Todos os principais reservatórios de hidrelétricas em Goiás estão com o volume útil atual menor do que 50%. Um deles está com 9,43% da capacidade (confira o quadro). Com o retorno de chuvas substanciais previsto apenas para novembro, a tendência é que o cenário se agrave ainda mais nos próximos meses. A situação pode resultar em racionamentos em 2022.Apesar de a quantidade de chuvas ter influência direta no volume dos reservatórios, especialistas apontam que a diminuição no acumulado dos depósitos hídricos também se deve a outros fatores ligados, principalmente, à gestão pública. Isso porque o período de seca faz parte da dinâmica do Cerrado e a meteorologia consegue fazer um prospecto sobre a precipitação anual.Documento elaborado pelo geógrafo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Diego Nascimento mostra que nos últimos anos tem-se percebido uma progressiva diminuição dos volumes úteis dos reservatórios, mesmo quando as chuvas ficam acima da média. Um exemplo é a estrutura de Serra da Mesa, da Usina Hidrelétrica (UHE) de mesmo nome Serra da Mesa, no Norte do Estado.Até 2012, os totais de precipitação e volume útil do reservatório tiveram uma correlação mantida. Entretanto, a partir daquele ano, os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam para um progressivo declínio do volume útil do reservatório, até 2019.Apesar disso, foi registrado elevado valor de precipitação na estação meteorológica de Campinaçu, no entorno do reservatório, em 2013 (1.958 mm). Nos dois anos seguintes, os totais anuais ficaram acima da média de 1.379 mm (2014: 1.410 mm e 2015: 1.560 mm). A situação se repetiu em 2018 (1.562 mm).A situação deste reservatório chama atenção pelo fato de a UHE Serra da Mesa ser a mais importante na Bacia do Rio Tocantins, tendo em vista que ela representa quase totalidade da capacidade de armazenamento de energia da referida bacia hidrográfica e 17% de todo o subsistema Sudeste/Centro-Oeste. Em dezembro de 2020, ele chegou a atingir um volume útil de 21%.CenárioAlém da influência das chuvas, outros fatores moldam o cenário dos baixos volumes dos reservatórios das hidrelétricas. O primeiro diz respeito ao uso predatório de recursos hídricos, especialmente a montante das bacias hidrográficas -parte mais alta onde os cursos d’água são formados.“Podemos citar a ausência de cobertura vegetal em cabeceiras de drenagens, desmatamentos, erosões, assoreamentos, desvios irregulares de cursos d’água e uso da água para irrigação”, diz Denis Castilho, geógrafo e professor da UFG. Ele aponta ainda que, naturalmente, com o passar do tempo ocorre um aumento da demanda por eletricidade, o que também contribui para a diminuição do volume dos reservatórios.Entretanto, Castilho acredita que a falta de uma gestão governamental bem coordenada para o uso racional dos recursos hídricos destinados à produção de energia, esteja no monitoramento dos usos ou na diversificação e ampliação da geração de eletricidade, o que, diz ele, mais influencia na construção do cenário atual. “Se o baixo volume de chuvas era previsto por serviços de meteorologia, por que, então, não houve um planejamento estratégico para prevenir a crise energética que se anuncia?”, questiona.A expectativa é de que o cenário fique ainda pior em 2022, pois as chuvas do fim do ano podem não ser suficientes para abastecer de maneira consistente os reservatórios, que devem permanecer com o volume baixo. “Provavelmente teremos racionamentos. Será um ano muito difícil do ponto de vista energético”, finaliza Castilho.A reportagem do POPULAR tentou contato com a Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA) na tarde deste domingo (27) para comentar o assunto por e-mail e ligações para a assessoria de imprensa, bem como para os números de servidores do serviço, mas não houve sucesso. Quatro usinas podem colapsar Uma nota técnica enviada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para a Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA) prevê o colapso de quatro usinas hidrelétricas instaladas em Goiás até 30 de novembro deste ano: Nova Ponte, Itumbiara, Emborcação e São Simão devem esgotar seus volumes úteis antes do recomeço das chuvas.Essas usinas fazem parte da bacia do Paraná, que possui atualmente os reservatórios em situação mais delicada no País. Além destas usinas, outras quatro (Mascarenhas de Moraes, Água Vermelha, Marimbondo e Furnas), todas na região Sudeste, devem colapsar. Juntas, as oito usinas somam 10 mil megawatts (MW) de potência e representam 53% de toda a capacidade de armazenamento de água do País.Na prática, o colapso desses reservatórios terá o impacto sentido no bolso no usuário.” Em casos assim ou quando o sistema nacional opera próximo ao seu limite, termoelétricas movidas à combustíveis fósseis são acionadas – o que torna o preço da energia elétrica ainda mais caro”, diz Denis Castilho, geógrafo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Atualmente, a conta de energia elétrica está com bandeira vermelha 2, devido ao período de seca, com custo extra de R$6,243 para cada 100kWh consumidos. -Imagem (Image_1.2275195)-Imagem (1.2275219)