Professores da rede municipal de Goiânia foram à porta da Secretaria Municipal de Educação (SME) na tarde desta quarta-feira (23) cobrar diálogo com o titular da pasta, Wellington de Bessa, sobre as mudanças no Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ao POPULAR, a pasta afirmou que estão sendo realizadas reuniões com coordenadores das instituições e que a reformulação é necessária devido à baixa demanda de estudantes.Marcos Alves Lopes é professor de Língua Portuguesa há 15 anos na rede municipal de Goiânia e nomeou as mudanças no EJA como um “desmonte da educação” para esse público. Segundo ele, atualmente, o programa possui uma igualdade no número de aulas ofertadas em todas as áreas de conhecimento: Português, Matemática, História, Geografia e Educação Física, o que para ele é essencial para a formação do estudante.“A proposta atual é de finalizar essa paridade e colocar o ensino noturno como se ele estivesse submetido à Base Nacional Curricular, em que há um excesso de aulas de Português e Matemática. Vão focar nessas duas disciplinas em detrimento das outras. Com isso, os alunos vão ter essas duas disciplinas todos os dias e as outras apenas uma ou duas vezes na semana. O que, para nós professores, é uma perda inigualável”, afirmou.O professor explica também que o conhecimento não se baseia apenas em gramática e cálculos, mas na “informatividade”, ou seja, saber sobre o local onde o aluno está inserido e a história dele. “É por isso que nós defendemos paridade entre as disciplinas”, destacou. Além disso, ele afirma que o “desmonte” está priorizando o corte de gastos, pois, de acordo com Marcos, os professores de História, Geografia e Educação Física ficarão “jogados de um lado para o outro”.ImpactoNilci Bilhalva é professora de História e atua na educação de jovens e adultos há mais de 25 anos. Ela confirma o relato do professor Marcos sobre ficar “jogada de um lado para o outro”, pois afirma que a partir de 2023 ela passará a ministrar aulas em duas unidades de ensino diferentes. “Eu estou há muito tempo na mesma escola e agora passarei a ficar em duas, o que acaba com o vínculo que criamos com os estudantes e com os colegas de trabalho”, enfatizou.A professora ainda destaca falta diálogo entre a classe e a SME. “É tudo de ontem para ontem, já chegou tudo pronto e acabado e nos empurraram goela abaixo. O secretário de educação nunca nos recebeu e quando chegamos aqui, somos atendidos com Guarda Civil Metropolitana (GCM) nas costas. É um desmonte total e sem ouvir nós professores, que estamos na sala todos os dias e sabemos das necessidades dos alunos.O vereador Mauro Rubem (PT) também esteve na tarde desta terça-feira (23) na SME e falou com o secretário Wellington de Bessa. Porém, após a reunião, alertou os professores que Bessa, novamente, não aceitou falar com eles. “A pauta não foi tratada, quando falamos para chamar os professores para a reunião, ele vetou algumas entidades aqui presentes. A secretaria não aceita a livre representação da classe”, ressaltou ao POPULAR.SMEA reportagem também tentou conversar com o secretário Wellington de Bessa Oliveira, mas a assessoria dele orientou a falar com o Superintendente Pedagógico, Marcelo Oliveira, e com o Gerente do EJA, Rodrigo Melo. Durante a entrevista, os representantes da pasta afirmaram que a reformulação da modalidade está baseada em estudos, análises de dados e diálogos com os coordenadores das instituições de ensino de Goiânia.“A gerência realiza muitas reuniões e visitas nas unidades, que confirmam aquilo que já era dito nos estudos. As mudanças vêm para garantir que a modalidade continue funcionando, estamos reforçando ela. Nós estudamos o que não está sendo adequado e estamos fazendo correções”, afirmou Marcelo. O superintendente destacou ainda que as alterações têm como objetivo tornar o EJA mais atrativo e, com isso, reduzir a desistência dos estudantes.Marcelo disse que entende que as mudanças estão gerando desconforto nos professores que terão que se dividir entre duas unidades, mas voltou a destacar que elas estão em conformidade com a legalidade. O Gerente do EJA, Rodrigo Melo, detalha que, atualmente, o EJA em Goiânia possui 7 mil vagas, 3,5 mil matrículas e apenas 1,8 mil alunos frequentando as aulas, que estão distribuídas em 54 unidades escolares e quatro turmas em cada.“Nosso desafio é encontrar um caminho para fortalecer a modalidade, ou seja, conseguir que os alunos se matriculem e permaneçam nas aulas”, afirmou Marcelo. Sobre as aulas de Português e Matemática em detrimento das demais, o gerente do EJA explica que todos os componentes obrigatórios estão sendo mantidos. “O que nós fizemos foi alterar a carga horária na tentativa de melhorar a aprendizagem dos estudantes”, finalizou Rodrigo.Leia também:- Estudante se emociona ao utilizar microscópio de laboratório pela primeira vez; veja vídeo- Rede estadual de ensino de Goiás abre matrículas para novatos na próxima quarta-feira (23)- Diretores tentam reverter decisão para manter espaço das bibliotecas nas escolas de Goiânia