A cada 47 segundos, uma criança com até 4 anos de idade morre por pneumonia no mundo. No total, 672 mil óbitos de crianças nesta faixa etária foram registrados por complicações da doença. Os dados são de 2019, do relatório da Global Burden Of Disease (GBD), e apontam ainda para mais 2,5 milhões de mortes, sendo 1,9 milhão de crianças com menos de cinco anos e idosos acima de 69. Em Goiás, desde 2019, 142 óbitos pela doença foram registrados em menores de 5 anos, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Além disso, 7.355 internações em Goiás ocorreram durante o período para o mesmo grupo. Na pandemia, caíram os números de internação e óbitos pela doença (veja quadro), mas o retorno de uma quase normalidade pode modificar esse cenário.No geral, 30% dos óbitos acontecem no primeiro mês de vida e a doença é uma das principais causas de morte e de internação de crianças menores de cinco anos. A pneumonia pode ser causada por vírus, fungos e bactérias. Este último tem como tipo mais comum o Streptococcus pneumoniae, conhecido como pneumococo e responsável por 60% dos casos de pneumonia. O Streptococcus pneumoniae também causa otite média, bacteremia e um tipo de meningite que é o segundo mais comum do país com letalidade de 30%. E como prevenir? Vacina! Em Goiás, dados parciais da cobertura vacinal deste ano apontam índices abaixo de 60%.Desde 2010, a vacina pneumocócica conjugada 10-valente (VPC10) está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI). As aplicações acontecem aos 2 e 4 meses, com um reforço entre 12 e 15 meses de idade. A cobertura vacinal, entretanto, cuja meta é alcançar 95% do público, foi atingida em 2018 no país, mas desde então, apresenta queda e fechou 2020 com apenas 81,10% do público. No ano passado, Goiás fechou com 84,23% e a capital, Goiânia, com 79,5%. Para 2021, os números estão ainda mais baixos: 57,84% no estado e 68,03% em Goiânia.Pneumopediatra e membro da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Janine Macedo afirma que normalmente pneumonias bacterianas são precedidas de quadros viras com tosse, nariz escorrendo e aí com a queda na imunidade, pneumonia. Na pandemia, sem creche ou escola presencial, os números de mortes e internações caíram.“As crianças pararam de se contaminar com os vírus que podem ser a porta de entrada para as bactérias. Consultórios esvaziaram. E aqui temos um reflexo claro do isolamento porque nesta faixa etária, com menos de cinco anos, as crianças não seguem protocolos de higiene, uso correto da máscara. Tem chupeta, mão suja que vai à boca. Nossa realidade é de crianças que vão para as creches em período integral aos 4 meses para que as mães voltem a trabalhar. A preocupação agora é com o retorno de tudo isso”, comentou Janine.Especialista em imunologia, farmacêutica e gerente científica e de assuntos médicos de vacinas da GSK, Ana Medina explica que neste momento de retorno às atividades, eventos e escolas, com maior número desde o início da pandemia, a situação é ainda mais preocupante. “Esse ano, os dados atualizados até agosto mostram uma cobertura vacinal de 61,01%. Isto é preocupante, especialmente neste momento em que muitas das atividades retornaram ou estão retornando, como a volta às aulas e a ressocialização de uma forma geral, o que favorece a transmissão de doenças infectocontagiosas. Nesse momento é ainda mais urgente a recuperação das altas coberturas vacinais e a proteção da população com as vacinas disponíveis.”Ana afirma ainda que a inclusão das vacinas pneumocócicas conjugadas representou um importante avanço na redução do número de casos e óbitos relacionados à doença pneumocócica. “É importante registrarmos que, desde sua introdução em 2010, a VPC10 produz resultados muito positivos para saúde pública não somente no combate à pneumonia, mas em todo o espectro da doença pneumocócica, que inclui otite média aguda (OMA) e doença pneumocócica invasiva, como a meningite pneumocócica” , disse.Na rede particular, há ainda a VPC-13, que imuniza contra outros três tipos, menos comuns, mas que, segundo Janine, são os mais graves e que, por isso, a recomendação para quem tiver condições é a aplicação, já que esta não está disponível no PNI. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) mantém a recomendação de três doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida com reforço entre 12 e 15 meses.Sintomas e transmissão A transmissão da doença é similar à Covid-19 e pode ocorrer atrás de gotículas liberadas ao tossir ou espirrar. Os sintomas mais comuns incluem tosse com expectoração, dor torácica, mal-estar geral e febre. As crianças, mesmo assintomáticas, são as principais transmissoras. “Estima-se que praticamente todas as crianças, em algum momento da fase pré-escolar, tenham sido transmissoras do pneumococo em pelo menos uma ocasião, assim como adultos que têm contato direto com elas. Em idosos, a doença pode ser grave e fatal”, disse Medina.Importante ficar de olho na carteirinhaA doença pneumocócica pode resultar em formas invasivas de doença como a meningite, a sepse e algumas pneumonias, e formas não invasivas como a maior parte das pneumonias: a otite média aguda (OMA), sinusite e conjuntivite. “A vacinação pneumocócica protege também contra outras formas de doença pneumocócica menos graves”, diz Ana Medina. Médica infectologista, pediatra e epidemiologista, pesquisadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Tatiana Noronha reforça a importância de atenção à caderneta de vacinação das crianças, não só em relação à doença pneumocócica, como também contra outras doenças infectocontagiosas para as quais existem vacinais gratuitas, disponibilizadas pelo PNI. “Nos últimos anos temos observado uma queda nas coberturas vacinais em geral, o que nos traz uma grande preocupação quanto ao retorno de doenças potencialmente graves, até então, controladas pelas ações de vacinação.” -Imagem (1.2354590)