A chamada segunda onda da Covid-19 já alcançou os Estado Unidos, diversos países europeus, como a França, Portugal e Alemanha, e Estados brasileiros, como São Paulo. Em Goiás, apesar de as autoridades da Saúde ainda não vislumbrarem nenhum indicativo e especialistas acreditarem que, se vier, ela será menor, a possibilidade existe. Para enfrentar um possível aumento na curva epidemiológica, é necessário que, neste momento, quando o Estado lida com um número menor de casos, ocorra o rastreamento das pessoas contaminadas e dos contatos delas de forma eficiente. Entretanto, especialistas afirmam que aumentar a testagem é essencial para se obter êxito.A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, admite que a possibilidade dos casos voltarem a crescer no Estado é real. O assunto tem sido discutido pelo Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública de Goiás e uma das principais estratégias para contenção de uma segunda onda no Estado é justamente o rastreamento. “Agora que temos menos casos, conseguimos fazer isso de uma forma mais rápida”, diz. Flúvia explica que, mesmo com um crescimento da curva epidemiológica, com os casos bem rastreados é mais fácil controlar a situação da pandemia. “Dessa forma, vamos conseguir manter o R (índice de transmissão da doença) mais baixo”, diz. De acordo com especialistas, o ideal é que o R fique menor que 1.O biólogo, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do Grupo de Modelagem da Expansão da Covid-19 em Goiás, José Alexandre Felizola, concorda com o ponto de vista de Flúvia. “É importante que as pessoas entendam que o R é um número de novos casos a partir dos casos que temos hoje. Então, podemos ter um R alto igual a 2, mas se o número de pessoas infectadas hoje for igual a 10, então não é tão difícil acompanhar essas pessoas e seus contatos e assim impedir que essas 10 pessoas transmitam para 20 e que depois estas transmitam para 40”, explica. Entretanto, com um R menor e uma quantidade maior de pessoas infectadas, esse trabalho fica mais difícil. “Imagine uma situação com um R bem menor, de 1,2, mas com mil infectados que dentro de mais ou menos uma semana iriam gerar 1,2 mil novos casos. Mesmo com um R bem menor, seria muito difícil rastrear todos os contatos desses casos e reduzir as transmissões”, esclarece.TestagemEntretanto, Flúvia diz que este trabalho é feito essencialmente pelos municípios, sendo que o Estado desempenha principalmente um papel apoiador. “A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) esteve aqui e elogiou bastante os trabalhos desenvolvidos por Rio Verde e Aparecida de Goiânia”, diz. Em Rio Verde, foi feita uma testagem em massa depois de um surto de pessoas infectadas com o coronavírus em um frigorífico da cidade, em junho deste ano. Na época, o município adotou medidas restritivas rígidas. Já em Aparecida de Goiânia, depois de um aumento de casos em julho deste ano, uma testagem em massa começou a ser realizada e já foram feitos mais de 144 mil exames. Segundo a assessoria de imprensa da SES-GO, o Estado segue fazendo a testagem via Dados do Bem, que já testou 25 mil pessoas, e também pelo Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), que já testou 75 mil pessoas desde o início da pandemia. Entretanto, o coordenador da área de modelagens da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, afirma que a testagem em Goiás ainda precisa melhorar. No Estado, desde o início do ano, de acordo com a última atualização do Sivep-Gripe, existem 8.467 óbitos com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), por qualquer causa, e 5.844 confirmados por Covid-19. Ou seja, 2.623 óbitos que foram por SRAG, não tiveram confirmação de COVID-19, mas ocorreram. Comparativamente, em 2019, Goiás registrou 202 óbitos por SRAG. “Esse aumento de 202 para 2.623 provavelmente indica que ali tem óbitos por COVID-19 que ficaram sem diagnóstico”, explica. ControleFelizola acrescenta ainda que a testagem é a ferramenta que permite avaliar mais corretamente a situação da epidemia e controlá-la. “Se temos uma testagem em massa e rápida, é possível isolar muitos casos assintomáticos que iriam transmitir sem que percebêssemos. Ao mesmo tempo, se conseguimos testar os principais contatos de alguém que está com sintomas, é mais fácil quebrar as cadeias de transmissão”, finaliza.