Atualizada às 20h54Prometido para janeiro deste ano, o serviço de reconhecimento facial nas unidades de ensino da rede municipal de Goiânia – que envolve 108 mil estudantes até 14 anos de idade e 18 mil servidores – agora está previsto para estar funcionando plenamente no fim de setembro. O prefeito Rogério Cruz (Republicanos) chegou a ser questionado sobre isso na audiência de prestação de contas na Câmara Municipal no dia 15 de junho e uma vereadora provocou o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) e o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) sobre o atraso, uma vez que a empresa contratada já recebeu 58% dos R$ 9,38 milhões previstos em contrato.Das 374 escolas e Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) que integram a rede municipal da capital, 320 já receberam o aparelho, a maioria a partir de janeiro deste ano, sendo que mais da metade após fevereiro. O treinamento dos servidores para uso do equipamento começou apenas em maio. A reportagem entrou em contato com 33 unidades de ensino nesta semana e a informação é que falta fazer a interligação do aparelho com o sistema, o cadastro dos estudantes, pais e servidores e treinamento. Nenhum dos servidores ouvidos soube dizer o cronograma para o início do funcionamento.Na época em que foi lançado, no dia 27 de outubro com o nome Conecta Educação – um programa que envolve 22 iniciativas de informatização da gestão do setor na Prefeitura -, a Prefeitura informou que tudo estaria implementado até dezembro e que “todas as unidades devem ter a gestão escolar automatizada” já no começo do ano letivo. Em maio, entretanto, em uma matéria publicada no site da Prefeitura, o Conecta Educação é novamente citado como ainda em implantação e sem uma data para funcionar.O contrato com a Ponto ID, com sede em Goiânia, foi por meio de adesão a uma ata de registro de preços de um pregão eletrônico promovido pela Secretaria de Estado da Educação de Tocantins. O serviço desenvolvido pela empresa no estado vizinho foi apresentado ao prefeito e ao titular da Secretaria Municipal de Educação (SME), Wellington de Bessa, em visita de comitiva goianiense a Palmas em julho do ano passado. A vereadora Aava Santiago (PSDB), que fez a queixa sobre o atraso aos órgãos fiscalizadores, reclama que falta transparência da Prefeitura sobre o andamento do projeto e questiona o pagamento já realizado, uma vez que os aparelhos, segundo ela, estariam encalhados nas escolas e muitas unidades reclamam da falta de estrutura – como internet – para que estes equipamentos funcionem.Na audiência da semana passada, o prefeito reclamou da afirmação por parte da vereadora de que estaria havendo uma farra com dinheiro público e comentou que sempre houve por parte da atual gestão respeito com os recursos no encaminhamento de projetos, obras e serviços. Já Bessa elencou uma série de serviços que iriam melhorar a gestão do ensino.O titular da SME diz que a implantação do Conecta Educação é um processo complexo, não apenas por envolver o cadastro de dados de muitos estudantes, pais e servidores, além do treinamento destes únicos, mas também porque até então a gestão era “completamente arcaica”, com a maioria dos serviços ainda manuais.Sobre o atraso, o secretário disse que na verdade o prazo até janeiro seria para o início da implantação e que a greve parcial dos professores entre março e abril atrasou o processo.Até o momento, a empresa já recebeu R$ 5,48 milhões pelo serviço contratado. Secretário cita greve e recesso para atrasoO titular da Secretaria Municipal de Educação (SME) de Goiânia, Wellington de Bessa, diz que a implantação dos aparelhos nas unidades de ensino começou apenas em janeiro por dois motivos: aguardar uma certificação que seria necessária por parte da Controladoria Geral do Município (CGM) e o recesso escolar de fim de ano. Depois, ainda segundo ele, a greve dos professores em parte das escolas entre março e abril teria atrasado o processo de treinamento dos mesmos.Bessa apresentou uma planilha com um cronograma de treinamentos e processos do Conecta Educação que começaram em maio deste ano e iriam até o fim de setembro. “A partir daí, vai estar tudo pronto para o início imediato”, afirmou.Ao listar os desafios da pasta para a gestão informatizada da rede, Bessa comentou que a pasta “era completamente arcaica”, com muitos processos – simples ou não - ainda sendo feitos de forma manual, como gerenciamento da merenda escolar, modulação dos professores e a prestação de contas das escolas, e que até 2011 os dados dos estudantes e servidores estão todos em documentos físicos. “A infraestrutura é talvez a parte mais fácil. O grande desafio vai ser colocar o software para funcionar”, comentou o secretário, porque será necessário fazer o cadastro no sistema dos 108 mil alunos, 18 mil professores e servidores, além dos pais e responsáveis pelos estudantes. Mas ele garante que após isso haverá uma grande economia de recursos financeiros e físicos.Apesar de o programa de reconhecimento facial ter sido o principal destaque do programa, até pela própria Prefeitura ao apresentá-lo, Bessa diz que há outros módulos mais importantes, como o que vai informatizar os dados sobre o avanço do aprendizado dos alunos e os déficits das escolas. Ele também diz que o programa de reconhecimento é importante por trazer segurança para os pais que saberão em tempo real quando os filhos entram e saem das escolas. “Na rede municipal, criança com 6 ou 7 anos vai sozinha para a escola.” E cita que o Conselho Tutelar será informado quando o aluno faltar muito, podendo verificar a situação. “Tudo automático.”Sobre a decisão de fazer uma adesão a uma licitação no Tocantins, o secretário diz que daria agilidade ao processo e foi feita uma pesquisa de preços e serviços prestados mostrando que o contrato era o mais vantajoso. Vereadora sugere pressa do Paço após denúnciaA vereadora Aava Santiago (PSDB) diz que a Secretaria Municipal de Educação (SME) pode estar correndo agora com a instalação do sistema de informatização da gestão de ensino, com a implantação do serviço de reconhecimento facial, após o prefeito ter sido questionado sobre o atraso no cronograma durante audiência na Câmara Municipal no dia 15. Segundo ela, não há transparência por parte da gestão sobre o andamento do contrato com o Ponto ID e muitos professores têm reclamado da falta de informação sobre os aparelhos já instalados. “O maior problema da administração pública brasileira é o desperdício de recursos públicos, há uma grande possibilidade de estar acontecendo isso agora.”Aava diz que a denúncia surgiu durante visitas a escolas para tratar de outros problemas, quando teria sido procurada por servidores para falar dos equipamentos instalados sem funcionamento. A partir daí, ela diz que levantou os pagamentos feitos à empresa e agora questiona como pode ter sido repassado mais da metade do previsto em contrato sem que nada possa ser visto de concreto ainda do Conecta Educação. “Não tem nem 10% do que deveria.”A vereadora critica a decisão da SME ter feito o contrato sem licitação, por meio de adesão a uma ata de registro de preço feita pelo governo do Tocantins. “Por quê? É a única empresa capacitada para este serviço?”Leia também: - Reconhecimento facial chega às escolas municipais de Goiânia- Pesquisador da UFG defende que Inteligência Artificial faz promessas que jamais serão cumpridas- Trecho da Avenida 24 de outubro vai ser a primeira 'rua inteligente' de Goiânia