A seca grave avança e afeta ao menos metade de Goiás. É o que deve revelar o novo boletim da Agência Nacional de Águas (ANA) que acompanha o andamento da estiagem no Brasil. Uma análise visual do diagnóstico indica no mínimo 50% do Estado no parâmetro ruim. No relatório referente a junho, divulgado no mês passado, 40,54% do território goiano estavam na condição de seca grave.Por todo o Estado, há relatos de rios secando. Os muitos dias sem chuva impactam o abastecimento público, a produção agropecuária e são um combustível para as queimadas.O aumento da gravidade da aridez verificado no mapa preliminar do Monitor de Secas (veja quadro), que ainda será divulgado, se traduz em problemas como rios com menor volume d’água na pior seca em 111 anos no Brasil. “A gente tem visto que está muito baixo o nível da água”, afirma o prefeito de Rialma, Fred Vidigal (PTB), sobre o Rio das Almas. Na região, diz ele, a reclamação frequente entre os pecuaristas é que os pastos estão secos e o gado está emagrecendo enquanto isto.Na capital, o Rio Meia Ponte registrou na última terça-feira (17) a vazão média de sete dias de 3.681 litros por segundo (l/s). O patamar abaixo de 4.000 l/s faz o manancial avançar para o nível crítico 2 conforme a deliberação nº 15 de 2020 do Comitê da Bacia. A mudança tem entre as principais consequências a redução em 25% das outorgas. Desta forma, produtores terão menos água para irrigação e outros usos. A dessedentação de animais e o abastecimento público não são afetados.Outra consequência do nível crítico 2 é a manutenção da captação da Saneago para abastecimento público em 2.000 l/s. Nesta condição, nesta quarta-feira (18), por exemplo, o Meia Ponte ficaria com apenas 1.731 l/s dos 3.731 l/s apurados às 17h. A norma prevê que o rio chegue a ficar com apenas 1.000 l/s, de acordo com a diminuição na água que passa pelo ponto de medição. Nesta quarta-feira foram completados 65 dias sem chuva em Goiânia.Ainda deve haver com o nível crítico 2 a apresentação de um Plano de Racionamento de uso da água no Meia Ponte aos órgãos reguladores.O Painel de Usos Consuntivos de Água no Brasil, disponível no site da ANA, revela que 68,31% do consumo estimado de água em Goiás são de irrigação. O número indica o quanto o setor é afetado pela crise.Presidente do Sindicato Rural de Alvorada do Norte, Nilson Pereira da Rocha conta que por lá a seca tem afetado severamente as pastagens. Produtores recorrem à complementação animal, mesmo sendo uma opção que encarece os custos de alimentação do gado. “A nossa região está carente, as fábricas não estão dando conta de atender à demanda.”Em Cristalina, maior polo de irrigação do País, os produtores recorrem às cerca de 300 pequenas barragens para manter alguns produtos. “Hoje só estamos irrigando algumas culturas fornecidas para indústrias ou culturas da época”, explica o presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica. Para ele, a situação é contornada com “certa tranquilidade”.Chuva“A previsão é que as chuvas sejam regularizadas na segunda quinzena de outubro”, explica o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás, André Amorim.Os modelos meteorológicos indicam uma possibilidade de chuva em Jataí para o próximo dia 29. Para a previsão dos modestos 7 milímetros (mm) depende de uma massa de ar frio que virá do Sul chegar com força suficiente para romper a massa de ar seco que prevalece sobre o Estado atualmente.Enquanto a chuva não chega, o tempo seco avança. O site do Instituto Nacional de Meteorologia mantinha alerta de perigo para esta quarta-feira em todo o Estado a respeito da umidade relativa do ar. A mínima do indicador ficou em 19% no fim da tarde, enquanto os termômetros marcavam 32,2°C. Para esta quinta-feira (19), a umidade pode baixar ainda mais, para 15%, e a temperatura máxima chegar aos 35°C.Os reservatórios das usinas hidrelétricas também estão sendo fortemente impactados pela seca severa. O reservatório de Itumbiara, por exemplo, está com apenas 12,79% do volume útil, conforme consulta feita nesta quarta-feira no site do Operador Nacional do Sistema com dados da última terça-feira (17). Conforme o ONS, o reservatório de Goiás mais abastecido é o de Serra da Mesa, onde havia 30,34% de todo o volume útil disponível no local. Incêndios podem bater novo recorde neste anoO Corpo de Bombeiros Militar (CBM) atendeu no ano passado 10.311 ocorrências de fogo, o maior número na história da corporação. Para este ano, afirma o coordenador estadual da Operação Cerrado Vivo 2021, o tenente-coronel Douglas Castilho de Queiroz, a previsão é de aumento. O motivo é o alerta sobre a gravidade da seca no País.Para tentar reduzir as ocorrências de queimadas, os bombeiros contam com uma sala de situação instalada dentro da Defesa Civil. No local, são produzidos diariamente seis boletins de alerta para os locais mais preocupantes. A ferramenta orienta o trabalho dos profissionais. Além disso, satélites monitoram todo o Estado em busca de possíveis focos de incêndio.Dentre as principais preocupações do CBM estão os 14 parques estaduais e os dois nacionais: Chapada dos Veadeiros e das Emas. Nestes locais, os gestores da Semad (unidades estaduais) e do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) também acompanham a seca e as possíveis queimadas.O tenente-coronel afirma que o alerta da meteorologia motivou ainda mais cuidado. “Já estamos com cerca de 5,2 mil focos e ainda estamos em meados de agosto, temos mais uns 13 dias pela frente, setembro e outubro”. A expectativa do coordenador da operação é que a situação se acalme com a regularização do período chuvoso.Goiás já contabiliza, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 23% a mais de queimadas entre 1º de janeiro e a última terça-feira (17) na comparação com o mesmo período de 2020. Até agora são 2.015 registros.Em todo o País há 9% menos registros de queimadas, conforme os dados do Inpe. Ainda assim, são 61.961 focos identificados. O bioma mais afetado é o amazônico. Lá são 25.601 notificações mesmo com queda de 18% no período. Em segundo lugar vem o Cerrado: 22.887. O aumento é de 21%.O aumento do fogo no Centro-Oeste é uma das consequências para a região, conforme o último relatório do IPCC.-Imagem (1.2304690)