O professor de Geografia Wellington Divino Pereira, que em março foi afastado por 60 dias do Colégio Estadual Militar Américo Antunes, em São Luís de Montes Belos, desistiu de voltar a dar aulas na unidade. A decisão do profissional acontece mesmo após o arquivamento do processo administrativo em que era acusado, pelo comandante diretor e por cinco pais de alunos, de doutrinar os estudantes com comunismo e ateísmo. Um parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE) de junho dá permissão para que o profissional volte a dar aulas no colégio militar. As reclamações contra Wellington foram repassadas para a Secretaria de Educação (Seduc) no mesmo dia que ele discordou da leitura do slogan da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL), “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, durante a formação matinal com hino nacional, antes do início das aulas, em 27 de fevereiro deste ano. O pedido da leitura da frase foi feita pelo próprio Ministério da Educação na época, mas a orientação havia sido revogada no dia 26 daquele mês, após pedido de explicações do Ministério Público Federal. Desde o começo do processo, Wellington manifestou vontade de permanecer no colégio militar, negou doutrinar o estudantes e disse estar sendo alvo de perseguição política. Atualmente, ele diz já ter se adaptado no colégio que dá aula, o Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, que fica na mesma cidade, mas não é militar, onde prefere continuar seu trabalho. No entanto, Wellington entrou com um pedido administrativo de retratação pública por parte do diretor da escola, o capitão da PM, Eduardo Alves Pereira Filho, que deu início ao processo. O professor diz que ainda tem a sua imagem deturpada por causa do afastamento. Mesmo com o arquivamento do processo, o comandante diretor deu entrevistas em programas de rádios da cidade sugerindo que os militares deixariam a unidade após um possível retorno do professor. “Dependendo da solução dada (ao caso de Wellington), o colégio largará de ser um colégio estadual da polícia militar”, declarou o capitão Eduardo em entrevista à Rádio 87,9 FM, no dia 2 de agosto. Na mesma entrevista, ele defende que os pais e estudantes que acusaram Wellington de doutrinação foram silenciados no resultado do processo. A reportagem entrou em contato com o militar, que confirmou a possibilidade do colégio deixar de ser militar e da relação disso com o caso do professor de Geografia afastado, mas preferiu não conceder entrevista. Seduc Durante entrevista no último dia 5, em live do POPULAR transmitida ao vivo, a secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, comentou o caso do professor Wellington. Ela relatou que recebe constantemente visitas de pais de estudantes que não querem o retorno do professor de geografia na unidade. “Se os pais querem resolver essa situação porque não querem que esse professor dê mais aulas para seus filhos, eles tem que buscar o remédio jurídico deles. O que a secretaria não pode é pender para A ou para B”, defendeu.Além disso, Fátima ponderou que os colégios militares têm seu regramento próprio, que deve ser obedecido. Ao ser questionada sobre a conjuntura estadual, em relação a atual polarização política, a secretária garantiu que casos como o de São Luís não são recorrentes. “A escola é o lugar mais politizado que tem, no meu entendimento. É natural que lá tenha grupos que torcem para A, para B, mas no fundo, nós somos todos brasileiros e o que a gente mais quer é melhorar a Educação e acertar e botar o país nos trilhos. Não vejo eles (professores) querendo ideologizar para A ou para B dentro da escola.”