Relatório elaborado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta falhas na sinalização e na iluminação como as principais causas do acidente na madrugada de 24 de dezembro envolvendo um ônibus na BR-153 que matou seis pessoas e deixou outras 45 feridas na altura do córrego Santo Antônio, em Aparecida de Goiânia. Ainda segundo o documento, o motorista do ônibus não estava embriagado e dirigia abaixo da velocidade máxima permitida para o local.“Pelos levantamentos realizados e os vestígios encontrados, pode se concluir que o fator principal do acidente foi a ocupação da faixa contrária por V1, aliada à sinalização inadequada do desvio no local”, escreveu o agente da PRF que esteve no local. “V1” é o ônibus em questão.“A iluminação no local do acidente é inexistente, prejudicando a visibilidade no período noturno, fator este que contribuiu para o acidente (há postes de iluminação, mas todos inoperantes)”, diz o relatório.O acidente aconteceu em um trecho da BR-153 que estava parcialmente interditado pela Triunfo/Concebra, concessionária responsável pela rodovia naquela região, após o afundamento na pista no sentido Goiânia/Aparecida dias antes. Por isso, os veículos que trafegavam neste sentido precisavam usar a faixa da esquerda da pista no sentido contrário. Era justamente por esta faixa, antes do local de desvio, que trafegava o ônibus da Real Expresso.O ônibus ia de São Paulo para Brasília, com parada em Goiânia. Por volta de 2h10, ao se aproximar do km 508, alguns metros antes do desvio onde os veículos que trafegavam no sentido Goiânia/Aparecida voltavam para a pista de origem, bateu primeiro em alguns cones, depois em um carro da concessionária, depois em um caminhão e, por fim, caiu no aterro do córrego.Na descrição da PRF, o veículo da concessionária estava posicionado de forma a sinalizar o desvio, mas, como se estava estacionado perpendicularmente, dificultava a visualização de seu dispositivo luminoso de emergência de cor âmbar.Em seu depoimento, ao qual O POPULAR também teve acesso, o motorista do ônibus, Edmar Carlos da Mota, de 31 anos, disse que não viu o carro, uma Saveiro, estacionado, muito menos sentiu o impacto – uma colisão transversal-, pois já estava preocupado com o caminhão que vinha na direção oposta.Após atingir a Saveiro, o ônibus avançou mais 17,5 metros e bateu de frente com a parte esquerda do caminhão que vinha na mesma faixa, sentido contrário. Depois, o veículo foi mais 31,8 metros até acertar a defensa metálica existente na margem da rodovia, indo mais 21,9 metros até tombar em um barranco próximo ao leito do Santo Antônio.No relatório, a PRF diz não ter sido possível determinar quando começou a sinalização de alerta para quem vinha de Aparecida para Goiânia porque o ônibus derrubou tudo. Também não deu para ver as marcas de freio porque após o acidente começou a chover e a iluminação é inexistente.Os agentes da PRF constataram no disco do cronotacógrafo do ônibus que o motorista estava abaixo da velocidade regulamentar para o local no momento da colisão. Poucos metros antes, o ônibus havia passado por um radar de 80 km/h.Mota também realizou o teste do etilômetro e o resultado obtido foi negativo. O mesmo exame não foi feito no motorista da Saveiro, pois na hora do acidente ele não estava dentro do carro, nem no do caminhão, pois estava internado passando por uma cirurgia na hora.Reportagens publicadas pelo POPULAR na época do acidente já mostravam que a sinalização no local para o desvio era precária e a concessionária fez algumas alterações posteriormente. No final de janeiro, também houve uma mudança no desvio em si, pois, da forma como estava, vinha provocando constantes congestionamentos, principalmente no sentido Aparecida/Goiânia.O boletim de acidente de trânsito é feito por agentes da PRF em todas ocorrências com vítimas, principalmente quando há mortes. Este sobre o acidente no dia 24 de dezembro foi assinado em 3 de janeiro e anexado ao inquérito que tramita no 7º Distrito Policial (7º DP) de Aparecida de Goiânia.Sem respostasO caso atualmente está na Justiça, onde a Polícia Civil aguarda um posicionamento para a prorrogação do inquérito. O pedido foi feito no dia 10 de fevereiro. O POPULAR procurou o 7º DP, mas a informação é que qualquer pronunciamento seria dado apenas após a decisão judicial.Em meados de janeiro, o inquérito havia sido transferido da Delegacia de Investigaçaõ de Crimes de Trânsito (Dict) para o 7º DP, sob alegação que a primeira trata de casos ocorridos apenas em Goiânia.A Triunfo/Concebra argumentou que o boletim da PRF é sigiloso e que vai aguardar a conclusão das investigações.A Prefeitura de Aparecida, responsável pela iluminação da BR-153, tem afirmado que caberia à concessionária cuidar deste serviço no local, o que a empresa nega.No dia 3 de fevereiro, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública cobrando que o executivo municipal assuma a manutenção da iluminação, afirmando que 11,6 km dos 13,4 da BR-153 que atravessa a cidade está “sem iluminação em funcionamento ou com funcionamento irrisório”.Motorista nega problema em freioEm depoimento prestado no dia 28 de dezembro, o motorista do ônibus, Edmar Carlos da Mota, afirmou que não existia nenhuma sinalização antes do desvio indicando que ali havia uma interferência na pista. Ele alega que trafegava a no máximo 70 km/h quando percebeu que iria bater de frente com o caminhão.Mota afirmou que estava na Real Expresso há cerca de um mês, mas já tinha experiência de quatro anos e meio como motorista profissional. Ele havia pego o ônibus às 19 horas em Uberlândia (MG), e entregaria o veículo para outro motorista em Goiânia. Antes do acidente, havia parado em Araguari (MG) para os passageiros se alimentarem, e em Caldas Novas para alguns desembarques. Ele negou que estava cansado na viagem.Antes do impacto, Mota conta ter visto de longe os faróis do caminhão, mas como não havia, segundo ele, sinalização de desvio no trecho, acreditou que o outro veículo estava na pista correta. Só quando estava bem próximo percebeu que estavam na mesma faixa da pista no sentido para Goiânia.No dia do acidente vazou um áudio dele alertando sobre problemas no freio do ônibus horas antes do acidente. No depoimento, o motorista disse que não teve nenhum problema na hora que precisou frear e que quis apenas dizer no áudio, postado em um grupo de motoristas, que um dos lados do freio estava “frenando com mais intensidade”. Ele reforçou que não via aquilo como falha, mas como algo que poderia ocasionar um atraso na viagem.Em um vídeo gravado pelo motorista ainda no hospital logo após o acidente, cuja veracidade foi confirmada por ele no depoimento, ele diz que fazia mais de 15 dias que não passava pelo local e não sabia da interdição. “A última vez que passei não tinha nenhuma interdição. Do nada, só senti aquele tumulto de cone, caminhão parado e obra, e não vi sinalização para trás”, afirmou.Mota disse também que pela experiência dele na estrada deveria ter avisos anteriores na pista informando que naquele local haveria cones, pista de mão dupla, “tudo preparando para aquele desvio lá”.No hospital, ele disse que viu os cones e afirmou que não havia nenhum carro estacionado da concessionária, indicando que não viu o veículo na hora do impacto, apenas os cones e o caminhão. Ao conversar com os policiais no vídeo, Mota comentou que ao sair do ônibus viu a Saveiro danificada e achou que foi a causa do acidente.