O Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo) pagou pelo uso de salas de tratamento especializado quimioterápico que não eram necessárias, segundo as investigações da Operação Morfina. A reportagem do POPULAR teve acesso a 22 demonstrativos de materiais e medicamentos do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh), que é credenciado ao plano de saúde. A empresa é a principal responsável pela prestação de serviço de quimioterapia via Ipasgo.Segundo essa documentação, que abrange um período entre agosto de 2015 e fevereiro de 2018, foram cobradas taxas de R$ 63,92 para o uso destas salas. No entanto, os remédios usados nestes casos eram de via oral e subcutâneo, que o paciente faz uso na própria residência e não precisaria desta sala especializada. Procurado pela reportagem, o Ingoh reconheceu que, na época, recebia essas taxas pelo uso da sala, mas alegou que isso “nunca foi exclusivo” do instituto de oncologia. Segundo o Ingoh, o procedimento de aplicação era único e não especificava a via de administração do medicamento. “Esta taxa, igual a todos os prestadores, prevê a cobertura dos custos de armazenar, despesas com pessoal, limpeza, controle de qualidade e etc”, diz nota enviada pelo Ingoh. A reportagem do POPULAR também teve acesso a uma tabela com faturamentos de medicação controlada que compõe a bolsa quimioterápica relativa ao Ingoh. Nesta relação, o faturamento é realizado por frasco de cada remédio, enquanto o correto seria por miligramas, que seria o equivalente à quantidade exata utilizada com cada paciente. O Ingoh informou por nota que a tabela de medicamentos do plano de saúde é única e que o formato do pagamento por frasco ou miligrama pode passar por mudanças, dependendo da demanda e estabilidade do medicamento. Além disso, garantiu que a mesma regra é aplicada a todos os prestadores. “Até hoje, medicamentos como Eribulina e Dexrazoxano são pagos em frasco fechado. Portanto, não existe diferença por prestador”, diz nota enviada à reportagem. Titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap), o delegado Rhaniel Almeida, informou para a reportagem que a suposta irregularidade envolvendo o Ingoh não é alvo da primeira parte da Operação Morfina, deflagrada na última segunda, que investiga um esquema de fraude no sistema do Ipasgo. Ele também disse não se recordar deste tipo específico de problema ter sido identificado em auditoria do Ipasgo que embasa a investigação. ApuraçãoPor meio de nota, o Ipasgo informou que estas supostas irregularidades apontadas nas investigações estão sendo investigadas e devem ser esclarecidas no curso da Operação Morfina. Além disso, afirmou que auditorias estão sendo realizadas pelo próprio instituto e pela Controladoria Geral do Estado. “A nova gestão do Ipasgo reforça que os primeiros indícios de fraudes e desvios apareceram em levantamentos promovidos a partir de janeiro deste ano, que culminaram na operação policial, que desarticulou um esquema criminoso em operação no órgão desde o ano de 2011”, diz nota enviada pelo Ipasgo.