Preso desde o final de fevereiro junto com outros seis policiais militares pela morte de quatro pessoas em uma chácara em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, o soldado Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida, de 25 anos, foi liberado pela Justiça para fazer a prova para o cargo de cadete da Polícia Militar no próximo domingo (17). Ele será escoltado pela equipe do presídio militar onde se encontra, em Goiânia, até o local da prova, também na capital.O juiz Rodrigo Victor Foureaux Soares, da Vara Criminal de Cavalcante, afirma que a legislação impede apenas presos já condenados de serem selecionados em concursos da PM, o que não é o caso do soldado, que se encontra detido a espera do julgamento. Nesta semana, o processo entrou na fase de audiência de instrução e julgamento.O magistrado cita que a lei estadual 8.000 impede no quadro de acesso o militar que “estiver preso em flagrante ou preventivamente por crime que ofensa a honra e o pundonor policial-militar, enquanto perdurar a prisão”, porém não trata da impedimento para a participação em provas. Além disso, ainda segundo Rodrigo, a análise do mérito sobre a liberação para a prova é de esfera administrativa e não judicial, sendo que a corporação já autorizou.“Afigura-se desproporcional e desarrazoável impedir a participação do acusado, principalmente considerando a autorização pela própria Administração Militar, a quem cabe, inicialmente, avaliar se o militar poderá ou não participar do certame. De mais a mais, o futuro desse processo é incerto, o réu pode ser condenado ou absolvido e, em caso de absolvição, haverá sérios prejuízos para o réu, caso não possa participar do certame”, explicou o magistrado na sentença.Anteriormente, o mesmo juiz já havia autorizado outro réu, o sargento da PM Mivaldo José Toledo, de participar no dia 19 de junho do teste de avaliação profissional (TAP) para o processo de promoção por merecimento na carreira de praças da PM, conforme edital 014/2022 ao qual o policial se inscreveu.Entenda o casoÍtallo e Mivaldo respondem junto com o sargento Aguimar Prado de Morais, o cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos e os soldados Welborney Kristiano Lopes dos Santos, Luiz César Mascarenhas Rodrigues e Eustáquio Henrique do Nascimento por homicídio qualificado mediante “recurso que dificulte ou torne impossível a defesa” das vítimas.No dia 20 de janeiro, os policiais entraram na chácara de Ozanir Batista da Silva, o Jacaré, de 46 anos, e renderam ele e os amigos Saviano Souza Conceição, de 63, Alan Pereira Soares, de 28, e Antônio Fernandes da Cunha, o Chico Calunga, de 35. Depois da rendição, os quatro foram levados até a chácara vizinha de Saviano e, segundo a denúncia, executados.Na ocasião, os policiais militares teriam tentado modificar a cena do crime e sugerir que os quatro estavam com uma plantação de maconha no local e reagiram à abordagem atirando primeiro, mas a versão foi desmentida em inquérito da Polícia Civil e em denúncia do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).Os policiais militares efetuaram 58 tiros com quatro fuzis, duas pistolas e um revólver, sendo que pelo menos 10 atingiram as vítimas.O caso passou a ser investigado após uma série de protestos de moradores de Cavalcante e região, revoltados com as mortes dos quatro. Não havia contra as vítimas nenhuma acusação ou suspeita e a versão oficial foi fortemente contestada pela população. Diante das manifestações, tanto a Polícia Civil como o MP-GO levaram adiante a apuração do que ocorreu.Os réus negam a versão apresentada pela denúncia e mantém a deles, de que apenas reagiram aos disparos efetuados primeiro pelos quatro abordados na chácara.