A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia confirmou nesta terça-feira (28) que a saída de servidores com contratos temporários que se encerram no fim deste ano está atrapalhando o atendimento nos postos de saúde sobrecarregado com o aumento da demanda de cidadãos com sintomas de gripe, Covid-19 e dengue.A crise – que envolve outros fatores - atinge principalmente unidades de urgência e emergência, como os Cais e UPAs, onde pacientes relatam uma série de dificuldades, como falta de informação e orientação, espera de horas sem lugar adequado para se acomodar e ausência de equipamentos ou insumos para realização de exames e testes. O aumento do número de casos de pessoas com sintomas de síndrome gripal, muitas delas ocasionadas pelo vírus de influenza H3N2, ao mesmo tempo em que crescem os registros o de dengue e chikungunya, mais a entrada da variante ômicron do coronavírus, teve impacto direto nos postos de saúde, que nos últimos dias têm enfrentado problemas de superlotação.A SMS não divulga quantos contratos temporários venceram em dezembro, nem quais as funções dos servidores ou mesmo quantas vagas foram preenchidas com novos funcionários. Em nota, afirma apenas que as escalas médicas estão completas e que “dezenas de outros profissionais” estão sendo substituídos, “o que tem interferido também no tempo de atendimento”.“Desde a semana passada há um enorme esforço para repor os trabalhadores que estão tendo os contratos temporários encerrados e que, por lei, não podem ser prorrogados. É um momento desafiador para as equipes da saúde também”, afirmou a secretaria em nota. O POPULAR tentou entrevista com alguém da pasta para mais detalhes sobre estas substituições e como ela afetou a rotina nos postos, mas a assessoria de comunicação disse que não seria possível nesta terça-feira.Apesar de não falar em números, a SMS afirma que “nos próximos dias” a situação deve voltar “à normalidade” e que tem remanejado trabalhadores de outras áreas para reforçar as equipes nas unidades de urgência. Por fim, a pasta pede que “para desafogar um pouco as UPAs, Cais e Ciams”, a população busque atendimento nas unidades básicas de saúde quando não se tratar de casos graves.Para o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde/GO), o problema ocasionado pelo fim dos contratos temporários é uma “tragédia anunciada”, pois até o titular da SMS, Durval Pedroso, havia sido alertado previamente sobre isto. “Já havíamos alertado a Secretaria Municipal sobre a questão dos contratos, mas não tivemos nenhum retorno deles sobre uma possível renovação ou de outro processo seletivo. Já foi cobrado, mas não tomaram providências a tempo”, comentou Luzinéia Vieira dos Santos, vice-presidente do Sindsaúde/GO.Falta de informaçãoNos postos de saúde visitados pelo POPULAR nesta terça-feira (28), cidadãos reclamavam principalmente da demora no atendimento e da falta de informações e orientações sobre a espera de consulta e a realização de testes e exames.Na UPA Jardim Novo Mundo, a direção chegou a pedir que os servidores da recepção saíssem do local para que o encaminhamento fosse suspenso até que o interior da unidade - lotado - ficasse mais esvaziado. A ação foi presenciada pela reportagem no momento em que havia cerca de 20 pessoas na recepção. A maioria sem saber o motivo de não ter ninguém no local para atendê-los. “Eles saem e não falam nada, não deixam um aviso? A gente vai ficar na fila aqui em pé por quanto tempo?”, reclamou um cidadão.Nesta unidade, a reportagem encontrou também moradores de Senador Canedo, que reclamaram da lotação das unidades de saúde na cidade vizinha, e do Jardim Guanabara, onde um Cais está fechado para reformas. Todos chegaram pela manhã, por volta de 10 horas, e aguardaram mais de quatro horas até o primeiro atendimento.No Cais Campinas, no Setor dos Funcionários, a espera foi tanto no posto como na unidade pediátrica. Ali, alguns pacientes reclamaram de uma peregrinação entre postos da região Oeste/Noroeste porque ou não havia insumos para exames/testes ou não havia equipamento. Uma costureira de 55 anos reclamou que ficou quatro horas esperando consulta no Cais Cândida de Morais para descobrir que não tinham como fazer o hemograma, depois foi para o do Urias Magalhães, que estava com poucos médicos, até chegar no Cais Campinas. “Fizeram o teste pra Covid, mas não posso ligar pra saber se ficou pronto nem qual o resultado. Vou ter de voltar amanhã”, reclamou. Ela mora no Setor Mansões do Câmpus, a 13 quilômetros dali.Na maioria dos casos relatados à reportagem nas unidades de saúde visitadas, pacientes aguardavam de 2 a 8 dias em casa com sintomas de gripe ou Covid-19, geralmente febre e fraqueza, mas às vezes incluindo vômitos, até decidirem buscar atendimento em um Cais ou UPA mais próximo. Chegando lá, esperavam de 3 a 6 horas pelo primeiro atendimento, onde recebiam soro até a realização de um hemograma e um teste de Covid-19. Mais duas ou três horas até o resultado do exame. Já o teste não tinha um prazo e pessoas reclamavam que eram orientadas a ter de voltar no dia seguinte.O POPULAR esteve em centros de saúde para atendimentos que não fossem de urgência e emergência, e estavam todos vazios, apenas com pessoas em busca de vacina. Entretanto, nos Cais e UPAs visitados ninguém era orientado a buscar estas unidades, como fez a SMS por meio de nota à imprensa. Cidadãos relatam dificuldade em saber no caso dos centros quais atendem sem ser agendado.-Imagem (Image_1.2378553)-Imagem (Image_1.2378554)