Antes de matar a pastora Odete Rosalina Machado da Costa, de 79 anos, na manhã de sexta-feira (14), o vendedor autônomo Matheus Macaubas Lima Santos, de 22 anos, acordou a mulher com quem morava em uma casa no Jardim Eli Forte, em Goiânia, com a mão na cabeça dela dizendo que estava “repreendendo o demônio” e a partir de então, bastante transtornado, começou uma série de agressões que culminou com o homicídio da religiosa. O relato é de Fernanda Lopes dos Santos, de 21 anos, sendo 5 destes ao lado de Matheus.Matheus foi preso em flagrante, sem roupa, minutos após matar a pastora, dentro de uma igreja que fica a cerca de 2 quilômetros de sua residência. O crime foi por volta de 5h da manhã. Fernanda, que também foi agredida e conseguiu na Justiça uma medida protetiva a seu favor, conta que há pelo menos dois dias ele já aparentava um certo tipo de transtorno.Em seu depoimento, a esposa de Matheus disse que já vinha sofrendo com agressões por parte dele, mas nunca o denunciou na polícia. Na quarta-feira (12), por volta das 18 horas, ele saiu com o carro dizendo que iria a um supermercado, mas retornou apenas às 10 horas da manhã do dia seguinte, “agitado, falando algumas coisas sem sentido” e com um “comportamento alterado e com as pupilas dilatadas”. Ela disse na delegacia que ele fazia uso de drogas, principalmente de maconha.Na noite que antecedeu o crime, a família de Matheus esteve na sua casa, por cerca de 40 minutos no começo da noite para orar junto com ele e a mulher. Quando foram embora, Matheus voltou a ficar agitado e Fernanda foi dormir, sendo acordada por volta das 3 horas da madrugada. Segundo a polícia, pouco antes de ela ir se deitar, o marido saiu sem dizer para onde.A mulher tem uma filha de seis anos, de um relacionamento anterior, que estava na casa vizinha, pertencente a uma familiar. Ela não deixou Matheus sair, momento em que ele ameaçou agredi-la. Fernanda correu até a cozinha, jogou as facas pela janela, viu Matheus quebrar a televisão, as janelas e um espelho, e depois ele escapando por uma das janelas quebradas. Ela foi atrás dele para impedi-lo que pegar a criança e viu quando ele e um tio entraram em luta corporal. Foi quando Fernanda levou um soco no rosto.Matheus ainda teria tentado entrar na casa onde estava a criança, ameaçando matar todo mundo, segundo Fernanda, mas após ser impedido pelo tio dela, fugiu sem rumo. Momentos depois, a família ficou sabendo do crime contra a pastora.Fernanda entrou com o pedido de proteção às 20 horas do dia 14. Três horas depois, a juíza Raquel Rocha Lemos, plantonista, concedeu as medidas protetivas, proibindo Matheus de voltar para a casa, se for solto até o julgamento, de ficar a menos de 200 metros da mulher e da criança, e de manter qualquer tipo de contato com ela, familiares dela e testemunhas.“Diante do relatado, não há dúvidas que o comportamento agressivo do representado, conforme descrito alhures, coloca em risco a segurança da vítima, sendo que, outro remédio não há, senão adotar as medidas protetivas”, escreveu na sentença.Testemunha Um borracheiro de 44 anos que acompanhava a pastora na igreja, ambos em oração, no momento do crime, disse na delegacia que Matheus chegou ao local transtornado, sem roupa, e gritando por uma pessoa chamada José. Após ouvir que não havia ninguém com esse nome, o rapaz deu um murro no portão, pulou o muro, quebrou a grade e ameaçou matar os dois.O borracheiro e a pastora começaram então a orar com o intuito de afastar Matheus da igreja. Foi quando ouviram o jovem dizer: “sai pra lá, crente de satanás”. Com uma barra de ferro, Matheus começou a tentar agredir as duas vítimas, que por um momento conseguiram sair da igreja. O borracheiro correu até a casa de familiares da pastora, a duas quadras dali, mas quando voltou acompanhado de ajuda, encontrou a pastora caída no chão, com ferimento na cabeça e muito sangue no chão.Matheus foi encontrado a cerca de um quilômetro da igreja, ainda sem roupa e, segundo um policial militar, começou a cuspir nos policiais, gritando que os contaminaria com Covid-19. Após ser detido, ele passou por audiência na Justiça e teve a prisão preventiva decretada.Suspeito se negou a falarO vendedor Matheus Macaubas Lima Santos deve ser ouvido só agora, no início da semana. Bastante transtornado, ele se negou a dar qualquer declaração, nem mesmo o nome, aos policiais no momento da prisão ou quando foi chamado para depor na delegacia. No Instituto Médico Legal (IML), ao ser levado para exames periciais, se recusou a vestir uma roupa oferecida pelos servidores e precisou ficar detido para a avaliação, devido a sua agressividade. Segundo a médica que assinou o laudo, ele apresentava falas desconexas.Dois policiais militares também estiveram no IML para exame de corpo de delito, com ferimentos ao tentar conter e prender Matheus. Todos com machucados leves.Imagens da igreja que constam no processo judicial mostram que o local ficou bastante destruído após a passagem de Matheus, com cadeiras quebradas, janela e a porta. Um pedaço da grade, de cor branca, foi arrancado e usado para matar a pastora. Segundo testemunha, Matheus arremessou o objeto para impedir que ela fugisse, acertando ela na cabeça.Um exame de sanidade mental deve ser feito para avaliar Matheus, a pedido da própria defesa, que tentou obter um habeas corpus, sem sucesso, para que ele respondesse ao processo em liberdade, com tornozeleira eletrônica. Para o Ministério Público (MP), as circunstâncias em que o crime ocorreu são justificativa mais do que suficiente para manter o vendedor preso.O juiz Leonardo Naciff Bezerra concordou com o argumento do MP e converteu a prisão em flagrante em preventiva: “Em razão da gravidade in concreto da conduta perpetrada e considerando ainda que o autuado cometeu o ilícito ao que tudo indica sob a influência de alguma substância psicotrópica em face de uma senhora de idade, sem condições de defesa, e por motivo, aparentemente, fútil, demonstra o grau de periculosidade do custodiado com patente risco à tranquilidade e paz no meio social, de maneira que, solto, trará risco à ordem pública.”-Imagem (Image_1.2387779)