A taxa de infecção da Covid-19 em Goiás voltou a ficar acima de 1,0, de acordo com cálculo feito pelo Observatório de Síndromes Respiratórias da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que realiza estudos sobre a pandemia em todo o País. O índice, que mede a capacidade de transmissão de um paciente infectado, chegou a 1,03 com dados até a última terça-feira (17), uma leve queda em relação ao cálculo da segunda-feira (16), quando a taxa chegou a 1,05. A última vez desta série histórica em que o índice tinha passado de 1,0 foi no dia 29 de outubro, com 1,02. Assim mesmo, especialistas que analisam a pandemia em Goiás pedem cautela à população e afirmam que ainda não se pode tirar conclusões sobre os cálculos.Isso porque os índices utilizados para a realização das fórmulas das taxas de infecção podem ser diversos, desde o número de casos, quanto de óbitos. O biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Alexandre Felizola Diniz Filho, que participa do grupo de pesquisadores que calcula a taxa aqui no Estado e que é usada pelas secretarias estadual e municipal de Saúde da capital, avalia que a situação atual é muito incerta. “Tivemos um apagão de notificações entre os dias 5 e 10 deste mês, não dá para dizer se estes dados destes dias já entraram no sistema, se são dados antigos, se dão dados acumulados”, diz.A explicação do pesquisador é que se os números utilizados pelo Observatório forem os divulgados pelos boletins, são dados acumulados, o que pode significar um aumento no Rt (que é a sigla utilizada para a taxa de retransmissão da doença), mas se forem os dados feitos a partir do dia da ocorrência, esse índice estaria ainda abaixo do real. “Está tudo muito incerto no momento e é assim em todo o País, em razão desse apagão no sistema do Ministério da Saúde. Vamos ter de esperar mais alguns bons dias para a gente saber a real situação. No momento, o que é possível dizer é que a população deve continuar tendo cautela, tomando os cuidados individuais necessários, com uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social.”Para o professor, apenas o cálculo utilizando a média móvel, que se baseia nos dados observados nas últimas duas semanas, não é suficiente para corrigir o apagão dos dados no sistema. A falta de alimentação do site do MS se deu após uma tentativa de invasão hacker no dia 5 de novembro. Para bloquear o acesso, o Ministério também dificultou que as prefeituras pudessem acessar o sistema, o que só foi restabelecido na última semana. “O que temos de correto é que desde setembro tínhamos o nosso R diminuindo. No fim de outubro estava em 0,86 para Goiás e 0,85 em Goiânia”, esclarece Diniz Filho.Além disso, o professor explica que uma subida da taxa não deve ser avaliada sem uma análise completa, pois o importante é verificar a tendência da curva. “Pode ser apenas um repique, pois existem mesmo variações. Temos de ver se seria isso ou uma subida sustentada. Mas no momento não conseguimos ver nada sobre a situação real.” Ele lembra que existe também um apagão dos conceitos da pandemia, já que não se ao certo como seria uma segunda onda, como se comporta a doença e o vírus ao longo do tempo.EsperaA superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, acredita que o cálculo da taxa de infecção a ser realizado na próxima semana, pelos pesquisadores da UFG, já terá uma base melhor para a análise da situação em Goiás. Ela conta também que os técnicos das prefeituras informaram, durante a reunião do Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública de Goiás, realizada nesta quarta-feira (18), que grande parte dos dados em atraso já foi publicada no sistema do Ministério da Saúde.“Temos que os últimos índices estão abaixo de 1,0 e isso é o mais confiável para a gente. Vamos aguardar mais um pouco, para a próxima semana, pois acredito que teremos dados mais confiáveis que os de agora e poderemos ter mais clareza da situação”, afirma Flúvia. Mesmo com uma nova subida, a superintendente explica que o ideal é que se mantenha abaixo de 1,0, pois assim mesmo indica uma diminuição da transmissão da doença entre uma pessoa infectada e outra saudável.Por outro lado, o InfoGripe, boletim semanal das síndromes respiratórias realizado pela Fundação Oswaldo Cruz, aponta que “Goiânia e Palmas apresentam sinal moderado de crescimento na tendência de curto prazo, indicando possível início do processo de interrupção da tendência de queda” para a Covid-19. O documento, com informações sobre todo o País, recomenda “cautela em relação a eventuais novas medidas de flexibilização e atenção às próximas semanas para confirmação da tendência.”O InfoGripe avisa ainda que Goiânia apresentou “sinal de crescimento na tendência de curto prazo” na semana anterior. No entanto, ressalva que não foi divulgado boletim na ocasião justamente pelo ataque à rede do Ministério da Saúde. Casos e óbitos continuam em quedaA superintendente da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, esclarece que, embora a taxa de transmissão ainda não seja tão clara neste momento de incerteza dos dados, os demais índices relativos à Covid-19 no Estado se mantêm em queda, o que leva os gestores a não apostarem em uma segunda onda da pandemia. “Pelos dados que temos hoje, ainda estamos em redução, tanto quanto aos casos, como óbitos e internações. O número diário de cada um destes ainda está cada vez menor.”O receio é que a subida da taxa de retransmissão possa indicar um aumento de casos, óbitos e internações, podendo ser entendido até mesmo como uma segunda onda da pandemia em Goiás. A divulgação dos índices de transmissão dos Estados no Brasil, com aumento em boa parte das regiões, tem alarmado as autoridades e a população. Alguns especialistas nacionais apontam que a segunda onda já tenha chegado ao País.Na terça-feira (17), o estudo semanal do Imperial College, uma universidade de Londres (Inglaterra), que tem compilado e analisado dados da Covid-19 dos países em âmbito mundial, verificou um aumento da taxa de transmissão no Brasil. No dia 10 de novembro, o índice calculado para o País foi de 0,68, o menor já verificado desde o mês de abril, enquanto que nesta semana o cálculo apontou 1,1. Válido ressaltar que o cálculo ocorreu entre as semanas em que o sistema do Ministério da Saúde apresentou problemas para o registro de casos e óbitos.Desde setembro, Goiás tem apresentado queda nos índices relativos à pandemia. No começo do mês, gestores da saúde afirmavam que não acreditavam em uma segunda onda na região, visto que as medidas de flexibilização das atividades foram feitas paulatinamente. Isso ocorreria desde que a população mantivesse as medidas de contenção. A tese é de que seja possível um segundo platô da doença, mas não o aumento elevado dos índices. “A gente espera que as pessoas respeitem as medidas de proteção. Temos visto que a maioria continua usando as máscaras, o que é positivo, mas também tem tido muitos locais prováveis de disseminação do vírus, como bares e festas e isso é preocupante”, diz Flúvia, ao lembrar que essas situações podem representar a piora nos índices da Covid-19.