Dos 14 pacientes com coronavírus que chegaram de Manaus a Goiânia nesta segunda-feira (18), seis estavam com estado de saúde gravíssimo e foram internados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG). Estes pacientes saíram da capital do Amazonas com quadro considerado moderado. O Estado do Norte do País vive um colapso do Sistema de Saúde e sofre com a falta de cilindros de oxigênio. Um voo com outros 18 pacientes estava previsto para chegar na noite desta segunda-feira (18).“Estou com o coração apertado. Ver eles descerem com aquela mochila, aquela coisa, é impressionante”, comentou a gerente de Atenção à Saúde do HC-UFG, a pneumologista Maria Conceição de Castro Antonelli Monteiro de Queiroz, logo depois que todos os pacientes deram entrada no novo prédio do hospital, no Setor Universitário. A mochila a que ela se refere são os poucos pertences que cada paciente trouxe de Manaus.Todos os 14 pacientes, que chegaram de ambulância no hospital, foram levados inicialmente para a UTI. O objetivo foi fazer uma avaliação mais detalhada, sobre a respiração, pressão arterial e outros fatores de saúde.O superintendente do HC-UFG, José Garcia Neto, explicou que seis pacientes apresentaram uma maior instabilidade respiratória. Por isso, precisaram continuar na UTI. “Alguns estão precisando de até 15 litros de oxigênio por minuto, o que é uma quantidade muito grande”, avaliou. A pneumologista relatou que os seis pacientes estavam com o estado de saúde seríssimo e teriam descompensado já dentro das ambulâncias.Dos 14 pacientes, 8 são do sexo masculino e 6 são do sexo feminino. Eles têm entre 27 e 61 anos de idade. Além dos hospitalizados, o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) transportou dois médicos e quatro enfermeiros para assistir aos pacientes durante a transferência. A aeronave foi equipada com 49 cilindros de oxigênio, que totalizam 638,4 litros de oxigênio. Esses cilindros foram reabastecidos com oxigênio na capital de Goiás.A aeronave pousou no antigo terminal do Aeroporto Santa Genoveva, às 17h45. O cenário na pista do avião era digno de um filme de ficção científica. Dezenas de profissionais de saúde das ambulâncias estavam vestidos com aparato completo de proteção: máscaras, luvas, viseiras ou óculos e macacões das cores branca e azul. Assim que o avião pousou, um dos profissionais de saúde que desceu da aeronave, se curvou em sinal de respeito aos profissionais das ambulâncias, que aplaudiram.OrdemOs dois primeiros pacientes que desembarcaram foram um homem e uma mulher. Eles precisaram de ajuda para descer as escadas da aeronave, em passos lentos, até a maca, em que foram deitados, imobilizados e levados para a ambulância. A ordem de desembarque dos pacientes do avião foi de acordo com o grau de comprometimento da saúde, sendo os mais graves os primeiros.Os pacientes de Manaus foram recepcionados por 17 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e seis viaturas do Corpo de Bombeiros. A força-tarefa responsável pelas transferências de Manaus chegou a selecionar 18 pessoas internadas para vir para Goiânia, mas quatro não puderam embarcar porque seus estados de saúde apresentaram piora.Os pacientes selecionados para a transferência aérea estavam internados em três unidades de Manaus: o Hospital e Pronto Socorro (HPS) João Lúcio Pereira Machado, os Serviços de Pronto Atendimento (SPAs) São Raimundo e Alvorada.Uma equipe de 81 profissionais de saúde foi selecionada para tratar exclusivamente dos pacientes de Manaus. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) recomendou que eles fiquem em ala isolada para evitar contágio da nova variante da Covid-19, identificada no Amazonas.Destes 81 profissionais, há vários psicólogos, segundo José Garcia. “Os psicólogos estão habilitados a tratar de uma maneira possível, todos os problemas psicológicos que podem advir desta viagem e desta tragédia e da dificuldade que Manaus está passando”, garantiu o superintendente. Os pacientes não vieram acompanhados e terão contato com seus familiares por meio de videochamadas. Grupo será separado entre o HC e o HMAPAlém dos 14 pacientes que chegaram de Manaus no fim da tarde desta segunda-feira (18), outros 18 estavam a caminho de Goiânia, vindos da capital amazonense, até o fechamento desta reportagem. A previsão era que o voo chegasse entre 23 horas e meia noite. A programação da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) é dividir esta nova leva de pacientes em dois grupos, sendo 6 com internação no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) e 12 no Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP).A SES-GO chegou a cogitar inicialmente, a internação de todos os pacientes de Manaus no HC-UFG, que tem potencial de abrir até 150 novos leitos de enfermaria, segundo o superintendente do hospital, José Garcia Neto. O governador Ronaldo Caiado (DEM), anunciou que Goiás pode receber até 120 pacientes de Manaus. No entanto, como este aumento de vagas dependeria da necessidade de contratação de novos profissionais de saúde, optou-se por enviar parte dos hospitalizados para Aparecida. “Essa contratação (de profissionais), não é feita do dia para a noite. E os pacientes estão precisando. Então, a gente foi direcionando para onde já existia uma estrutura pronta para começar a funcionar” explicou o superintendente de Atenção Integral à Saúde, Sandro Rodrigues Batista. O HC-UFG tem atualmente 20 leitos de enfermaria com perfil Covid-19, exclusivas para os pacientes de Manaus. Segundo José Garcia Neto, há previsão de contratação de novos profissionais, mas sem confirmação. “Vai depender do andamento em Manaus”, explica. O HC-UFG é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Ainda não foi definido como será o retorno destes pacientes de Manaus para o Amazonas. Um comitê de crise formado por integrantes do Ministério da Saúde, do Exército e do Ministério da Educação, já que estão sendo utilizados hospitais universitários, ainda define quando e quantos novos pacientes serão transferidos. “À medida que tiver essas novas demandas, a gente é avisado e programa essa operação aqui”, explica Sandro Rodrigues.Nova cepaDurante entrevista na noite de segunda, José Garcia defendeu que é preciso acalmar a população sobre a relação entre a chegada dos pacientes e a nova variante da Covid-19 identificada em Manaus. Ele garantiu que há controles rigorosos para que os profissionais de saúde não sejam infectados durante a assistência dos pacientes. “Talvez o transporte seja o momento mais crítico, de maior risco, e não exatamente o momento que já estão no hospital, em que a segurança é bem maior. Eles estão absolutamente isolados, não estão em contato com pacientes do Estado de Goiás. Eles estão em ala específica”, explicou o superintendente. Segundo o HC-UFG, os pacientes de Manaus serão acomodados em ambientes com todo o aparelhamento necessário para o tratamento contra o coronavírus, como ventiladores mecânicos, oxímetros, bombas de infusão e materiais para ventilação invasiva. As enfermarias comportam até dois leitos cada e possuem banheiros adaptados, além de sistema de segurança por câmera. Goiânia é a sexta capital a receber pacientes de Manaus, as outras são Teresina, São Luís, João Pessoa, Brasília e Natal. O objetivo do governo do Amazonas é transferir um total de 235 hospitalizados por Covid-19 com estado de saúde moderado. Ou seja, que necessitam de oxigênio, mas que inicialmente não precisam ficar em unidades de terapia intensiva (UTIs) neste momento.-Imagem (Image_1.2183353)