A reitoria interina da Universidade Federal de Goiás (UFG), Sandramara Chaves, que apesar de compor a chapa vencedora para assumir o cargo em definitivo para o mandato até 2025, voltou a afirmar a importância de a comunidade acadêmica apoiar a gestão da professora Angelita Lima, escolhida na lista tríplice pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser a próxima reitora da instituição. A fala foi feita durante a posse da nova diretoria do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG.Sandramara venceu o processo de consulta à comunidade acadêmica feito em 2021 para assumir a reitoria, mas Bolsonaro acabou nomeando Angelita, que ficou em terceiro na lista formada pelo Conselho Universitário para ser encaminhada ao Ministério da Educação (MEC). A escolha causou revolta entre professores, estudantes e servidores da instituição, que acusaram o presidente de desrespeitar a autonomia universitária.“O que eu disse desde o primeiro momento e ressalto aqui é a importância de apoiarmos a professora Angelita para que ela assuma a gestão desta universidade e dê continuidade a um projeto que nós acreditamos. Nós temos certeza de que ela e a equipe dela farão isso, um projeto de uma universidade inclusiva, socialmente referenciada, que respeita as diferenças, que respeita a pluralidade que a compõe”, comentou Sandramara em seu discurso.Em sua fala, Sandramara aproveitou para destacar o trabalho feito pela comunidade da UFG nos últimos quatro anos, citando não apenas a equipe do IPTSP, mas de outros órgãos da instituição, entidades ligadas e algumas ações específicas. Ela destacou os desafios vividos não apenas pelo momento da pandemia como pela postura adotada pelo governo federal, de enfrentamento às universidades. Em tom de despedida, ela agradeceu um a um ao longo de cerca de 19 minutos. Ao citar a família, ela chorou.“Queria manifestar minha revolta contra essa atitude de desrespeito, não a mim como pessoa, mas à escolha da comunidade universidade, do conselho, ao processo democrático, ao quanto que nossa autonomia desta instituição foi desrespeitada, mais uma vez, o que não é novidade em tudo que estamos vivendo neste governo”, afirmou.Antes de Sandramara, o ex-reitor Edward Madureira, cujo mandato foi concluído na semana passada, também se emocionou em um discurso de quase 10 minutos, dos quais dois foi de pausa para se recompor. “Esta instituição permanece muito viva, muito forte e vai saber lidar com tudo isso, com toda esta violência, esta brutalidade, esta maldade que se abateu sobre nós nesta semana. A indignação só aumenta, a revolta só aumenta.”Edward afirmou que a escolha de Angelita no lugar de Sandramara é parte de um processo de “tentativa de desestabilização da universidade pública brasileira” que está em curso na atual gestão do governo federal. “Que bom que a UFG se posiciona e tem sabedoria para se reerguer após o golpe e seguir firme no seu destino de transformar esta sociedade”, afirmou.Em relação ao IPTSP, o ex-reitor afirmou que o órgão se destacou no enfrentamento à Covid-19, se colocando “a serviço da nação brasileira” e do Estado. “Não é por acaso que foi ali juntamente com o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e a Faculdade de Farmácia, que o Estado de Goiás suportou o início da pandemia e formou pessoas para toda a rede de saúde do nosso Estado.”Após a pausa na fala, Edward afirmou que não poderia faltar à solenidade para dar posse “a quem foi legitimamente eleito”, em uma indireta à forma como o governo federal lidou com a escolha para a reitoria pela comunidade acadêmica. A professora Flávia Oliveira assumiu a diretoria do IPTSP para os próximos quatro anos, tendo como vice a professora Megmar Carneiro. Angelita não esteve presente na posse.Associação diz temer intervenção de Bolsonaro se posse for recusadaA diretoria do Sindicato dos Docentes da UFG (Adufg) divulgou nesta quinta-feira (13) nota de apoio à posse da professora Angelita Lima como reitora da instituição e explicou que a revolta da entidade é com a “intervenção” do presidente Jair Bolsonaro, que fez uma nomeação sem respeitar a escolha da comunidade universitária pela professora Sandramara Chaves.“Mantemos nossa indignação contra a intervenção de Bolsonaro, mas entendemos que, se a professora recusar o cargo, o governo pode nomear um interventor”, diz trecho do texto da Adufg. Na nota, a associação diz que Angelita é “uma docente séria e respeitada pela comunidade acadêmica, que acabou encurralada por uma tentativa do presidente em causar instabilidade política dentro da universidade”. “Sua missão, agora, é conduzir a instituição de ensino e, para isso, ela contará com o apoio irrestrito da categoria.”A Adufg conclui a nota dizendo que a decisão de Bolsonaro foi um “retrocesso feito por um governo autoritário”.