Os cartórios de registros civis em Goiás registraram 42.259 óbitos em todo o ano de 2020, o que corresponde a 7.418 mortes a mais do que havia sido registrado em 2019, quando 34.778 pessoas receberam o atestado de óbito no Estado. Este aumento de 21,51% é explicado por autoridades sanitárias e especialistas em saúde pública como o efeito da pandemia da Covid-19. “Não tem outra explicação. Todos os dados são coerentes, mesmo os registros civis que ainda vão ter alta nos números. É efeito do coronavírus”, diz o médico Elias Rassi, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).Para se ter uma ideia, a relação entre os óbitos registrados em 2019 e em 2018 é de um aumento de 5,14%, ou seja, foram 1.701 mortes a mais. O valor é semelhante ao que se vê entre 2018 e 2017, com alta de 5,45%, o que coloca 2020 como, de fato, um ano atípico. Mesmo ao considerar os dados oficiais do Ministério da Saúde, via Datasus, que só foram publicados até o ano de 2019, o aumento entre os anos é na faixa de 4% a 5%. Este fator é coerente com o aumento e envelhecimento da população no Estado.Rassi explica que, por ainda ser janeiro, os dados dos registros civis devem ter uma alta de 15% nos números, já que as emissões de atestados podem demorar em alguns casos. “O Datasus é mais completo e ainda são dados revisados, procuram inconsistências, mas os registros civis estão mais coerentes agora. Em 2015, a diferença entre os atestados e o Datasus era de 11 mil óbitos, já em 2019 foi de 5 mil. Assim mesmo, nós vemos que a quantidade e diferença entre os anos mostra que a pandemia fez este efeito. Não há outra coisa que justifique”, diz.Nos dados dos cartórios, entre março, quando a primeira morte por Covid-19 foi registrada em Goiás, e até o dia 31 de dezembro do ano passado, 7.237 pessoas tiveram no atestado de óbito a causa da morte como Covid-19, o número é semelhante com os 7,4 mil óbitos a mais verificados entre 2019 e 2020. O número é diferente do que se tem pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), quando na tarde desta sexta-feira (15) chegou a 7.077. Isso se dá pelo atraso das prefeituras em alimentar os dados do Ministério da Saúde. Já os dados dos cartórios são com base nos atestados que os familiares devem retirar com até 24 horas após a morte.A superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, também corrobora que esse “excesso de mortes” é visto em razão da pandemia. Esse cálculo também foi realizado pelo Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass), desde o ano passado, levando em conta a estimativa das mortes por causas naturais. Foi feita estimativa do número de mortes esperadas para 2020 com base no que se teve de 2015 a 2019 e, até 21 de novembro do ano passado, já se tinha 29% a mais de óbitos do que o estimado pela pesquisa. Reportagem do POPULAR do último dia 2 detalhou as informações apontadas no referido levantamento.Flúvia explica que, em resumo, se não houvesse a pandemia, cerca de 7 mil pessoas em Goiás estariam vivas. “Algumas pessoas poderiam morrer de outras causas, algumas tinham comorbidades. Mas na prática é isso, não tem comparação com outras doenças, não tem como negar isso.” A superintendente diz ainda que em 22 anos atuando na vigilância epidemiológica nunca viu uma doença matar tanto em tão pouco tempo. “Nem os surtos de dengue, nem com H1N1, nunca chegou nem perto de 7 mil pessoas em 10 meses em Goiás.”RecordesDe acordo com os dados dos registros civis analisados mês a mês dos últimos anos, em Goiás nunca houve mais de 3,2 mil mortes por mês. Esse número foi batido ainda em junho do ano passado, com 3.337 óbitos registrados nos cartórios. Válido lembrar que, como a primeira morte por Covid-19 ocorreu em março, a pandemia ainda não completou um ano no Estado. Assim mesmo, a partir de junho, quando se iniciou o crescimento exponencial da curva epidemiológica, o número de atestados de óbitos em Goiás se elevou ainda mais.Entre julho e outubro, foram registrados mais de 4 mil óbitos por mês em Goiás. O recorde se deu em agosto, justamente quando tivemos o pico da pandemia de Covid-19. Nos dados dos cartórios, foram 4.662 óbitos nos 31 dias daquele mês de todas as causas. A SES-GO registra que nas quatro semanas de agosto foram computados 1.586 óbitos por Covid-19 em Goiás. Também acompanhando a curva epidemiológica, em novembro e dezembro os dados dos cartórios tiveram uma queda no número de atestados, se mantendo no patamar de 3,1 mil óbitos. Neste período, a SES-GO indica queda nos óbitos por Covid-19. -Imagem (1.2182123)