Enquanto professores aprovados no processo seletivo simplificado da Secretaria de Estado de Educação de Goiás (Seduc) afirmam que não estão sendo convocados, mesmo com déficit de profissionais nas escolas estaduais, pais e alunos sofrem com falta de aulas na rede pública do estado. Os educadores foram aprovados para atuarem ao longo do ano de 2022 e a promessa era de que a convocação aconteceria conforme demanda.Aprovados dizem que alunos passam parte do tempo nos pátios das escolas porque não há professores suficientes para fechar a grade escolar mais de 20 dias após o início das aulas.Pérola Marques Cardoso, de 15 anos, é aluna da 2ª série ensino médio do Colégio Estadual Da Polícia Militar De Goiás Pedro Xavier Teixeira, em Senador Canedo. Ela conta que desde o início do ano letivo, em 18 de janeiro, ainda não teve, por exemplo, aulas de Geografia. No processo seletivo, seis professores foram aprovados para a matéria na cidade, mas nenhuma convocação foi publicada no site da Seduc até esta terça-feira (9). “As aulas dos itinerários, do Novo Ensino Médio também não estão funcionando porque não tem professor suficiente. Às terças e quintas, que temos o itinerário, deveríamos ter seis aulas e esta semana só tivemos duas. O restante foi aula vaga”, lamenta.Mãe da estudante, a vendedora Fátima Hamer Marques Cardoso, de 53 anos, diz que não tem reclamações sobre a escola em si ou sobre os professores, pelo contrário, são vários os elogios que ela compartilha. Por outro lado, acredita que a secretaria deveria ter organizado toda a situação dos docentes antes do início das aulas. “O Novo Ensino Médio, por exemplo, deveria funcionar. A pasta teve anos para se organizar e não dá pra usar a pandemia como desculpa”, acrescenta a mãe da Pérola.Allex Moreira Ramos, de 36 anos, é professor de Matemática. Desde 2009 ele trabalha na rede estadual, mas com intervalos de saída e retomada. Recentemente havia saído do Estado para assumir apenas aulas no município de Goiânia, que, na época, tinha um salário melhor segundo ele. O contrato venceu, Allex participou do processo seletivo simplificado (PSS) em 2021 e foi convocado para assumir aulas no Colégio Estadual Verany Machado de Oliveira agora em janeiro de 2022. Ao chegar à escola, entretanto, diz que a diretora queria que ele assumisse aulas de Física e não da formação dele, que é Matemática.“Descobri que a vaga que a subsecretaria me enviou era realmente de Matemática porque na unidade esta vaga estava sendo ocupada por um professor com mais de cinco anos de contrato, que deveria sair do local. A diretora estava segurando essa vaga. Entrei em contato com a subsecretaria relatando o ocorrido, mas a diretora da escola não quis saber. Disse que as aulas eram de Física e que se eu não quisesse, era só desistir e dar a vaga para outro. A subsecretaria me pediu para retornar na próxima semana para ser encaminhado a outra escola. A direção, que está nas escolas via democracia, não tem este tipo de problema e segue certinho as convocações, enviando para a subsecretaria o déficit e recebendo o pessoal convocado. Mas a direção que está na escola via indicação política está fazendo esses absurdos”, completa Allex.O educador afirma que outro processo feito em 2018 teve problemas com a contratação obedecendo à classificação.AlteraçãoAntes a convocação não era feita via Seduc, pelo site, mas pela subsecretaria. “Eles diziam que entraram em contato com o candidato na fila, porém alegavam que o número estava desligado e/ou não atendiam o telefonema. Com isso, colocavam quem eles queriam na vaga das escolas. No ano passado, teve um novo PSS e a secretária Fátima Gavioli e o superintendente de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, Hudson Amarau resolveram dar mais lisura às chamadas. Ficou decidido que as convocações seriam feitas via edital de convocação no site da própria Seduc. A validade do contrato é de cinco anos. Mas tem um número enorme de professores que já tem muito mais de cinco anos de contrato no estado. Há casos de 15, 20 anos seguidamente como contrato”, afirma Allex.A mãe de uma aluna da rede estadual em Goiânia, que preferiu não se identificar, conta que na Região Leste da capital há déficit de professor de Matemática e Inglês, e por isso, os alunos estão com a carga horária reduzida. Neste ano, a filha dela estudaria em tempo integral, mas está saindo diariamente no meio da tarde porque não há educadores suficientes para suprir a demanda. Por meio de grupo de WhastApp, a coordenação da escola explicou para as famílias que os novos professores só devem chegar após o dia 18 de fevereiro, um mês depois do início do ano letivo.Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima afirma que há, no sindicato, denúncias envolvendo diretores e coordenadores que não estão repassando o déficit das unidades à Seduc. Outras escolas afirmam, entretanto, que professores ainda não foram encaminhados às unidades. “Estamos próximo de eleições nas escolas e infelizmente há posturas equivocadas que nem sempre chegam ao conhecimento da secretaria de forma imediata. Estamos levando cada caso à pasta, que tem nos atendido. Também estamos abertos para receber as denúncias da classe”.Carga horária reduzida Com medo de sofrer retaliações, um professor de História efetivo da rede, que preferiu não se identificar, diz que outra mudança nas escolas está contribuindo para a falta de aulas. “A maioria dos professores, para ter salário mais decente e vida mais digna, trabalha com carga máxima de 60 horas semanais. Acontece que há anos, o governo não pagava direitos trabalhistas e muitos professores começaram a buscar judicialização. O processo mudou e agora o professor não pode mais estender a carga, só pode trabalhar em um período. Quem quiser ampliar a carga - mesmo sendo efetivo - precisa passar pelo processo seletivo. Antes, as escolas conseguiam organizar a modulação dos professores e agora a própria secretaria faz isso, mas está um caos porque não estão conseguindo atender a demanda”. O educador que trabalha na capital, diz que o número de aulas vagas é crescente e que o problema não é apenas para os alunos, mas causou grande impacto salarial para os professores. Indicações furam fila, diz aprovadaUma professora de Inglês, que foi aprovada no processo seletivo unificado do governo estadual para um município da região central do estado, afirma que apesar de não ter sido convocada, docentes que ficaram abaixo de sua classificação estão trabalhando. A professora ficou em 2º lugar na classificação do processo e diz que foram chamados: 1º colocado, 3º colocado, 4º colocado e 5º colocado. “Segundo o coordenador não tem vaga para minha disciplina, que é inglês. No interior funciona a indicação e eu não tenho. Depois da classificação, a decepção veio porque gestores estão segurando vagas de maneira injusta. Estão prejudicando quem quer entrar e segurando vagas para pessoas que estão completando cinco anos, mas não ficaram na classificação do processo”. A reclamação da professora não é isolada. Na capital, uma das aprovadas em 2º lugar para a Região Noroeste ainda não foi convocada, mas conta que a pessoa que ficou em 3º já está trabalhando, em outra região. “Está acontecendo muito isso. Sem sair a chamada, tem muita gente trabalhando. Tenho amigos que falaram: ‘arruma uma pessoa pra te colocar dentro, como eu fiz e aí quando chamar no processo seletivo, pega uma escola com menos aulas’. Não é certo, tem de seguir o PSS”. Outra professora afirma que mesmo aprovados nas primeiras colocações, docentes não conseguem assumir em uma escola do Setor Urias Magalhães. “Tem uma professora que o contrato encerrou em janeiro de 2022, mas a diretora a segurou pra escola novamente, sem seguir a lista do processo seletivo”. Uma docente, que participou o processo para Língua Portuguesa na capital afirmou que mesmo com 30 professores aprovados, apenas um foi chamado até o momento. “Sabemos que o edital aponta que o chamamento será de acordo com demanda, mas será que com 30 vagas disponíveis, apenas um seria necessário para dar início às aulas? Será que está mantendo contratos vencidos?”, questiona. Nota da SeducEm atenção à solicitação do Jornal O Popular/repórter Catherine Moraes Silva sobre contratação de professores para a rede pública estadual de ensino, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) esclarece e informa:- O processo seletivo para a contratação de professores para atuarem na rede pública estadual de ensino faz, neste momento, a convocação de professores habilitados na medida da necessidade das unidades escolares e seguindo rigorosamente a classificação do professor por disciplina e localidade onde se inscreveu. - Duas informações devem ser destacadas. A primeira é que não há falta de professores na rede pública estadual de ensino. A segunda informação relevante é que o processo seletivo simplificado foi realizado, ainda no final do ano passado, justamente para assegurar o pleno atendimento e funcionamento das escolas públicas estaduais. - Os professores habilitados no processo seletivo têm todas as informações sobre sua classificação, número de convocados, entre outras informações que lhe possam ser úteis, na Coordenação Regional de Educação (CRE) à qual o município onde se inscreveu é jurisdicionado. - Em relação à duração do contrato temporário, conforme definido na Lei Nº 20.918, o contrato temporário tem validade por até 3 (três) anos, prorrogáveis por até mais 2 (dois) anos. - No processo seletivo simplificado foram habilitados 15.499 professores. Já foram convocados 5.090 professores. O processo seletivo tem validade de 2 (dois) anos, renováveis por mais dois anos. Concurso público para a contratação de professores para a rede pública estadual de ensino já foi autorizado pelos órgãos competentes e um processo para a sua realização está em trâmite.