Adeptos de religiões de matriz africana da região entre Cocalzinho de Goiás e Águas Lindas, no Entorno do Distrito Federal, denunciam intolerância religiosa em abordagens policiais na busca do fugitivo Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos. Eles relatam que na última semana dois terreiros de Candomblé foram invadidos e tiveram suas portas arrombadas por agentes da Segurança Pública. Parte dos policiais envolvidos na operação de busca pelo suspeito de matar uma família em Ceilândia (DF) defende que o criminoso seria praticante de “bruxaria”, “magia negra” ou “satanismo”. Lideranças desses centros religiosos repudiam a hipótese de que eles teriam ligação com essas supostas práticas. Todos ressaltam que não defendem Lázaro.Na última quarta-feira (16), policiais teriam arrombado as portas de um terreiro entre os distritos de Edilandia e Girassol, em Cocalzinho. Já na quarta e domingo (13), teriam invadido uma casa de Candomblé na zona rural de Águas Lindas. O pai de santo André Vicente de Sousa, de 85 anos, conta que os policiais espancaram seu caseiro. “Eles bateram no caseiro para saber onde está o Lázaro”, relata o idoso. Segundo ele, os policiais ficavam perguntando “onde está o Lázaro” e o funcionário respondia que não sabia.A mãe de santo Isabel Cristina Moreira, de 57 anos, tem a casa Ile Ase Olona há um ano, desde o início da pandemia. O centro religioso fica em Girassol, mesmo local da base da operação de buscas por Lázaro. Ela relata que vem recebendo constantes visitas da polícia, diferente de seus vizinhos. Segundo a liderança, em uma dessas visitas os policiais perguntaram se Lázaro era da religião dela e se ela o conhecia. “Como se a gente fosse íntimo do tal do Lázaro”, lamenta.Isabel relata que na noite da última quinta-feira saiu da cama com a movimentação de agentes federais dentro da sua casa religiosa, onde ela também mora em um cômodo do fundo. Ela diz que foi para fora no escuro e pediu que eles se retirassem, pois não tinham mandado judicial. “Nós não damos força a bandido. A gente não esconde bandido. A gente não trabalha para alimentar o negativo de um surtado. Nossa casa é acolhedora? É! Mas não para bandido”, ressalta a mãe de santo.O pai de santo Patric Moreira de Abreu, de 32 anos, do mesmo terreiro de Isabel, cita dois medos atuais dos adeptos de religiões de matriz africana na região: do fugitivo e das invasões aos terreiros. “A gente não está aqui para atrapalhar as investigações, até porque a gente quer que ele seja preso, que nós também estamos com medo. O problema não é o policial entrar, o problema é entrar para quebrar, vandalizar, para arrombar portas dos nossos sagrados. Esse é o problema”, resume.A situação de intolerância religiosa nas buscas por Lázaro também é confirmada pela liderança religiosa Tata Ngunzetala. “Não tem nada que ligue o Lázaro a nossas casas e nossas tradições. E mesmo que ele tivesse frequentado alguma casa daqui, não faz com que as nossas casas sejam suspeitas o tempo todo. Já invadiram, quebraram porta do barracão, da casa de santo.”Integrantes de vários centros religiosos devem se reunir na noite desta sexta-feira (18) para decidir o que fazer diante dessa situação. Pai André já adianta que pretende entrar com uma ação no Judiciário depois que o fugitivo for preso.A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), que coordena as forças policiais na busca por Lázaro, às 14h desta sexta, mas não obteve resposta até o momento.-Imagem (1.2270268)