A vice-presidente da Comissão Nacional de Diversidade Sexual e de Gênero do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a advogada Amanda Souto defendeu, durante entrevista à jornalista Cileide Alves, que as pautas da comunidade LGBTQIA+ devem ser encaradas como parte da civilização e direitos humanos em vez de serem vistas como polêmicas, fator que contribui para desinformação e que dificulta o combate à discriminação.No programa Chega pra Cá, a advogada destrinchou as questões que influenciaram o salto nos registros da violência contra a comunidade. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 368 pessoas LGBTQIA+ sofreram lesões corporais em razão do preconceito com a sexualidade ou identidade de gênero no ano passado em Goiás. O número representa uma alta de 161% em relação a 2020.Este aumento acometeu todos os crimes envolvendo homofobia e transfobia. Deste modo, os homicídios foram de quatro em 2020 para 19 no ano seguinte, representando uma alta de 375%. Já os estupros passaram de dez em 2020 para 27 em 2021. Um crescimento de 170%.Amanda considera que os números representam uma coleta de dados mais assertiva, porém, retrata que a violência cresce ao lado do sistema, e está ligada a um pensamento ideológico.Leia também:- Cileide Alves entrevista a advogada Amanda Souto - Sobre salários de seis dígitos a juízes: “É desgastante e cansativo”- Presidente da Asmego reafirma segurança das urnas e refuta ataques à democracia “Nos últimos anos, nós temos visto que uma crescente na violência de sexualidade e identidade de gênero decorre muito deste momento político que vivemos”, afirma. A advogada percebe que os indivíduos discriminatórios se sentem no direito de violentar a existência deste grupo pela quantidade de figuras públicas agindo da mesma forma.Amanda define que esta ofensiva à comunidade, por um viés político, é uma necessidade ideológica destes eleitores e candidatos para criarem uma “figura do pânico moral”. Neste cenário, é como se elegesse a população LGBTQIA+ como uma espécie de inimigo da sociedade, segundo a advogada. “São vistos como menos que humanos e quando você está combatendo um inimigo que trata como monstro, então contra ele vale tudo”, comenta.“Quando a pessoa tem um forte poder de influenciar a sociedade e ela o usa para cometer discriminação, ela legitima outras pessoas a cometerem a discriminação desta forma, e isso gera um ciclo na sociedade”, explica Amanda. Por esse motivo, a advogada ressalta a importância de diálogos com servidores, pessoas com poder de decisão, além de cursos e capacitação. “Para que estes busquem melhorar mais e mais esse atendimento à população”, argumenta.A jornalista questionou se há impacto da religião no aumento dos dados de violência. Entretanto, de acordo com Amanda, a questão não é da religião em si, e sim do uso que grupos fundamentalistas fazem dela para atacar a comunidade. A advogada cita uma pesquisa do Datafolha, do ano anterior, que destaca que mais de 70% dos evangélicos não declaram ter “problemas” contra a população LGBTQIA+. Logo, são determinados grupos que influenciam em propagar o ódio, segundo Amanda.Todavia, a advogada explica que esses dados também têm evoluído em decorrência da criação de grupos especializados para o combate deste crime, enquadrado na Lei do Racismo, criada em 1989. Em 2019, a homofobia foi criminalizada após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e a lei passou a contemplar atos de “discriminação por orientação sexual e identidade de gênero”.AtendimentoO local de atenção às vítimas citado por Amanda durante o programa é Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), da Polícia Civil de Goiás (PC-GO), inaugurado em 2021. Assim, essas vítimas se sentem mais amparadas para denunciar. “Os dados são muito importantes, porque a partir deles conseguimos cobrar políticas públicas assertivas”, afirma. Amanda explica que esta unidade é localizada na escola superior da Polícia Civil, logo, todos os servidores que passarem pelo curso de formação terão de aprender as demandas da população. (Manoella Bittencourt é estagiária do GJC, sob a supervisão do editor Rodrigo Hirose, em convênio com a PUC-Goiás)