A quantidade de denúncias de poluição sonora em residências em Goiânia aumentou 199% nos meses de março, abril e maio de 2020 se comparado com o mesmo período do ano passado. Em números absolutos o valor passou de 1.211 para 3.621, praticamente o triplo. Os dados são da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma). Um dos principais motivos do aumento de denúncias durante o período de pandemia são as festas irregulares que estão sendo promovidas por moradores da capital.Em março de 2020, mês que o governador Ronaldo Caiado (DEM) assinou os dois primeiros decretos que impediam aglomerações em espaços públicos e privados por conta da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), o número de denúncias recebidas foi 1.009. No mesmo mês de 2019 a Amma recebeu 526 queixas do tipo. Em abril, mês no qual houve uma flexibilização, o número ficou ainda mais discrepante. Enquanto em 2019 a agência recebeu 420 reclamações no período, em 2020 a quantidade mais que triplicou: 1.553. Até o dia 18 maio de 2019 haviam sido feitas 265 chamados por causa de barulho, neste mês elas somam 1.059.O presidente da Amma, Gilberto Marques Neto, afirma que o trabalho na capital tem sido feito em parceria com a Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) por meio do Disque Denúncia (161) da agência. “Cerca de 90% das reclamações que chegam ao órgão são relacionadas à poluição sonora. Neste período de pandemia tivemos de triplicar nossas equipes. Acredito que o fato de as pessoas estarem mais (tempo) em casa esteja justificando este aumento”, explica.De acordo com Neto, algumas vezes as pessoas acabam provocando perturbação sonora sozinhas em casa, mas em outras ocasiões, o barulho é causado por reuniões irregulares. “São diversas confraternizações e festas. É preciso lembrar que além destas pessoas estarem descumprindo os decretos estadual e municipal, também estão cometendo um crime ambiental de perturbação do sossego público”, ressalta.Atualmente, de acordo com o último decreto publicado pelo governo estadual no dia 19 de abril deste ano e que foi replicado pelo município, estão suspensos todos os eventos públicos e privados de qualquer natureza, inclusive reuniões em áreas comuns de condomínios, utilização de churrasqueiras, quadras poliesportivas e piscinas. Também está vetada a realização de atividades em clubes recreativos e parques aquáticos e a aglomeração de pessoas em espaços públicos de uso coletivo, como parques e praças.Segundo o presidente da Amma, a realização de festas irregulares está se aprimorando com o passar dos dias. “Chegou ao nosso conhecimento que as pessoas que estão fazendo estas festas criam grupos de WhatsApp e divulgam o local onde será realizado o encontro no último minuto”, afirma. Neto diz que isso demonstra claramente uma tentativa de fazer com que a fiscalização pública seja ineficiente. “Eles fazem isso para tentar dificultar o nosso trabalho. Estas reuniões normalmente não têm uma quantidade média de pessoas, mas costumam ocorrer em casas e chácaras que não têm isolamento acústico.”AumentoO comandante-geral da Guarda Civil Metropolitana (GCM), Wellington Paranhos, conta que nas últimas semanas notou um aumento significativo de festas em residências com a participação de cinco a dez pessoas. “Desde o dia 13 de março, quando o primeiro decreto estadual que restringia as aglomerações foi publicado, foram registradas 620 ocorrências de aglomerações em locais públicos e privados. Muitas são em parques, mas desde o fim do último mês percebemos que o pessoal está se aglomerando em casas também”, explica.Desde o fim de abril, a taxa de isolamento em Goiás tem sido baixa e diversas vezes o Estado ficou em último lugar entre as unidades da federação no indicador. No dia 30 de abril a taxa de isolamento em Goiás atingiu 34,9%. Nos primeiros dias de maio ela ficou abaixo dos 40% com o registro de 38,3% no dia 4. No dia 13 de maio, a tendência continuou quando o resultado foi de 37,2%. O número voltou a subir nos últimos dias, sendo que no último domingo (17) a taxa atingiu 45,91%. Mesmo assim, o Estado tem o pior número do País.Segundo o comandante-geral da GCM, quando os agentes chegam aos locais de festas, eles procuram conversar com o proprietário e dispersar a aglomeração. “Explicamos a situação