Medidas para uso racional da água, a fim de otimizar o uso do recurso e preservá-lo têm sido aplicadas em diversas áreas por profissionais e pesquisadores para lidar até mesmo com crises hídricas. Neste Dia Mundial da Água é possível verificar que como resultado, tem-se a redução do gasto de água potável, um menor impacto no meio ambiente, como, por exemplo, com a diminuição da poluição, e, em alguns casos, benefício financeiro.Considerado uma tendência na construção civil, o reaproveitamento de diversos tipos de resíduos líquidos tem assumido status de necessidade nos projetos da área. A busca por alternativas sustentáveis, que proporcionem redução de gastos, tem levado à criação de sistemas que tornam a chuva e águas cinzas, como a dos respingos dos equipamentos de ar- condicionado, recursos reutilizáveis na irrigação, na limpeza e nas descargas das bacias sanitárias, dentre outros usos.Em Goiânia, por exemplo, o edifício do Complexo Órion, no Setor Marista, conta com lajes impermeabilizadas, captação do gotejamento do ar-condicionado e tanques de retenção e infiltração em sua estrutura, a fim de possibilitar que a água da chuva e dos referidos equipamentos possa ser usada na manutenção do próprio prédio e, em parte, vá para o lençol freático. Ao todo, são dois tanques de retenção, com capacidade de 16,8 mil e 35,7 mil litros, e um de infiltração, que recebe o excedente dos demais.Segundo o engenheiro civil Frank Guimarães, sócio do empreendimento, a adoção da medida no projeto do complexo imobiliário acompanhou o movimento já visto na área em busca de soluções semelhantes. “É uma tendência mundial. Questões de sustentabilidade e meio ambiente têm de ser bem estudadas. (...) As caixas de retenção, por exemplo, têm sido praticamente uma obrigatoriedade nos projetos”, explica ele.ResultadoEm funcionamento desde setembro do ano passado, o local já teria registrado impacto financeiro positivo com a medida, mesmo com funcionamento parcial, afirma Guimarães. “Houve vários efeitos. Um deles foi a redução no consumo de água e não contribuir com o alagamento das ruas, uma vez que a estrutura tem ligação direta com o sistema de captação pluvial”, diz ele. “Em Goiânia há chuva em alguns meses e em outros, não. É interessante absorver toda a água do ar-condicionado na época em que não há chuva, pois contribui para a irrigação do jardim e para a limpeza das garagens, uma área de 40 mil metros quadrados”, continua.A aplicação da água reutilizada no setor de serviços tem correspondido a cerca de 70% do total de uso, de acordo com o engenheiro. Nos jardins irrigados, por exemplo, a economia é de cerca de 30 mil litros por dia.O resultado pleno do sistema deve ser visto em dois ou três anos, para quando está prevista a ocupação total do prédio e, com isso, o funcionamento mais intenso dos equipamentos. Nesta fase, a captação diária de água da central de ar-condicionado poderá chegar a 20 mil litros por dia. Planta trata esgoto na UFGSoluções para uso racional de resíduos líquidos abrangem também o tratamento de esgoto. Na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás (UFG), localizada no Setor Universitário, em Goiânia, está instalado o Sistema Wetland Construído, uma estrutura experimental que utiliza plantas para a despoluição do efluente produzido no local e pode proporcionar, no futuro, a possibilidade de reúso da água tratada para fins não potáveis, como em descargas em bacias sanitárias e na irrigação de jardins.Um dos responsáveis pelo projeto, que ocorre em parceria entre instituições de ensino, o professor Douglas Pitaluga, do Instituto Federal de Goiás (IFG), explica que o sistema tem a proposta de replicar, de forma controlada, “o que a natureza já faz” quando plantas macrófitas, que sobrevivem com baixos níveis de oxigênio, retiram do esgoto nutrientes como nitrogênio e fósforo. “Na natureza é aleatório. O sistema é natural, mas projetado”, diz ele.Apesar de ser experimental, o projeto teria aplicabilidade em pequenas comunidades e residências, segundo o professor. “Onde não há saneamento básico, o mínimo seria fazer um tratamento para dispor o efluente no solo de novo. É algo que se adequaria ao ambiente, pois tem plantas, que podem ser aromáticas, com flores, que sirva para paisagismo. O sistema se incorpora à casa”, explica. Na UFG, é utilizada a planta conhecia popularmente como taboa.Além das plantas, o sistema tem elementos de filtragem, como areia e brita, e precisa ser alagado, assemelhando-se a ecossistemas como manguezais e brejos, a fim de criar condições para a criação dos micro-organismos que vão decompor a matéria orgânica que sai do esgoto, como explica o professor.Após o tratamento, o efluente está apto para ser lançado em rios e córregos sem poluir. “Atualmente, a pesquisa avalia também a capacidade de reúso do efluente como água não potável”, diz Pitaluga.Parque é criado em Águas Lindas para preservar nascentesO Parque Estadual de Águas Lindas, localizado no município de mesmo nome, no Entorno do Distrito Federal (DF), terá sua criação decretada nesta sexta-feira (22). A área da unidade de conservação terá pouco mais de 2 mil hectares e nela estão presentes nascentes como as do Rio Descoberto.“É uma área de proteção integral, em que não pode haver nenhum tipo de exploração. Depois de feito o plano de manejo, haverá a possibilidade de visitação e uso por parte do público em áreas identificadas como propícias para isso”, afirma a titular da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), Andréa Vulcanis. Para a mesma região, já havia sido criado, no papel, o Parque Estadual do Descoberto (PED), em 2005, à época com área prevista em cerca de 1,9 mil hectares. Contudo, segundo Andréa, o decreto da criação foi declarado nulo pela Procuradoria Geral do Estado de Goiás, pois não atendia às determinações da Lei Federal nº 9.985, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.“O parque foi criado mas, na verdade, nunca existiu jurídica e tecnicamente e nunca foi implementado”, diz a secretária. Na área inicialmente prevista para a unidade de conservação, há um loteamento que data de 1970 e dificultava o avanço da implantação do PED. A nova delimitação não inclui a região, segundo a titular da Semad, mas a ampliação na área se deve à inserção de locais que não estavam previstos anteriormente. Ela explicou também que a área loteada deverá cumprir o regulamento de uso de entorno, que será criado para determinar a zona de amortecimento do parque, critérios para tratamento de esgoto e o manejo de solo e da água. “Seria pior se esse loteamento tivesse ficado no interior do parque”, afirma.Na ocasião da assinatura do decreto também será lançado o Programa Produtor de Água na Bacia do Descoberto, que beneficiará produtores que fazem uso de áreas adjacentes que auxiliarem na preservação na área. “Estamos protegendo a região de duas formas: criando uma unidade de conservação e apoiando o manejo correto de solo e de água das propriedades”, finaliza Andréa.