A fim de cumprir a legislação federal (13.415/ 2017), que estabeleceu uma mudança na estrutura do Ensino Médio, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) criou uma matriz curricular dividida entre disciplinas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que são as usuais (Língua Portuguesa, Matemática, Física etc), e a chamada “flexibilização curricular”, que são as disciplinas eletivas. Elas irão ocupar 40% da grade do aluno, estando de acordo com o que determina a lei federal.Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), doutora em Educação e Políticas Educacionais, Valdirene Alves de Oliveira afirma que ter um rol de eletivas dá uma falsa sensação de escolha do aluno, que na verdade não irá existir. “Esse poder de escolha dá um tom de responsabilização sobre o aluno, e uma responsabilidade de quem deveria oferecer as condições objetivas - por exemplo, de ter a carga horária necessária, e não reduzida”, disse.Diretores afirmam que estão elaborando as grades conforme a realidade da escola, e não com base na vontade do aluno - diferente do que há na proposta da nova grade, que diz a escola irá ofertar a disciplina mais procurada por cada turma. Um diretor de uma escola estadual de Goiânia, que pediu para não ser identificado por temer represália, afirma que irá focar nas áreas de Biológicas e Exatas, as quais a escola possui mais professores capacitados. “O aluno vai poder escolher até certo ponto.”Uma diretora afirmou que a escola não tem estrutura para ofertar disciplina com base na demanda de alunos. “Não tem nem sala, nem profissional. Fiquei meses sem professor de Matemática”, disse. Outro diretor falou no mesmo sentido. “Não tenho nem quadra na escola. Minha internet não dá nem para a secretaria usar”, pontuou.Superintendente de Ensino Médio da Seduc, Osvany Gundim afirma que a secretaria fez um levantamento de dados, incluindo um questionário aplicado nas comunidades escolares, para conhecer a realidade local, ver qual era a demanda de cada região e elaborar o rol de disciplinas eletivas que poderão ser escolhidas. Osvany explicou que de fato as escolas irão escolher as eletivas conforme a sua realidade, mas em conjunto com os alunos.EntendaDentro da grade de 30 horas-aulas, existem quatro disciplinas eletivas pré-determinadas e o aluno deverá escolher entre duas opções. Elas são na área de Língua Portuguesa, Matemática, Educação e Línguas Estrangeira (Inglês ou Espanhol). O segundo bloco de eletivas envolve um rol maior de disciplinas, com a proposta de que a unidade escolar organize a que for mais procurada pela turma. Para a elaboração delas, a Seduc utilizou também o resultado de questionário aplicado nas unidades escolares.Já o terceiro bloco são as chamadas “itinerários”, que ocupam 30% de toda a carga horária e são apenas para alunos de 2º e 3º ano. Neste caso, o aluno deverá escolher estudar disciplinas de uma das grandes área: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza ou Ciências Humanas. Nesta fase, haverá a possibilidade de o aluno transitar entre escolas - ou seja, caso a unidade onde o jovem estuda não houver uma disciplina que ele deseja cursar, ele pode ir a outra escola.A professora Valdirene Alves pontua que “o aluno faz a matrícula na escola que é perto da casa e do trabalho”. “A escolha que ele faz é essa. Ele vai escolher o que tiver na grade daquela escola”, disse. E completou: “cria uma reforma nesse patamar, pega boa parte da fatia do currículo, inventa essa proposta falaciosa de escolha, e resolvo o problema do Ensino Médio?”A nova grade curricular prevê ainda uma hora semanal para o “projeto de vida”, em que o aluno elaborará seu plano pós-Ensino Médio, para planejar os estudos conforme seu objetivo.Inep divulgará cronograma de alteração do Enem em 2020 para atender ao Novo Ensino MédioO Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou ao POPULAR que em 2020 irá divulgar um cronograma e a forma de transição dos seus exames, dentre eles o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A informação foi repassada após questionamentos sobre possível alteração no exame para atender às modificações feitas no Ensino Médio para atender à nova legislação.O Inep disse que acompanha, junto com o Ministério da Educação (MEC), as ações de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do Novo Ensino Médio nos Estados. “Em função disso, a autarquia está realizando estudos internamente com objetivo de adequar seus exames. Em 2020, será divulgado o cronograma e a forma de transição”, informou. O Novo Ensino Médio prevê que 40% das disciplinas estudadas serão escolhidas pelos alunos. A nova lei prevê na grade um trecho chamado de “itinerários”, em que o aluno escolherá focar seus estudos em uma das grandes áreas: Linguagens, Matemáticas, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Em Goiás, os “itinerários” são para alunos de 2º e 3º ano, na grade de 30 horas-aulas semanais (atende alunos que começam o Ensino Médio em 2020). Ou seja, os “itinerários” começarão a ser aplicados em 2021. Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (Sepe), Flávio Roberto de Castro diz acreditar que enquanto não se mudar a matriz de referência do Enem, os movimentos da rede particular serão pequenos. “O Enem é o que pauta o que é dado no Ensino Médio, principalmente na rede privada”, disse. De acordo com ele, há um movimento para que o Enem seja dividido em dois dias: no primeiro, cobrará as disciplinas da BNCC e no segundo aplicará uma prova na área de conhecimento que o aluno resolver fazer no Ensino Superior. Por exemplo, um aluno que desejar fazer Letras, fará uma prova de Linguagens no segundo dia.