que estamos vivendo e que a aglomeração infringe a lei. Depois disso pedimos para que a confraternização seja finalizada. Até o momento estamos tendo êxito nas operações e pouca resistência”, esclarece.Paranhos explica que quem desobedecer aos decretos estadual e municipal está passível de sanção. “Nos apoiamos no artigo 268 do Código Penal Brasileiro que afirma que, infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, pode sofrer pena de detenção de um mês a um ano e pagar multa”, esclarece.Para denunciar aglomerações à GCM basta entrar em contato com o Disque Denúncia no telefone 153. Interior também registra casos de festas irregularesNo interior de Goiás também têm ocorrido diversas festas irregulares. Algumas contam até com a presença de autoridades. Parte delas aglomera um grande número de pessoas. É o caso da festa em uma casa com cerca de 150 pessoas que a Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) dispersou na madrugada do último sábado (16) em São Luís de Montes Belos. A PM foi ao local depois de receber denúncias. Grande parte dos participantes estava sem máscaras e tiveram de assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). “Estamos levantando com a polícia quem são estas pessoas para monitorarmos a maior quantidade possível”, diz a coordenadora da Vigilância Epidemiológica da cidade, Rosângela Cabral.Em Pirenópolis, uma cavalgada em homenagem a Folia do Divino Espírito Santo feita no último domingo (19) e também gerou complicações. Isso porque a celebração simbólica contou com a participação de um jovem que foi infectado pelo novo coronavírus e mora em Goiânia. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Júnior Pereira, o evento que contaria com apenas dez cavaleiros acabou juntando mais pessoas. “Cerca de 20 pessoas se aglomeraram. Apesar de termos tido todos os cuidados possíveis, estamos monitorando todas as pessoas com quem o jovem teve contato”, afirma. O prefeito de Castelândia, Marcos Antônio Carlos (PSD), participou de uma festa no segundo final de semana deste mês que contou com a presença de cerca de 30 pessoas. Parte da reunião foi filmada e as imagens mostram pessoas sem máscaras. Em nota, a assessoria do prefeito afirmou que ele foi convidado para participar de um encontro com um amigo e quando chegou ao local se deparou com a aglomeração e “foi embora imediatamente, recomendando que as pessoas fizessem o mesmo”. No último dia 2, o vereador Fernando Aguiar (PSD), de Rio Verde, apareceu em fotos de um aniversário nas redes sociais. Havia dezenas de pessoas. Ele diz que não sabia que o local estaria cheio. “Quando vi a quantidade de gente que tinha, dei o presente para o aniversariante, fui embora e o alertei para acabar com a festa, pois era perigoso.” Em Goiânia, denúncias também podem ser feitas por aplicativoAlém do 161 da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) e do 153 da Guarda Civil Metropolitana (GCM), as denúncias de aglomerações em locais públicos e privados podem ser feitas pelo aplicativo Goiânia 24 Horas da Prefeitura. O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedetec), Trabalho, Ciência e Tecnologia, Walison Moreira, diz que por conta da pandemia da Covid-19 a plataforma ganhou mais duas funções. “Uma é para denunciar aglomerações e a outra para denunciar estabelecimentos abertos de forma irregular.”Moreira afirma que todas as denúncias feitas no aplicativo são encaminhadas diretamente para a GCM. “Se a pessoa quiser ela pode tirar uma foto e mandar ou então só deixar o relato dela junto com a localização do local ou o endereço por escrito. Porém, se houver muita urgência as pessoas devem ligar para o 153 da GCM”, enfatiza.Moreira ressalta que a denúncia pode ser feita de forma anônima. “Se a pessoa estiver com medo, ela não precisa se identificar. Além disso, nosso sistema tem a possibilidade de acompanhamento da denúncia. Pelo aplicativo as pessoas conseguem ver se algum analista já recebeu a denúncia e se aglomeração já foi dispersada”, exemplifica. Segundo o titular da Sedetec, que têm profissionais que analisam os dados das denúncias, elas têm crescido nas últimas três semanas. “Houve um aumento significativo e por isso pedimos que a população continue nos ajudando com isso porque o nosso efetivo é reduzido”, finaliza.