A rede pública de Saúde de Goiás não entrou em colapso na primeira onda da pandemia de coronavírus em 2020 por conta da grande abertura de novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria. No entanto, essa quantidade alta de novas vagas para internação de pacientes com covid-19 pode não se repetir na segunda onda em 2021. É o que técnicos do governo de Goiás, representantes da rede privada e do Ministério Público afirmaram em reunião por videoconferência na tarde desta quarta-feira (20).Subsecretária de Saúde de Goiás, Luciana Vieira, foi enfática em sua fala ao dizer que a capacidade de abrir novos leitos mudou. “A vacina não vai ter impacto suficiente. Todos nós sabemos melhor do que ninguém que a capacidade do sistema de saúde é restrita. Limitada não só pelos leitos, mas pelos equipamentos, profissionais… O Estado saiu de 300 leitos de UTI para 600 leitos (na primeira onda da pandemia). A gente não consegue dobrar de novo”, afirmou a gestora durante o encontro.A discussão foi provocada pelo promotor de justiça, Marcus Antônio Ferreira Alves, que demonstrou preocupação com a ocupação de leitos na rede pública estadual em 82%, registrada no dia da reunião. “Nós estamos chegando no pico da taxa de ocupação estadual. Zona perigosíssima de crise”, afirmou.O promotor lembrou que, de acordo com a equipe técnica da rede pública estadual, uma ocupação de leitos acima de 80% já significa trabalhar com capacidade máxima. A ocupação dos leitos de UTI da rede pública estadual às 18 horas desta quinta-feira (21) era de 86%.No pico da pandemia em 2020, a rede estadual pública de Goiás chegou a ter 318 leitos de UTI. O máximo de ocupação foi 94%. Atualmente são 243 leitos de UTI, com capacidade de ativar novos até 281Ainda durante a reunião de quarta, o promotor Marcus Antônio também citou a Região do Entorno do Distrito Federal (DF) e o fechamento do Hospital de Campanha de Águas Lindas, que possuía 200 leitos, sendo 40 de UTI, e foi fechado em outubro por decisão do governo Federal.Um dos fatores que impediriam a abertura do mesmo quantitativo de leitos da primeira onda da pandemia foi a desabilitação de leitos pelo governo federal quando a pandemia diminuiu, segundo fala da gerente de Atenção Terciária, Danielle Jacques. Ter leito de UTI Covid-19 habilitado pelo Ministério da Saúde significa o recebimento de recursos financeiros federais para custear a internação naquela vaga. “Não tem como expandir e não ter repasse financeiro do Ministério da Saúde”, declarou a gerente durante a reunião.Reportagem do POPULAR da edição desta quarta mostrou que cinco hospitais da rede privada em Goiânia tiveram as UTIs ocupadas em 100% nesta semana. Representante dos hospitais particulares de alta complexidade, Haikal Helou, também falou sobre a impossibilidade de abrir novos leitos na rede privada, nesta mesma reunião.“É impossível abrir os leitos na mesma proporção que se demanda. Manaus não é uma exceção, pode virar uma regra. Ainda dá tempo de intervir”, afirmou Helou. Ele explicou que os hospitais privados já estão cheios de pacientes com outras doenças, sem ser Covid-19, como doentes crônicos, com câncer e problemas cardíacos.Superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim sugeriu que, diante da situação grave exposta na reunião, fosse criado um grupo para ver outras estratégias para diminuir a disseminação do vírus. Ela chegou a citar que as escolas são um ambiente mais controlável, mas que existem outras atividades que não são controláveis e que o risco é maior.Aumento de vagasA Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), informou que por enquanto não são previstos novos decretos para aumentar o distanciamento social e diminuir a disseminação do vírus. “O Estado reforça a necessidade de a população manter as medidas de proteção, como uso de máscara facial e higienização das mãos com água e sabão, além do uso de álcool em gel e o distanciamento social, evitando aglomerações”, diz trecho de nota da secretaria.Ainda em resposta para a reportagem, a SES-GO disse que a estratégia para suportar um aumento de demanda por internações no Entorno do DF é a abertura de mais leitos no Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia.Já sobre o aumento de vagas de UTI Covid-19 no geral, a SES-GO informou que prevê aumento de leitos no HCamp de Goiânia e, principalmente, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG). “Se for necessário, a rede privada pode ser utilizada, mas ainda não é o momento”, diz trecho da resposta da secretaria.A reportagem solicitou quais eram os pedidos de habilitação de leitos ao Ministério da Saúde. A SES-GO informou que pediu o levantamento desses dados à área técnica.A secretaria garantiu ainda que apenas os leitos de Águas Lindas foram desmobilizados, por conta da decisão do governo federal, mas que em outros casos, como do Hospital de Urgências de Anápolis, houve apenas um remanejamento do tipo de paciente destinado ao leito. SMS planeja repetir quantidade de vagasCom quase um ano de pandemia de coronavírus, a experiência acumulada até agora está sendo usada por gestores da Saúde em Goiás para planejar a abertura de novos leitos. “Estamos projetando leitos suficientes para atender como se fosse o máximo de atendimento que fizemos no ano passado”, ilustra o técnico da Diretoria de Políticas Públicas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Sérgio Nakamura.Os números de internação no município começaram a saltar entre os últimos dias de dezembro e início de janeiro, segundo Nakamura. “Teve um aumento muito rápido de internação de UTI que nos assustou, porém na última semana deu uma estabilizada”, explica, mas sem descartar outro aumento. Nakamura conta que na virada do ano, o Hospital Célia Câmara passou de 40 leitos de UTI para 50, e agora já está com 70 leitos. “Em paralelo retomou a contratação de leitos privados”Durante o pico da pandemia no ano passado, a rede municipal de saúde teve o máximo de 177 pacientes com Covid-19 em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Assim como na rede estadual, a abertura gradual e constante de novos leitos foi fundamental para não ter colapso no sistema de saúde. Para se ter uma ideia do avanço das internações no ano passado. Em 24 de junho havia 74 pessoas internadas na rede municipal de Goiânia. Cinco dias depois já eram 112. No mesmo período foram abertos 25 novos leitos, cinco por dia. Nakamura explica que além da abertura de vagas, é importante ter leitos capacitados para pacientes Covid-19 com problemas específicos, como grávidas e pacientes com câncer. Ele revela que mesmo depois do pico da pandemia, há crises pontuais quando há aumento de demanda. Normalmente estes pacientes iam sempre para o Hospital das Clínicas, mas segundo Nakamura, agora também poderão ir em alguns casos para a Santa Casa e o Célia Câmara.