Os carnavais mais memoráveis de Goiânia nas décadas de 1940 a 1970 poderão dar lugar aos cultos evangélicos nos próximos anos. A sede do Jóquei Clube de Goiás, o mais antigo da capital, localizada no Centro, entre a Avenida Anhanguera e Rua 3, está à venda. O processo foi iniciado em outubro, com a aprovação, em assembleia dos sócios, da proposta da atual diretoria do clube, encabeçada pelo advogado e ex-deputado Manoel de Oliveira Mota, pela venda da sede principal para o pagamento das dívidas, que somam R$ 40 milhões, e reconstrução de outro clube, no terreno do Hipódromo da Lagoinha, no Setor Cidade Jardim.A expectativa da diretoria é que a venda da histórica sede no Setor Central seja finalizada ainda neste ano. A reportagem do POPULAR apurou que a negociação mais avançada é com a Igreja Universal, que teria interesse na construção de um templo no local. A assessoria de imprensa da Igreja, procurada nesta quarta-feira (29) no final da tarde, não respondeu sobre o interesse na aquisição do imóvel em Goiânia até o fechamento desta edição. O presidente do Jóquei, Manoel Mota, afirma que a Igreja seria apenas um dos interessados e que também negocia com empresários do ramo atacadista.Valor estimadoAs avaliações feitas por dois especialistas no mercado imobiliário de Goiânia verificaram um preço de venda entre R$ 1.700 e R$ 1.800 por metro quadrado. Como o terreno é de 21,9 mil metros quadrados, o valor chegaria a cerca de R$ 39,4 milhões. Isso porque o preço de venda não deve incluir a área construída, já que a ideia da diretoria é que se consiga vender o terreno para que o comprador possa utilizar como quiser, até mesmo demolindo a sede, cujo projeto data de 1962 e é assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, segundo brasileiro a ganhar o maior prêmio mundial de arquitetura, o Pritzker, em 2006, depois apenas de Oscar Niemeyer, que venceu em 1988.“Chegou numa situação impossível. Estamos há dez meses na diretoria e a dívida que antes era de R$ 7 milhões, está em R$ 40 milhões”, diz Mota. Segundo o presidente, o começo da atual diretoria, que tomou posse em janeiro último, tinha a intenção de manter e reativar a sede do Jóquei Clube. “Fizemos uma auditoria para verificar as possibilidades e a única solução era vender essa área do Centro para começar do zero. Não tem outra alternativa”, explica. O presidente reforça que não há nenhuma cláusula ou legislação que dê à sede o patamar de patrimônio histórico e, logo, é possível que ele venha a ser demolido.“Precisaríamos de pelo menos R$ 10 milhões para reativar a sede, fazer a reforma, e isso sem pagar a dívida. É aquela coisa, vão os anéis e ficam os dedos, não tem mais jeito de manter”, afirma Mota. De acordo com o que o POPULAR apurou junto a sócios remidos do Jóquei, os chamados joqueanos, a primeira oferta da diretoria foi de vender a área para a Prefeitura de Goiânia, que transformaria o lugar em um clube social. A proposta ouvida foi de troca da dívida que o clube tem de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) pelo local, já que este se refere à maior parte da dívida, mas a diretoria não aceitou o acordo.Sem tombamentoO secretário municipal de Cultura, Kléber Adorno, afirma não ter conhecimento sobre essa negociação e que a única consulta feita pelo Jóquei Clube na Prefeitura, até então, foi para o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico. A intenção é verificar o que pode e o que não pode ser construído ou realizado naquele terreno. A mesma consulta também teria sido feita no órgão estadual e federal, que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O que se sabe é que o prédio da sede não tem tombamento, mas o traçado do Centro da capital sim e, por isso, qualquer projeto no local deve ser avaliado pelos órgãos competentes.Além disso, o Colégio Estadual José Carlos de Almeida, hoje desativado e que deve abrigar o Conselho Estadual de Educação, localizado em frente ao Jóquei, na Rua 3, possui tombamento histórico pelo Estado e, por isso, também é necessário verificar as possibilidades de uso com esse viés. Os joqueanos acreditam que falta apenas essas informações para que o negócio possa avançar. No entanto, eles reiteram que ainda não há qualquer acordo para a venda da sede. “Ela está à venda, mas não está vendida ainda”, disse um membro da diretoria que prefere não se identificar.Agora, a intenção da diretoria é mesmo vender o lote no mercado e aproveitar que o local pode ser completamente utilizado. A pressa se dá para que se possa negociar as dívidas do Jóquei, especialmente com a Prefeitura, já que o programa de refinanciamento municipal vai apenas até o final deste ano. A ideia é que a negociação possa levar a uma sobra no valor da venda do imóvel para além das dívidas e poder garantir a construção de uma nova sede.Novo espaço no HipódromoA intenção da diretoria e dos associados do Jóquei Clube de Goiás é aproveitar a área do Hipódromo da Lagoinha, no Setor Cidade Jardim, para a construção de uma nova sede do clube, que seria menor e mais moderna. “É uma área grande lá, em grande parte não é usada, então faríamos um clube social menor, junto ao Hipódromo”, explica o presidente Manoel Mota. Há joqueanos que propõem que seja feita uma réplica da sede atual, em tamanho menor, de forma que se trate de uma homenagem ao prédio que deve ser demolido. O projeto da sede, realizado em 1962 pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, é hoje apenas história. Com o tempo, o idealizado pelo profissional deu lugar à funcionalidade e necessidade de fazer dinheiro para o Clube. A maior diferença do que foi planejado com a situação atual é o fim da mata que ficava em frente às quadras esportivas, que deu lugar a um estacionamento terceirizado que rende R$ 30 mil mensais ao Jóquei. Pelo projeto, Rocha teve a intenção de deixar os extremos da mata com as águas, representadas pelas piscinas. Estes locais ficavam opostos, sendo as piscinas mais próximas ao Teatro Goiânia e acima da entrada principal. No meio, o concreto da sede, com salas de jogos, bar e restaurante, fazia a transição para as quadras e a mata, que mantinha uma das nascentes do Córrego dos Buritis, hoje soterrada. -Imagem (1.1406167)-Imagem (1.1406166)