O agricultor Nei Castelli, de 58 anos, teria se encontrado com o suposto pistoleiro, Pedro Henrique Martins Soares, de 25, no Balneário Recanto Verde, em Porto Nacional, no Tocantins, antes da morte dos advogados Marcus Aprigio Chaves, de 41 anos, e Frank Alessandro Carvalhaes de Assis, de 47. As informações foram dadas pelo empresário Cosme Lompa Tavares, dono do Balneário, em depoimento para a Polícia Civil no dia 10 de novembro. Ele havia sido preso no dia 9, suspeito de ser o intermediário entre o mandante e o executor do duplo homicídio.De acordo com o trecho do depoimento, que consta no mandado de prisão contra Castelli, o empresário teria apontado o agricultor como possível mandante do crime. Cosme e Castelli se conheceriam de pescarias. Em uma delas, o fazendeiro teria perguntado se o empresário conhecia alguém para “cobrar dívidas”. Cosme então teria citado Pedro Henrique e promovido um encontro entre os dois.Ainda em seu depoimento, o empresário diz que dias depois dessa conversa, o agricultor e PH, como é conhecido Pedro, se encontraram em seu balneário. Ele diz não saber por quanto tempo conversaram, nem quem seria a pessoa que teria a dívida com o fazendeiro. O balneário de Cosme, chamado Recanto Verde, fica na beira do rio Tocantins.Pedro Henrique é conhecido como pistoleiro na região de Porto Nacional e já possuía antecedentes por outros homicídios. Já Nei Castelli mora em Correntina, na Bahia, onde sua família possui uma grande fazenda de grãos. Os Castelli são uma família pioneira de Mamborê, interior do Paraná, onde também possuem propriedades rurais.No dia 21 de outubro, Cosme dirigiu seu Volkswagen Cross Up branco cerca de 760 km de Porto Nacional (TO) até Goiânia, transportando Pedro Henrique e Jaberson Gomes, de 24 anos. Jaberson teria sido contratado por PH para auxiliar nos assassinatos, segundo as investigações da Polícia Civil.Em seu depoimento, Cosme diz que deu carona para a dupla, mas alega que não sabia que Pedro iria matar os advogados. Imagens de câmeras de segurança mostram que o carro de cosme circulou pela capital entre os dias 21 e 25. O assassinato foi no dia 28. No dia em que foi preso, 9 de novembro, Cosme estava com o mesmo veículo que usou para transportar os executores.O empresário nega que tenha repassado recursos financeiros para que PH e Jaberson permanecessem em Goiânia até a data do crime. As investigações da Polícia Civil apontam que ele repassou dinheiro para a dupla antes e depois do duplo homicídio.No depoimento, Cosme só reconhece que no dia 7 de novembro teria recebido a visita de uma pessoa chamada Fabrício. Ele teria dito que PH precisava de R$ 10 mil e o empresário repassou R$ 5 mil, mas que seria um empréstimo.Ainda no depoimento, Cosme diz que no dia 29 de outubro, um dia depois do crime, Pedro Henrique foi até seu Balneário e confessou que matou os dois advogados em Goiânia. Um dia depois, PH foi preso pela Polícia Civil na casa da namorada, também em Porto Nacional, e Jaberson foi morto em confronto com a Polícia Militar do Tocantins.Ao ser interrogada no dia 9 de novembro, Hélica Ribeiro Gomes, namorada de PH e presa suspeita de envolvimento com o crime, afirmou que Cosme teria encomendado as mortes dos advogados. No mesmo dia foi expedido e cumprido um mandado de prisão contra o empresário, que foi encontrado em Palmas (TO).A reportagem entrou em contato, neste domingo (22), com o delegado responsável pela investigação, Rhaniel Almeida, da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. A previsão é que o inquérito do caso seja remetido ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) ainda nesta semana.AmeaçasUm dos advogados mortos no dia 28 de outubro em escritório no Setor Aeroporto, em Goiânia, Marcus Aprígio Chaves, de 41 anos, disse em conversa por WhatsApp para um interlocutor que temia “executar” (judicialmente) os Castelli. A conversa é citada em mandado de prisão contra Nei Castelli, suspeito de mandar matar dois advogados. “Mas, realmente, você não acha perigoso executarmos os Castelli? Eles mandaram matar você… não vão querer me matar também”, diz mensagem de Marcus para o interlocutor, que responde: “Faça um testamento e execute.” Marcus então responde: “Credo! Meus filhos precisam de mim aqui ainda… dinheiro não paga minha companhia.”O advogado e seu sócio, Frank Alessandro Carvalhaes de Assis, de 47 anos, também assassinado, representava Roberto Wypych em um processo de reintegração de posse contra integrantes da família Castelli, que se diziam proprietários de terras na divisa entre São Domingos (GO) e Correntina (BA). No final de 2019, Wypych ganhou a causa e decisão judicial previa que os Castelli pagassem 10% do valor da propriedade para os advogados de Wypych. O valor da fazenda é estimado em R$ 46,7 milhões. Segundo a decisão, além de perder a terra, os Castelli também perderam o direito de reaver benfeitorias que tinham feito na fazenda, como o preparo da terra para a plantação de soja e milho.Marcus era filho do desembargador Leobino Valente Chaves. O mandado contra Nei Castelli é do juiz Eduardo Pio Mascarenhas, da 1ª Vara Criminal dos Crimes Dolosos Contra a Vida e Tribunal do Júri de Goiânia.Suspeito identificado pela digitalO suspeito de