Subiu de 6 para 15 em pouco mais de um mês o número de casos em Goiás em investigação de pessoas que tiveram Covid-19 detectada por RT-PCR após 30 dias da primeira confirmação. São relatos em quatro cidades: Aparecida, Goiânia, Anápolis e Rio Verde. Conforme O POPULAR apurou, apesar de não estar descartada completamente, a possibilidade de reinfecção em algum destes pacientes é considerada bastante improvável. Goiás já conta com pelo menos 168 mil casos confirmados de infecção pelo coronavírus Sars-CoV-2.De todos os relatos analisados, pelo menos dois estariam chamando mais a atenção das autoridades sanitárias pelo intervalo grande de tempo entre a primeira e a segunda manifestação da doença. Um deles é em Anápolis, onde o paciente teve a Covid-19 detectada duas vezes em uma diferença de mais de 60 dias.Os primeiros casos que chegaram ao conhecimento da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) na primeira quinzena de agosto são de seis profissionais de saúde, sendo quatro de Aparecida de Goiânia e dois de Goiânia. Apenas um deles foi assintomático na primeira detecção e quatro deles chegaram a testar negativo entre os dois testes positivados. Todos passam bem, mas ainda não se teria chegado a nenhuma conclusão sobre o que ocorreu com eles.Havia uma expectativa de que o Comitê de Operações Emergenciais de enfrentamento ao coronavírus (COE) estadual elaborasse uma nota técnica sobre como proceder nestes casos, mas ficou definido após reunião com representantes de outros Estados e do Ministério da Saúde que caberia ao órgão federal desenhar o documento a ser apresentado, em conjunto com pastas estaduais da saúde.Tanto a SES-GO como as secretarias municipais de saúde de Goiânia e de Aparecida só vão se pronunciar quando o protocolo do Ministério da Saúde estiver pronto. A reportagem questionou sobre como está se dando o procedimento enquanto o documento não é concluído, mas não obteve resposta. Reuniões estavam previstas para esta semana para fechar um consenso e que haja um alinhamento sobre como deve ser o fluxo destes pacientes.Conforme O POPULAR apurou, as autoridades acreditam que os casos em investigação sejam de pacientes cujos resultados deram positivo por detectar RNA viral residual e não o vírus real, este último sendo passível de contágio. Já se sabe que o vírus pode permanecer no organismo das pessoas por mais de 30 dias. De acordo com representantes das pastas de saúde ouvidos pela reportagem, ainda não existe um consenso sobre como age o sistema imunológico a médio e longo prazo em relação ao coronavírus, mas estuda-se se esse RNA residual, pelo menos quando não se manifestam os sintomas, não signifique risco de contaminações ou de agravamento do quadro clínico.Em Minas Gerais, na semana passada, após o surgimento de casos suspeitos, houve uma mudança nos protocolos, que passaram a considerar possível reinfecção quando a segunda detecção ocorria num espaço de tempo superior a 90 dias. Há investigações ocorrendo também em São Paulo, Espírito Santo, Ceará e Tocantins, sendo que estes quatro Estados discutem junto com Goiás e o Ministério da Saúde o protocolo unificado.“Evento raro”Para o professor Fernando Bellíssimo-Rodrigues, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (SP) e um dos responsáveis por relatar um possível caso de recorrência de Covid-19 na cidade paulista com outros pesquisadores, a possibilidade de reinfecção é real e já foi documentada em várias partes do mundo, mas ainda é considerado um “evento raro”.Rodrigues destaca que é necessário analisar um conjunto de evidências clínicas, epidemiológicas e laboratoriais para diferenciar um caso de reinfecção de outro de exame residualmente positivo. “Nos casos que estamos investigando, temos procurado justamente avaliar a consistência das evidências indicadas acima. Ou seja, não basta ter o exame do PCR positivo duas vezes para se falar em reinfecção”, comentou.O pesquisador diz que nos casos de pacientes que apresentam sintomas pela segunda vez há risco de transmissão a outras pessoas e que em alguns casos estes pacientes tiveram manifestações clínicas mais intensas do que no primeiro episódio.Ainda segundo o professor da USP, o teste por RT-PCR pode persistir positivo por várias semanas após a infecção inicial. “Mas isso não significa que a pessoa está transmitindo o vírus, pois o exame detecta fragmentos do RNA viral. Um PCR positivo, não significa necessariamente que o vírus inteiro e vivo esteja no local onde o exame foi colhido.” Para ele, não há razão para ficar repetindo o exame se a pessoa infectada tiver boa evolução e resolução dos sintomas.