A pandemia de Covid-19, que já matou mais de 2,3 mil pessoas em Goiás, também tem suas sequelas entre os recicladores de lixo. Com o fechamento das atividades comerciais entre março e junho, a participação do lixo doméstico no material coletado por cooperativas de reciclagem aumentou, mas não o suficiente para impedir uma queda brusca no rendimento.Na Uniforte, que reúne seis cooperativas (Cooper-Rama, Seleta, Carrossel, Cooperfarma, Coopermas e Cooprec), o faturamento entre março e junho deste ano foi 43% menor que no mesmo período de 2019 (de R$ 461 mil para R$ 262 mil).O valor é usado para fazer a cadeia produtiva funcionar, da coleta à venda, incluindo lo tratamento do material. O que resta de lucro é dividido em diárias com valor fixo: ganha mais quem trabalha mais.Com isso, o rendimento de cada um dos cerca de 150 trabalhadores também encolheu. “Trabalhando todos os dias, uma pessoa ganhava de R$ 1,4 mil a R$ 1,6 mil por mês. Na pandemia, chegou a ganhar R$ 300”, afirma a presidente da Uniforte, Dulce Helena do Vale.Com as portas fechadas, o comércio acabou produzindo menos material reciclável. De acordo com estimativas da Uniforte, a queda foi de aproximadamente 50% no período de maior isolamento social. Em contrapartida, o resíduo porta a porta, que provém de casas e condomínio, teve volume até 40% maior.“A população ficou mais em casa. O resíduo do comércio diminuiu, o residencial aumento, principalmente embalagens tetra pak, garrafas pet e embalagens de produtos de limpeza”, afirma Dulce Helena, que preside a Uniforte desde a fundação, em 2013.A recicladora explica que as cooperativas deixam sacolas em diversos condomínios residenciais e passam para busca-las periodicamente. “Antes da pandemia, a gente deixada duas bags em cada lugar. Agora, a gente deixa quatro”, afirma. Com isso, a coleta de material reciclável nesses pontos passou de uma média de 60 quilos para 120 quilos por dia. O resultado é uma produção maior de produtos que os recicladores só encontram em residências, como plástico e vidro.Mesmo com o crescimento observado no lixo residencial, não foi possível manter o mesmo faturamento dos períodos normais. Com isso, os trabalhadores tiveram de contar com auxílio de parceiros, como o Ministério Público, Villa Mix e outros. Cada cooperado recebeu duas cestas básicas por mês, além de ajuda financeira.Alguns também obtiveram o auxílio emergencial do governo federal, de R$ 600 por parcela. A presidente da Uniforte diz que, dessa forma, foi possível atravessar o período com menos trabalho. Mas, por outro lado, ela teme que o auxílio acabe afastando alguns recicladores da lida diária.Os hábitos de trabalho também tiveram de se adaptar. As cooperativas receberam equipamentos de proteção individual da Prefeitura de Goiânia, como luvas, máscaras e álcool em gel. De acordo com Dulce Helena, todos estão usando. “A vida nossa mudou. Tirar máscara, só para dormir. Ninguém quer morrer”, afirma. Startup ajuda na gestão de cooperativas em GoiâniaPara ajudar a gerenciar toda a cadeia do material reciclável, da coleta à venda, as cooperativas da Uniforte passaram a contar com auxílio de uma startup do Centro de Empreendedorismo e Incubação da Universidade Federal de Goiás (UFG). A plataforma Selletiva, desenvolvida pela Acqua Ambiental, começou a ser usada em plena pandemia. A expectativa é que ela possa fazer aumentar o faturamento dos recicladores.“A plataforma permite ter os números, saber onde coletou e para onde está indo. Qual material o reciclador está pegando e o que fazer com ele”, explica o CEO da startup, Frederico Fragonar Cardoso. O uso por parte da Uniforte não tem custo.De acordo com Fragonar, também será possível rastrear o material coletado, permitindo, inclusive, diminuir o risco de contaminação dos trabalhadores. “A cooperativa pode ter todos os indicadores para aperfeiçoar a gestão ambiental”, diz.-Imagem (1.2103350)