envolvimento com a morte de dois advogados em Goiânia, Jaberson Gomes, de 24 anos, foi identificado pela Polícia Civil porque deixou uma impressão digital na sala onde as vítimas foram mortas. Já o suspeito Pedro Henrique Martins Soares, de 25 anos, foi descoberto porque se hospedou junto com Jaberson em um hotel. Eles forneceram seus nomes verdadeiros para fazer o cadastro. Além da impressão digital, Jaberson também foi reconhecido por uma testemunha. Dias antes do crime, Jaberson ligou na recepção do escritório das vítimas pedindo para marcar um horário. Em uma dessas ligações, forneceu um número de telefone que, segundo texto de mandado de prisão, foi um “importante elemento nas investigações.”Pedro foi preso no dia 30 em Porto Nacional (TO). No mesmo dia, Jaberson foi morto em confronto com a Polícia Militar de Tocantins.Uma denúncia anônima apontou Hélica Ribeiro Gomes como envolvida nas mortes dos advogados. Ela mora em Porto Nacional e namora Pedro. Ela teria conhecimento das mortes dos advogados e estaria auxiliando o namorado após o crime. No dia 30, Pedro foi localizado na casa de Hélica e preso. Na ocasião, foram encontradas uma arma debaixo do colchão, as roupas que ele teria usado no dia do crime e R$ 1,2 mil. Hélica foi presa no dia 9 de novembro, depois que foi determinada sua prisão temporária. Durante seu interrogatório, ela indicou o nome do empresário Cosme Tavares. TJ-GO nega soltura de suspeito de ser mandanteO desembargador Nicomedes Borges, da 1ª Câmara Criminal, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), negou o pedido de soltura para o agricultor Nei Castelli, de 58 anos, na última sexta-feira (20). Ele está preso preventivamente desde o dia 17, suspeito de mandar matar os advogados Marcus Aprigio Chaves, de 41 anos, e Frank Alessandro Carvalhaes de Assis, de 47. As vítimas foram assassinadas a tiros em um escritório no Setor Aeroporto, na tarde do dia 28 de outubro. A defesa de Nei deve recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na decisão liminar, o desembargador aponta que as argumentações dos advogados do agricultor devem ser avaliadas por um colegiado, ou seja, por um grupo de desembargadores. No entanto, ele adianta que em avaliação superficial e provisória verificou que a determinação da prisão preventiva atende critérios de legalidade. Os advogados de Nei defenderam que a prisão do agricultor foi baseada na previsão de que ele produziria provas contra si mesmo, depois de detido. O suspeito de ser mandante do duplo homicídio permaneceu em silêncio durante interrogatório na última quinta-feira (19). “Assim foi aconselhado pelos seus defensores, porque não tem integral conhecimento de todos os elementos de convicção já apurados no caso em apreço, posto que (...) os autos sigilosos não foram disponibilizados aos advogados”, diz trecho do pedido dos advogados. No pedido de habeas corpus, a defesa de Nei diz que a comoção gerada pelas mortes dos advogados está interferindo na aplicação do direito. Um exemplo, na visão dos advogados, é a nota pública da Associação de Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), divulgada no dia da prisão do agricultor, que parabeniza o trabalho da Polícia Civil. Os advogados interpretaram a nota como um pré-julgamento.“Essa confiança (no Judiciário), contudo, não deve evitar que se aponte a preocupação com o prejulgamento manifestado por uma entidade que congrega magistrados, sendo o “termômetro” que pode medir a temperatura do ambiente que se forma contra os interesses do paciente (Nei Castelli), que, independentemente de qualquer outra consideração de mérito, não pode ser despido das garantias que lhe são assegurados por lei”, afirma a defesa no pedido. Ainda no pedido de soltura, a defesa do suspeito alega que a prisão foi ilegal, porque não teria fundamentação hábil e concreta, sem precisar os indícios que justificam a prisão. De acordo com um dos advogados de Nei, Carlos Humberto Fauaze Filho, a defesa só teve acesso a parte do inquérito que investiga as mortes dos advogados. Os advogados defendem que, se houvesse alguma suspeita sobre o agricultor, ele deveria ter sido chamado para depor e não ser preso. “Se a autoridade policial, como afirma-se na decisão abjurgada, tinha elementos que apontavam na necessidade do investigado comparecer para colaborar com a investigação (se é que se pode obrigar um investigado a comparecer perante uma autoridade policial para prestar depoimento), não havia qualquer óbice a que ele fosse intimado a tanto, sem qualquer necessidade de decretação de ato tão invasivo à liberdade de locomoção”, argumenta a defesa no pedido de habeas corpus.Fauaze informou que o próximo passo da defesa será recorrer ao STJ. De acordo com sua página no Linkedin, ele trabalha no escritório Gabriel Portella & Pádua Ribeiro Advogados. Gabriel Portella Fagundes Neto é genro do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antônio de Pádua Ribeiro. A defesa de Castelli entrou com o pedido de soltura no dia 19. O agricultor foi preso no último dia 17 em Catalão, Região Sul de Goiás. Ele estava a caminho de Mamborê, interior do Paraná, onde sua família possui propriedades rurais. Dentro de seu veículo, um Toyota SW4, havia R$ 24 mil em espécie.