1- Este ano tivemos várias notícias de dificuldades na UFG e a previsão é de que isso continue em 2020. Que balanço o senhor faz de 2019?Ao lado da tensão diária do orçamento e das posturas do Ministério da Educação e das medidas que vem tomando, nós vimos uma universidade muito madura, muito conhecedora da sua responsabilidade. Uma universidade que se colocou no dia a dia da sociedade de forma muito intensa e nas mais diferentes áreas. Na cultura, na pesquisa, na divulgação de ciência, na extensão, no diálogo com todos os segmentos da sociedade. As pesquisas da UFG ganharam repercussão mundial.2- A gente vê a comunidade universitária reagindo com indignação às falas do governo federal e mesmo da sociedade. Como foi isso?Teve isso. E o curioso é que o sentimento de indignação ganhou corpo entre pessoas da sociedade que passaram pela universidade ou que não passaram e que veem os benefícios da universidade e sabem que não é aquele lugar que a gente vê nas redes sociais. Como local de decadência do ser humano, pessoas drogadas pela faculdade, plantações de maconha, laboratórios de droga. A gente sempre fez o desafio de ir à UFG de surpresa, a qualquer hora do dia ou da noite para ver que não é isso. Essa disputa de narrativas é muito grave e a gente imagina que não acabou. Ainda existe, por uma parte significativa do governo, uma tentativa de desconstrução da universidade, mas felizmente quando apresenta os resultados da avaliação dos cursos, avaliação da pós-graduação, isso contando só os oficiais, mas outros rankings também, e mostra uma discrepância clara para as universidades federais por conta do nível das pessoas que compõem as universidades e também uma infraestrutura e desenvolvimento de mostrar que somos assim e não o que estão falando. Os alunos assumiram isso com muita força e foram para as ruas para isso. A gente espera que essa narrativa prevaleça.3- Fala-se muito sobre a universidade não estudar aquilo que é importante. É assim a realidade?É um equívoco completo reduzir a ideia da pesquisa simplesmente a coisas aplicadas, que está enxergando o problema ali. Imagine a curiosidade da professora Melissa Avelino e do professor Nelson Antoniosi quando resolveram utilizar um laboratório de química para ver o que tinha na cera de ouvido. Quem poderia imaginar que onde eles chegaram viriam absolutamente da criatividade, do exercício de imaginação? Ninguém poderia sonhar que dali ia surgir um método revolucionário para diagnóstico de câncer. Tem coisas que tem um problema específico, mas aquela pesquisa aparentemente sem importância pode ter dentro dela problemas que hoje a gente nem imagina. 4- Esse discurso do governo entra também nas discussões com os reitores? Há um preconceito com vocês?Não posso nem acreditar que eles pensam isso de verdade. Quando eles visitam as universidades, qualquer universidade do País, eles percebem que não é como pensam. O discurso deles afasta muito. Se tivessem a humildade de vir, conhecer e entender a realidade ajudaria a resolver os problemas mais fácil. Mas a gente não sabe no fundo o que está por trás disso tudo. Será que é prevenção ao pensamento?5- Houve mudança na escolha dos reitores na lista tríplice, não optando pelo mais votado. O que achou?Desrespeita toda uma tradição. Desde 1985, não teve nenhuma situação na UFG em que o vencedor da consulta não foi o nomeado. O que a gente precisava era aperfeiçoar, tirar a lista tríplice e eleger o mais votado. O governo desconhece a autonomia universitária.