A defesa do empresário Maurício Borges Sampaio, de 63 anos, acusado de ser mandante do assassinato do jornalista Valério Luiz Oliveira, aos 49 anos, em julho de 2012, entrou com o quinto recurso na Justiça desde a substituição do advogado em 14 de março deste ano. É mais uma petição em cima da delação feita pelo comerciante Marcus Vinícius Pereira Xavier, de 37 anos, e mais uma que, se for aceita pela Justiça, pode adiar novamente o julgamento do caso, marcado desta vez para 2 de maio.Após ser preso em Portugal, Xavier voltou para o Brasil e em um novo depoimento entregou todo o esquema que culminou com o assassinato de Valério, apontando o empresário como mandante do crime. Além de Xavier e Sampaio, outras três pessoas respondem pelo crime: o sargento da PM Ademá Figueredo Aguiar Filho, acusado de ser o autor dos disparos, o sargento reformado da PM Djalma Gomes da Silva, e o empresário Urbano de Carvalho Malta.O advogado Luiz Carlos Silva Neto, que assumiu a defesa de Sampaio em março deste ano, alega que a oitiva do comerciante deveria ser para ele explicar o motivo da fuga e que não havia “qualquer previsão legal” para o questionário feito sobre a morte do jornalista.“No curso daquele depoimento, o corréu Marcus Vinícius realizou efetiva delação premiada oficiosa em face de todos os demais acusados, inclusive contra o paciente, respondeu de forma minudente a várias perguntas vinculadas diretamente às imputações feitas pela denúncia, e alargou de forma desmedida e sem qualquer previsão legal a ‘mera explicação da razão de sua fuga do país”, escreveu o advogado no recurso.Ainda na petição, a defesa de Sampaio argumenta que a audiência marcada após a prisão de Xavier também não tem “amparo legal” e que como a fuga se deu mais de um ano após a morte de Valério o motivo para a mesma poderia ser vários outros, mas nenhum “decorrente direta ou indiretamente do homicídio narrado nos autos”.No dia 22 de março, Silva Neto já havia entrado com um recurso pedindo para que fosse tirada a qualificadora da acusação de homicídio contra Sampaio alegando que ela se baseia exclusivamente com base neste depoimento de Xavier. Entretanto, a Justiça estadual arquivou o pedido dizendo que a questão já foi debatida. Uma liminar envolvendo o mesmo argumento já foi negado também no Superior Tribunal de Justiça (STJ) nesta semana.Em outro recurso, protocolado no começo de abril, Silva Neto afirma que o juiz Lourival Machado da Costa, responsável pelo júri do caso, é amigo do pai de Xavier e teria favorecido o réu em suas decisões. Costa já respondeu a estas afirmações, dizendo serem todas falsas.Neste quinto recurso, a defesa do empresário volta a atacar o juiz questionando as perguntas que ele fez para Xavier durante a delação. “O magistrado de 1º grau, ao invés de obstar desde logo o interrogatório oficioso pela falta de participação das demais defesas, que não poderiam fazer reperguntas, instigou a consecução daquele interrogatório de forma totalmente parcial porque aconselhou diretamente uma das partes do processo (o acusado Marcus) a confessar o crime e a delatar terceiros porque o Magistrado possuía e possui interesse no julgamento do processo em favor da tese da acusação”, afirmou.Leia também:- Juiz nega suspeição no Caso Valério Luiz e segue no júri- Novos advogados de Maurício Sampaio dizem que processo tem ilegalidades e buscarão anulação"Tentativa de protelar júri"Filho da vítima e assistente de acusação no processo, o advogado Valério Luiz Filho diz que a nova defesa de Sampaio tem abusado do direito de defesa ao impetrar uma série de habeas corpus (HC) em cima de matérias que já foram decididas pela Justiça e que já tiveram o trânsito em julgado e que faz isso para tentar adiar novamente o julgamento. O júri foi remarcado três vezes já. Além disso, ele afirma que o uso de HCs é estratégico porque não permite a fala da assistência de acusação.Valério Filho também argumenta que o depoimento de Xavier está no processo há 7 anos e que não é a única prova que aponta Sampaio como mandante, mas mais uma que corrobora uma série de outras coletadas durante a investigação e a tramitação do processo até o momento.“Não é um depoimento que foi tomado ontem e que pegou eles de surpresa. Está lá há 7 anos. Não existe nenhuma ilegalidade e foi submetido a um amplo contraditório. Se o Marcus queria contar porque fugiu, era direito dele. Se não fosse permitido isso seria um cerceamento de defesa”, comentou o advogado.Valério diz que está confiante que os recursos não irão vingar e que o júri irá ocorrer no dia marcado, sem nenhuma prova retirada do processo. “É só mais uma tentativa de protelar o julgamento e de retirar dos autos uma prova muito decisiva contra eles.”Ele cita o caso, por exemplo, dos telefones que teriam sido habilitados por Urbano e usados no local e na hora do crime, situações comentadas por Marcus, mas também confirmadas por quebras de sigilo e outros dados levantados pela Polícia Civil. “O depoimento é uma peça a mais que acaba confirmando outras. Claro que a palavra de um corréu tem uma força muito grande.”