO conseguiu oito anos depois que a Prefeitura avaliasse cada um desses imóveis para transformá-los ou não em patrimônio histórico e arquitetônico.Na semana passada a Secult publicou a terceira resolução na gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) com arquivamento de mais oito processos do inventário de bens de interesse histórico e cultural proposto pelo MP-GO. Agora já são 34 imóveis avaliados na atual gestão e mais cerca de 170 na anterior, do então prefeito Iris Rezende. Nenhum a favor do tombamento.A secretaria não detalha quais imóveis foram avaliados nem os motivos para negar o tombamento. Cruzamento de dados feito pelo POPULAR com base nas informações que constam no inventário, no Diário Oficial do Município e no Google Street View e em conversas com vizinhos mostram que um dos imóveis foi demolido entre 2017 e 2018 e dois tiveram a estrutura bastante alterada nos últimos anos.Há também o caso de um imóvel que está abandonado, outro que é um restaurante e um que nos últimos anos teve o muro alterado para ficar maior, escondendo o interior da propriedade, aparentemente abandonada. Dois dos processos que constam na resolução publicada na semana passada pela Secult não foram identificados pela reportagem.Leia também:- Nova lista exclui seis imóveis de tombamento em Goiânia- Lyceu de Goiânia será reformado no ano que completa 85 anosFatos históricosO presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Secult, Welington dos Santos Silva, afirma que o órgão tem tido dificuldade para encontrar subsídios para tombar os imóveis listados dentro dos critérios estipulados pela legislação.Além de questões tipológicas, há levantamento sobre fatos históricos, quem morou na residência, o arquiteto que a projetou e fatos memoráveis que o imóvel guarda, por exemplo.Entretanto, segundo Welington, muitos estão bastante alterados, seja por uma janela ou porta até modificações mais drásticas. “A maioria não tem o valor mais. Mantém a tipologia, mas com muitas modificações, o entorno todo transformado”, disse. Ele acredita ser necessário um processo de conscientização junto aos proprietários sobre a importância da preservação, mas também propostas de estímulos por parte do poder público para que isso ocorra.O presidente do conselho diz que uma das principais dificuldades na hora de avaliação sobre o tombamento acontece nas visitas aos imóveis, pois raramente se consegue entrar nas propriedades. “Existe uma dificuldade em se tratar diretamente com o proprietário. Muitos veem só o lado financeiro, que vai ser prejudicado e não temos tido êxito ao conversar. São muito poucos os que querem preservar seu imóvel”, comentou.Welington diz que esta tem sido uma preocupação da Prefeitura e que o benefício de isenção total de IPTU incluída na reforma do Código Tributário Municipal (CTM) no ano passado é um exemplo disso.Proprietários de imóveis tombados que mantiverem as características originais não pagam o imposto a partir de 2022. “São ações para que os proprietários entendam a importância de guardar a história de Goiânia. Infelizmente, temos muitos que já foram demolidos”, disse.Apesar dos resultados até agora, o presidente do conselho diz que até 15% dos imóveis na lista ainda podem ser tombados. Além dos 190 restantes do inventário que foi judicializado, há outra lista feita pelo MP-GO com 321 endereços, o que daria em torno de 75 preservados. Welington afirma que os primeiros tombamentos devem ser divulgados em breve.