As novas variáveis da pandemia de Covid-19 não permitem que a análise da curva epidemiológica desta segunda onda seja semelhante ao que se viu na primeira onda, em 2020. Para o biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) José Alexandre Felizola Diniz Filho, o início do processo de vacinação e a existência de novas variantes do coronavírus no Estado fazem com que seja impossível prever quando teremos o pico ou o fim da situação atual da pandemia. “Estávamos no escuro, aprendemos com a primeira onda e acertamos os modelos, mas agora os parâmetros já são outros”, explica.De acordo com Diniz Filho, é necessário esperar pelo menos mais algumas semanas para entender qual o estágio da curva epidemiológica. “O que estamos vendo é que está acelerada, isso, sem dúvida. Temos casos e óbitos explodindo, assim como internações.” Ele ressalta que a curva de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) começou a crescer exponencialmente nesta semana. “Até semana passada o crescimento era linear, agora já é bem mais rápido”, diz. O professor ressalta que já temos média de 650 pessoas nas UTIs. No pico da primeira onda, em agosto, eram 800 pacientes.“Ainda não dá para saber se vai ser semelhante à primeira onda, se vai ser maior ou menor, justamente porque temos outros parâmetros”, avalia Diniz Filho. Um deles é essencial para o cálculo da taxa de infecção da Covid-19, o chamado R. Para a primeira onda os cientistas não calculavam a possibilidade de reinfecção, pois a mesma era mínima ou inexistente. No entanto, já há indícios de que entre as variantes do vírus há ao menos uma com alto potencial de reinfecção. “Isso muda todo o cálculo do R”, garante.Por outro lado, com o início da vacinação em Goiás para os profissionais de saúde e pessoas dentro da faixa de risco, especialmente idosos acima de 80 anos, a tendência é que isso diminua a taxa de mortalidade pela Covid-19, ou seja, o número de óbitos deve ser menor com o avanço da segunda onda a partir de momento que essa faixa da população fique imunizada. Na explicação de Diniz Filho, nessa situação, poderemos ter uma curva epidemiológica com um maior número de casos na segunda onda com relação à primeira, mas um número de óbitos menor. “Mas poderemos precisar de mais UTIs, por ter mais casos. Ainda não dá para saber, temos de esperar mais”, diz.MomentoO professor da UFG reforça, no entanto, que na situação atual é possível pensar que a curva desta segunda onda poderá chegar aos números do pico visto na primeira onda até mais rápido do que o ocorrido em 2020. Pelos números que temos hoje, a situação é semelhante com o que se tinha em junho do ano passado, enquanto que o pico desta primeira onda se deu em agosto. No entanto, naquele momento havia medidas de contenção da doença, com restrições da mobilidade das pessoas nas cidades, o que ainda não ocorre atualmente.No cálculo feito pela a UFG, a taxa de infecção da Covid-19 está pouco acima de 1, o que demonstra aceleração da doença. Em cidades como Goiânia e Aparecida de Goiânia, o número é ainda maior. Os números foram disponibilizados para a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). “É certo que a pandemia está em aceleração e pode ser que chegaremos àqueles números de casos e mortes diárias em menos tempo”, diz o professor, com relação ao período entre os números atuais e o pico da primeira onda. Para se ter uma ideia, em junho de 2020 foram registrados 590 óbitos por Covid-19 em Goiás. Em janeiro deste ano, a SES-GO já verificou 660 mortes pela doença. Apenas até as 14 horas dos 17 primeiros dias deste mês, foram registrados 330 óbitos, uma média de 19,41 por dia. O número é semelhante ao que foi visto em junho de 2020, com 19,66 registros diários. Já em janeiro, até então, a média diária de óbitos pela doença está em 21,29.Válido ressaltar o atraso nas notificações, o que faz com que se espere um aumento nos números. Como exemplo, o Estado divulgou a chegada a 7 mil óbitos em 11 de janeiro deste ano, mas, atualmente, com dados mais consolidados, é possível verificar que já tínhamos esse número em 21 de dezembro do ano passado. Por outro lado, o índice de casos de pacientes infectados por dia já é maior neste ano, com taxa de 1.030,3, visto que no ano passado se teve uma média de 889,3 casos diários.-Imagem (1.2199751)