O Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) vai começar a realizar cirurgias cardiopediátricas. O contrato de gestão da unidade vence em julho, e, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), um novo entrará em vigor na sequência, já com este serviço definido. Nesta quinta-feira (13), o POPULAR publicou matéria com queixas de pais quanto à assistência para os casos.De acordo com a pasta, estão sendo realizadas reuniões com a gestão da unidade para alinhar a implantação do serviço que também contempla adultos. As vagas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que foram abertas no Hugol em abril darão suporte às internações. Atualmente, as crianças que recebem atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são operadas no Hospital da Criança que é privado e conveniado.Na última quarta-feira (12), representantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCC), Sociedade Goiana de Pediatria (SGP) e pais de crianças com cardiopatias congênitas se reuniram com a primeira-dama do Estado, Gracinha Caiado, e com o presidente do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo), Silvio Fernandes. Entre as demandas apresentadas pelo grupo estava a de acelerar a criação do Instituto de Cardiopediatria do Estado no Hugol. Na ocasião, o Ipasgo também anunciou a ampliação de credenciamento de hospitais para serviços cirúrgicos cardiológicos pediátricos de alta complexidade.Secretário do Departamento de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCC), o cardiologista pediátrico Wilson Luiz da Silveira explica que o Instituto é um projeto desenvolvido pelos profissionais que resolveria a demanda da rede pública. “Já vínhamos conversando com o secretário Ismael Alexandrino e tínhamos feito um projeto arrojado com um grupo completo de cardiopediatras, ecocardiografistas pediátricas, angiotomografia pediátrica, hemodinamicamicistas pediátricos e cirurgiões cardiovasculares pediátricos para funcionar no Hugol”, diz.O cardiologista afirma que, o projeto pode solucionar problemas que englobam: ambulatório clínico, diagnóstico especializado e tratamento cirúrgico, inclusive com acompanhamento na UTI com cardiologistas pediátricos. Responsável por 10% dos óbitos infantis em Goiás, de acordo com o Departamento de Informática do SUS (Data SUS), as cardiopatias envolvem vários tipos de malformações do coração. Algumas doenças são extremamente graves e, sem o tratamento adequado, podem matar em horas após o nascimento.Famílias e médicos reivindicam melhorias na rede privada e criação de uma rede pública de atendimento. O anúncio da SES é uma resposta às queixas. De acordo com o secretário da SBCC, mesmo com dedicação do sistema, acabam se formando filas no Hospital da Criança, que atende toda a demanda. “Pelo menos 15 crianças esperam pelas cirurgias hoje. Não conseguimos resolver todos os problemas porque faltam Unidades de Terapia Intensiva (UTI).”Drama“Já tive muitos pacientes que morreram na fila. Em abril perdemos um garoto de 13 anos que deveria ter sido operado com cirurgia eletiva. Ele já tinha sido operado duas vezes, trocou uma válvula mitral e fez plástica na outra. A válvula degenerou e a outra estava com insuficiência. A família me procurou, solicitei a cirurgia e estava aguardando autorização e a vaga para internar e operar”. O caso piorou. “Operei como ato heroico, já tinha tido cinco paradas cardíacas e eu sabia que naquelas condições as chances eram mínimas. Infelizmente, não sobreviveu”, lamenta.Apesar dos relatos, o Complexo Regulador de Goiânia, gerido pela Secretaria Municipal de Saúde, afirma que todas as cirurgias cardíacas pediátricas são encaminhadas para realização e que não há fila. Unidades fazem teste do coraçãozinhoObrigatório, por lei, desde 2014, o teste do coraçãozinho consiste na simples verificação da quantidade de oxigênio circulante na mão e no pé do bebê. O exame é realizado com oxímetro de pulso. Desta forma, é possível descobrir os casos mais graves antes da alta da maternidade. De acordo com a Responsável pelo departamento de Cardiologia Pediátrica da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa, cerca de 20% de portadores de cardiopatia congênita crítica deixam a maternidade sem o diagnóstico. “Se este teste não for realizado, a grande maioria destas crianças não consegue voltar ao hospital a tempo para tratamento”, finaliza a médica.Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam que, em Goiás, 1.110 crianças passaram pelos testes de janeiro a abril deste ano. O Ministério informa ainda que o monitoramento da realização deste exame é feito pelas gestões locais. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) afirmou que nos quatro primeiros meses deste ano nasceram 22.917 crianças em Goiás, número divergente dos que fizeram o teste, segundo dados do MS. A SES afirmou que o procedimento é realizado em todas as maternidades públicas do Estado. “Entre as unidades da SES-GO, por exemplo, estão o Hospital Materno-Infantil e a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes que realizam o teste em todas as crianças nascidas nos locais. Nenhuma recebe alta sem antes realizá-lo”, afirmou em nota.De acordo com a pasta, como é lei, as unidades que não cumprem podem ser penalizadas. “Além do registro da informação na caderneta da criança, não há instrumento para medir se o exame foi realizado ou não. Durante a primeira consulta do bebê deve-se verificar se a informação foi registrada. Diante da não realização, quando a unidade é de gestão municipal, a secretaria de saúde da cidade notifica a unidade para verificar o motivo do teste não estar sendo realizado. Quando a gestão é estadual, a secretaria de saúde do Estado também notifica a unidade e cobra a realização. Em caso de unidades privadas, isso também pode ser feito no mesmo nível de hierarquia”, complementa a nota.O Ministério da Saúde lançou, em 2017, o Plano Nacional de Assistência para Cardiopatia Congênita à Criança para integrar ações de acesso ao diagnóstico, tratamento e reabilitação. Desde então, órgão afirma que ampliou em 75,2% o orçamento anual destinado aos procedimentos de cardiopatia congênita infantil em todo o Brasil, que passou de R$ 52,2 milhões para R$ 91,5 milhões.Caminhada No próximo domingo (16), a Cardio Criança vai realizar a 1ª Caminhada do Coração. O evento está agendado para às 9 horas, no Parque Flamboyant, e também será feito em outras cidades do País. O pedido é que as pessoas compareçam, usando roupa preta, como uma forma de “luto” e exigência por mais atenção e investimento no diagnóstico e tratamento contra as cardiopatias.