Suspenso há três meses, o Programa Gênesis será retomado em janeiro pelo governo de Goiás, porém com a intenção de oferecer uma segunda opção às construções turísticas previstas para o Parque Águas do Paraíso, em Alto Paraíso de Goiás. As intervenções em áreas de preservação da Chapada dos Veadeiros foram tornadas públicas em setembro e causaram protestos de entidades ambientais e autoridades.O projeto lançado no dia 10 de setembro deste ano não chegou a ter a agenda de discussões com municípios iniciada. O objetivo do programa envolve uma série de ações voltadas para o turismo, educação e preservação do meio ambiente em parcerias com as prefeituras da região da Chapada e entidades sem fins lucrativos. Na época do lançamento, o governador Ronaldo Caiado (DEM) chegou a afirmar que seria o “maior aporte de turismo que Goiás jamais viu”.Entretanto, o anúncio da construção de um complexo de edificações dentro de áreas de preservação ambiental desencadeou uma série de repercussões negativas, tanto regional como na imprensa nacional. Além de terem sido consideradas desnecessárias e um risco ambiental, estas construções poderiam tornar a região, segundo os críticos, alvo de especulação imobiliária e atrair mais turistas do que as cidades teriam capacidade de absorver.Somado às críticas, os incêndios que atingiram a região da Chapada na época levaram o governo a suspendeu, no dia 21 do mesmo mês, nove oficinas que seriam ministradas nos nove municípios a serem contemplados na primeira etapa do programa. De acordo com as prefeituras ouvidas pelo POPULAR, as críticas contra parte do programa tiveram peso maior para a manutenção da suspensão dos debates.A titular da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andréa Vulcanis, diz que a novidade a ser apresentada em janeiro tem relação exclusiva com o Parque Águas do Paraíso, em Alto Paraíso de Goiás. A primeira versão previa, entre várias intervenções, a edificação de um espaço de 800 m² para contemplação da natureza, Museu das Águas, Templo à Natureza, Museu do Amanhã e Domo Geodésico.“Não é uma mudança no projeto. Iremos apresentar outras opções para termos um processo de discussão mais amplo. Isso deve gerar menos dificuldades”, considera a secretária. Andréa defende que as construções no parque não são grandes como descritas na repercussão do projeto, destacando que, somadas, ocupariam menos de 1% da área total do parque.Prefeitos aguardamO prefeito de Alto Paraíso, Marcos Rinco (DEM), diz que as discussões sobre a nova opção estão sendo feitas pelo governo sem a participação das prefeituras. O mesmo foi dito à reportagem pelas prefeituras de Cavalcante de Goiás, São João D’Aliança e Teresina de Goiás. Todas as gestões citadas sinalizaram que são favoráveis ao projeto e que aguardam a retomada das discussões.“Quem fez e pensa o projeto é o Estado. Nós entramos como beneficiários e instrumento de adesão. Dentro do projeto são diversas as áreas de investimento, em recuperação ambiental, no turismo. Para nós seria muito bom”, diz Rinco, que considera que as críticas contra o projeto são de instituições que se comportam como adversárias do Instituto Espinhaço.Foi o Espinhaço o responsável, em caráter voluntário, pela concepção do projeto. Diante das repercussões negativas, o Espinhaço decidiu deixar o projeto. A informação da Semad é de que a nova opção para o Águas do Paraíso não está sendo idealizada por técnicos da pasta, não informando, porém, quem entrou no lugar do Espinhaço.O prefeito de São Domingos, Cleiton Martins (PL), considera que o projeto visa ao equilíbrio do desenvolvimento ambiental, ecoturismo e turismo e por isso também diz ser favorável. “Precisamos melhorar a vida das pessoas por meio da geração de emprego e turismo. A riqueza das cidades do Nordeste goiano precisa ser conhecida e entrar na rota turística”, afirma.A prefeita de São João D’Aliança, Débora Domingues (PL), diz que sua gestão também é favorável à proposta e que espera a retomada. Para a secretária de Meio Ambiente, o programa deve ser um marco.“Na minha interpretação esse é um projeto que coloca Goiás em outra realidade nacional. Ele proporciona aumentar a valorização da proteção do cerrado e o desenvolvimento da população goiana”, defende a titular da Semad.ProjetoNa solenidade de lançamento do programa, o Estado dividiu a proposta em dois termos de cooperação técnica. O primeiro, entre a gestão estadual e o município de Alto Paraíso de Goiás, para a gestão compartilhada do Parque Estadual Águas do Paraíso. O documento é que dá a oficialidade da proposta de construir as edificações para exploração turística.O outro termo, firmado entre o Estado e os municípios de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Colinas do Sul, Flores de Goiás, Guarani, Nova Roma, São Domingos, São João D’Aliança e Teresina de Goiás, integrantes do “Projeto Nordeste Goiano”, visa a implementação do plano de desenvolvimento integrado e sustentável da região.A previsão é de que o programa seja custeado por recursos obtidos por compensação ambiental paga por empresas privadas. A gestão dos parques será por meio de concessão. Entidades cobram transparênciaEnquanto Estado e prefeituras aguardam pela retomada das discussões, entidades ambientalistas seguem com críticas à proposta do programa. O ambientalista Thomás Enlazador é um dos idealizadores de uma carta endereçada à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nacional e seccional Goiás pedindo posicionamento sobre a condução das discussões do projeto. Isso porque as entidades consideram que os debates estão excluindo os agentes não governamentais que defendem o meio ambiente.Citando a falta de consulta à população e o direito ao acesso a informação, as entidades pedem cópias de documentos, atas de reuniões já realizadas, esclarecimento sobre parceria com empresas e pareceres técnicos. O documento é assinado pelo Instituto Biorregional do Cerrado (IBG), Rede Integração Verde (RIV), Associação dos Amigos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (AVE) e também pela Associação Guias e Prestadores de Serviços em Ecoturismo da Chapada dos Veadeiros (Servitur).Em contato com a OAB Goiás, a entidade informa: “O assunto ainda está sob análise e será, logo em seguida, submetido à avaliação do Conselho Seccional da OAB-GO para deliberação”. Segundo Enlazador, as entidades ambientalistas também não receberam posição da OAB nacional. “O que queremos é que esse processo de discussão seja mais claro e inclua todas as representações sociais”, cobra o ambientalista.Na internet, um abaixo-assinado que pede pela extinção da proposta conta com cerca de 10,5 mil adesões. Entre os questionamentos expostos, os organizadores do protesto virtual cobram relatórios sobre impactos ambientais. “Que tipo de sustentabilidade predatória é essa que não escuta e nem envolve a comunidade local?”, questiona outro trecho do abaixo-assinado.